Cartões de Revisita

Daniel Santiso e Max Willa Morais
22.03.2019 - 29.03.2019

Esta mostra é resultado de um programa de residências subsidiado que visa apoiar o desenvolvimento das práticas de artistas locais. Nossos agradecimentos aos curadores Bernardo José de Souza, Guilherme Altmayer, Leno Veras e Victor Gorgulho que colaboraram nesta primeira edição.

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Tempo Presente

É frente ao horror de 350 anos de escravidão no Brasil – reiterado cotidianamente a dias de hoje no extermínio da população negra pela necropolítica do estado – que as artistas Diambe da Silva e Tadáskía propõem, em levante de força decolonial, revisitar a prática das cartes de visite a partir de exercícios coletivos de autorrepresentação de corpas negrxs: o Estúdio Presente Léxico.

Em meados século XIX, com o advento da tecnologia fotográfica e sua reprodutibilidade técnica, surgiu no contexto da alta burguesia francesa a prática de troca das “cartes de visite”.

Estas ampliações retratavam membros de famílias abastadas o suficiente para contratar profissionais fotográficos em suas residências, fundamentais para a imagem pública das elites parisinas. A feitura destes cartões de visita eram publicitadas como serviços exclusivos, “oportunidade de distribuir você mesmo entre seus amigos, para que eles vejam sua melhor postura e expressão”.

Os registros se davam em estúdios que contavam com cenários cuidadosamente preparados para encenar os costumes de uma classe econômica específica, revelando o status social destes modelos. Sobre suporte de cartões de papel e identificadas com brasões e assinaturas, tais fotografias eram também remetidas via postal; um sistema simbólico de autorepresentações em nitrato de prata.

Os cartões de visita logo tornaram-se objetos de colecionismo, sendo organizados em álbuns de perfis que enredavam uma sorte de rede social destinada ao acesso de poucos. No Brasil, as cartes de visite foram muito bem recebidas pela aristocracia escravagista branca, bem como outras práticas imagéticas europeias que desejava emular a branquitude tropical.

Logo o veloz desenvolvimento das práticas fotográficas no Rio de Janeiro ocupou-se de eternizar os membros das famílias tradicionais brasileiras junto às suas tradições e propriedades, dentre as quais encontravam-se pessoas negras escravizadas, que ditas “parte da família”, eram retratadas de forma involuntária, sempre em condição, situação e/ou posição desumana.

Em alguns destes cartões de visita aqui revelados, vemos bebês brancos posados sobre os colos de mulheres negras: enquanto os pequeninos rebentos tinham seu longilíneos sobrenomes devidamente documentados nos versos, suas cuidadoras não eram nomeadas, apenas descritas como amas de leite – é bastante comum a descrição dessas pessoas somente pela função laboral.

Estas fotografias são, portanto, mais uma sórdida espécie de prova material das violências do olhar branco sobre corpos negros, reiteradamente objetificado num Rio de Janeiro que, em 1860, já era composto por 266 mil habitantes, sendo que 110 mil destes eram pessoas escravizadas – a maior concentração urbana de trabalhadores escravizados desde o fim do império romano.

No gesto operado por Diambe e Tadáskía, perante a herança de uma dívida impagável, dispõe-se uma instalação a partir da qual pessoas negras possam criar e se apropriar de seus próprios cartões de visita. Por meio da práticas de montação, enredam-se diálogos entre performances vogue e indumentárias afrofuturistas; língua yorubá e poses de Akinola Davies Jr, no Instagram; retratos de Seydou Keita, em Mali, e paisagens que a artista Laís Amaral, do Ateliê Trovoa em Niterói, criou como cenário para tombamentos.

Os primeiros frutos do estúdio estão expostos nesta mostra, como documentos e monumentos, na forma de três cartões de visita em grande formato, fotografadas por Clarissa Ribeiro e Mariana Cavalcanti, nas quais os artistas passam as faixas para seus convidades e pares – Aline Besouro, Crioula Criola, Sabine Passareli, Jandir Jr, Rainha Timbuca e Jo Vieira – que, reunidas em duplas, conformam os títulos OPEN GATES, inglês para “abre caminhos”; GESTO SIMPLE, castelhano para “gesto simples”; e AYÉ TUN TUN, yorubá para “novo mundo”.

O convite para posar convocou os corpos negros à colaboração, com ajuda de custos levantada via financiamento coletivo, sugerindo que todes compareçam com sua “roupa de sair”, nas cores vermelho, amarelo, verde, bege ou preto e adereços de sua preferência (calçados foram descartados da composição, no intento de anular marcações de classe, historicamente definidas pelo uso de sapatos, inacessíveis a pessoas escravizadas, reconhecidas por seus pés).

As ações, e suas ativações, desenvolvidas pelas artistas Diambe e Tadáskía nesta individual coletivizada reclamam o desenho de seu próprio imaginário e a escrita de sua própria história por meio de gestos simples, mas que abrem caminhos para novos mundos.

Guilherme Altmayer e Leno Veras
curadores

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Sobre as artistas

Diambe e Tadáskía vivem e trabalham no Rio de Janeiro. Suas pesquisas partem de narrativas invisibilizadas para afirmar memórias coletivas por meio de fotografias, textos e ações, no interesse de lidar com representações no campo social e estético. Durante residência na Despina, a dupla reuniu alguns desdobramentos de suas intervenções urbanas, no sentido de trazer a uma outra escala as situações geográficas, poéticas e políticas que, em seus procedimentos, projetam melhores condições de vida e de trabalho em uma sociedade estruturalmente colonial. Por meio da conjugação entre passado e futuro e partindo da relação com pessoas, territórios e saberes, as artistas buscam processos visuais como ferramentas para criar práticas compartilhadas.

Diambe da Silva (1993) é artista, cineasta e escritora. Formado pela Escola de Comunicação da UFRJ / Rádio e TV em acordo internacional com a Université Sorbonne Nouvelle UFR Arts et Médias. Seus trabalhos atuais são a colaboração na Residência Anarca Filmes (2018), no Espaço Saracvra; o fotolivro Livro-poeira (2018), como desdobramento do documentário experimental A poeira não quer sair do Esqueleto (2018), dirigido junto com Tadáskia e financiado pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro e Fundação Cesgranrio; e a ação 13+17 (2018) em parceria com Felipe Ferreira, Guilherme Altmayer, Maíra Barillo, Pâmella Liz e Rodrigo D’Alcântara, em exposição no Galpão Bela Maré. Pesquisa atualmente elementos da comunicação visual em relação à diáspora negra brasileira, em acervos públicos e privados, e desenvolve ações em torno de memórias coletivas.

Mais informações
http://cargocollective.com/diambe

Tadáskía (1993) é artista com desenvolvimento em linguagens das Artes Visuais e da Educação. Integra o Projeto Experiências Indiciais/UERJ, pelo qual realizou a produção executiva do seminário e mostra Entre a natureza e o artifício (2017-2018) do PPGArtes/UERJ; e pesquisa Educação e Culturas das Periferias pelo Instituto Maria e João Aleixo (2018). Organizou com Diambe da Silva e com Lorran Dias a Semana Cinerama, mostra independente de cinema e videoarte com colaboração da UFRJ, UERJ, Université Toulouse 2 e Centros Culturais no Rio de Janeiro, em 2016 e em 2017. Seu trabalho investiga histórias em acervos, situações geográficas e relações materiais/imateriais com pessoas e objetos, sobretudo referindo-se às memórias negras diaspóricas e familiares.

Mais informações
https://tadaskia.wixsite.com/portfolio

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Serviço
Exposição: Cartões de Revisita
Artistas: Diambe da Silva e Tadáskía
Período: De 22.03 a 29.03.2019
Onde: Despina (Rua do Senado, 271 – Centro)
Horário: das 10 às 19 horas
Entrada gratuita

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Galeria de fotos (navegue pelas setas na horizontal)

Dissenso e Destruição

Ana Lira, Danitza Luna e Felipe Rivas San Martín
14.06.2018 - 25.06.2018

Arte e Ativismo na América Latina – ano III (2018)

Neste terceiro ano do ciclo Arte e Ativismo na América Latina, nos propomos a pensar essas formas de ação como ferramentas políticas, capazes de sacudir discursos hegemônicos tidos como inabaláveis. Práticas que se originam em zonas de desconforto e desacordos, que emergem frente às urgências: discordâncias que confluem em combate às injustiças sociais e violências institucionalizadas – dissenso.

Tais descontentamentos evoluem por meio de ações estéticas e políticas de denúncia e contestação, articulando intenção de desestruturação das dominâncias por meio de gestos de reconstrução da percepção. Abrem, dessa feita, passagem para novas formas políticas de subjetivação – destruição.

Neste encontro de artistas latinx americanxs tornou-se evidente o quanto compartilhamos emergências sociais e, para além dos contextos específicos, fica claro o enorme abismo entre os vizinhos, visto a ínfima interlocução que estabelecemos entre nós. Celebramos, portanto, a possibilidade do encontro de Ana Lira (Brasil), Danitza Luna (Bolívia) e Felipe Rivas San Martín (Chile) tornar-se possível neste espaço e tempo.

Estes três artistas e ativistas, cujas práticas colaboram na diluição das fronteiras entre artes e ativismos, configuraram aqui uma mostra não apenas expositiva, mas, para além disto, realizada como um emaranhado em que diversas frentes de agenciamentos se entrelaçaram, desenvolvendo estratégias de atuação em rede, por meio de articulações coletivas para pesquisas conjuntas.

Ana Lira pergunta: porque ativamos mecanismos de politização a partir de uma linguagem militarizada? A artista, que decide não se colocar mais na linha de tiro da polícia em suas ações, propõe pensar um distanciamento de práticas bélicas, assim como a invisibilidade como lugar de articulação. Através de agenciamentos coletivos, produção de bandeiras e letreiros e intervenções na rua, propõe refletir sobre o quanto o desarmamento do verbo e a manutenção de redes de cuidado podem estabelecer meios não cooptáveis no fazer político.

Já o movimento anarco-feminista boliviano Mujeres Creando, aqui representado por Danitza Luna, propõe a pixação “Nossa vingança é sermos felizes” como uma metodologia para ativação política a partir do campo simbólico. Através de uma série de encontros com mulheres para práticas criativas, denominadas “Gráficas Feministas”, este processo produz confluências entre diversos enfrentamentos ao machismo. As participantes – muitas sem experiência prévia com produção gráfica – expressaram sentimentos e revoltas através de desenhos e escritos que resultaram em 75 cartazes, reunidos em um conjunto de impressos compartilhado entre as participantes, para serem distribuídos gratuitamente.

Enquanto isso, Felipe Rivas San Martin apresenta resultados de sua pesquisa “Homosexual Data”, sobre a construção do sujeito homossexual através do tempo (data) e de dados biométricos (data) a partir de dois ‘estudos’. O primeiro, de 1938, identificaria homossexuais (frequentadores da praça Tiradentes) a partir da forma triangular de seu conjunto de pelos pubianos, e o outro, de 2017, via algoritmos de reconhecimento facial. Oitenta anos os separam e, nesta revisão de arquivos do passado e do presente, o chileno denuncia o persistente desenho e controle do corpo das bixas, e nos convida a criar nossos próprios arquivos transviadxs.

O que se configura, por meio da convergência dessas múltiplas práticas discursivas, é uma plataforma que convida outros olhares e novas vozes para o diálogo e ação, em busca do compartilhamento de distintos modos de pensar e em direção ao reconhecimento das convergências e dissonâncias que nossas experiências diversas têm em comum.

Guilherme Altmayer
curador

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Para saber mais sobre os artistas e a terceira edição do Arte e Ativismo na América Latina, clique aqui.

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Fotos: Denise Adams e Frederico Pellachin

 

Noite Estranha: cuidado, convivência, agência

Matheusa Passareli e convidadxs
30.05.2018

Arte e Ativismo na América Latina – ano III

Ato-intervenção concebido por Sabine Passareli, Marta Supernova, Clarissa Ribeiro e Lorran Dias, em diálogo com a vida, obra e poética de Matheusa Passareli, artista negrx e não-binárix assassinadx aos 21 anos no Rio de Janeiro em abril de 2018.

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APRESENTAÇÃO

Como criar um espaço-dispositivo de convivência, que entenda a responsabilização e o cuidado – de forma não-romântica –, como práticas decoloniais à Culpa e ao Patriarcado, agindo como anticorpos contra uma ferida colonial intrínseca à sociedade?

Como a partir desta percepção, atravessar os ofícios em micro e macropolíticas possíveis para
1. um tensionamento das estruturas e imposições colonialistas
2. outras formas de sociabilização e alteridade, que compreendam o pensamento fronteiriço como um demarcador e conscientizador das diferenças entre “Eu” e “Outro”?

A quem cabe o quê, quando as mazelas sociais nos revelam as atrocidades dos processos históricos e entendemos que a subalternização, dominação e extermínio são mais do que fatos, legítimos processos contínuos? Como nos posicionar, sem nos isentar, da nossa parcela de responsabilidade sobre essas continuidades?

Quando problematizamos a histórica criação de símbolos, ícones, líderes e porta-vozes de movimentos sociais-midiáticos, descentralizamos as militâncias e ativismos, e construimos uma pauta partilhada que atravessa os caminhos de tod_s. Convidamos a olharem para seus limites que lhe garantam sua unidade, para entender suas conexões com o todo. Como garantir às vivências LGBT fronteiriças alguma estabilidade para formação profissional e circulação nessas cidades partidas que são as metrópoles, alimentadas por uma cultura de violência heterocisnormativa?

O mundo “pós-colonial”, em seu estágio capitalista global, com todas as suas superficialidades e sínteses de tempo-espaço está cada vez mais afetando a saúde mental pública e individual. Crises identitárias e representativas têm sido foco de discussões extensivas em um país cuja ferida colonial ainda se perdura de maneira extrativista, como no século XVI em diante.

O grande desafio parece ser encontrar ferramentas que tensionem as amarras capitalistas, possibilitem caminhos paralelos e posteriores à destruição do sistema vigente. Se a redistribuição da violência na luta anticolonial nos leva a processos destrutivos de símbolos e instituições, como lidar com o porvir? Ou, o que vem depois do fim do mundo?

Uma Noite Estranha de Cuidado, Convivência e Agência.

Lorran Dias
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Construir nossos corpos a partir dos encontros. Convivências extraordinárias. Momentos gloriosos. Nem mais, nem menos. Convivência. Como produzir confluências a partir do encontro com outros corpos-intervenção? Habitar harmonicamente se faz necessário em contextos de extrema crueldade. Os conflitos são necessários em momentos de crise, possibilitaremos juntas a transformação. O encontro de corpos mistérios. Quem nos vigia? Quem nos cuida? Quem nos acompanha? Proposições de intervenções visando a desconstrução do conforto. Encontro. Habitaremos um mesmo espaço e respeitaremos as diferenças. Não expeliremos outros corpos que se aproximem de nós. Humano vs trauma. Desconstrução do limite imagético do corpo. Vamos utilizar a Despina como um espaço informal de cuidado e intervenção. Para isso, iremos lançar mão da convivência como dispositivo ético, político e estético.

Não permitimos o desespero
os objetos nos conectam ao vazio
preenchido pela ausência do corpo
terminal de atravessamentos poéticos
a gritaria se faz necessária
não posso gritar
como me controlar?
ordem
você é a ordem
PERMITIDO TOCAR NOS CORPOS
a pele é sensível e pode machucar
limites da convivência
inferno
experiência de
memória
a ausência do corpo acaba com o objeto

Sabine Passareli

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Esta ação fez parte da programação da terceira edição do projeto Arte e Ativismo na América Latina, concebido e realizado pela Despina com suporte do Prince Claus Fund. Mais informações por aqui.

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AGENTES
Alexandre Rodolfo de Oliveira, Aline Beatriz, Aun Helden, Amandla Veludo, Ana Lira, Anarca Filmes, Anthonio Andreazza, Arlindo Oliveira da Silva , Augusto Bráz, Atelier Gaia e Luta Antimanicomial, Baby Alien, Beatriz Lopes, Bianca Kalutor, Clarice Correa, Clarissa Ribeiro, Coletivo Seus Putos, Consuelo Bassanesi, Dani Gues, Diambe da Silva, Danitza Luna, Enantios Dromos [SP], Érica Supernova, Felipe Espindola, Felipe Rivas, Frederico Pellachin, Frozen2000, Sabine Passareli, Gabriel Massan, Garotas Digitais, Gilmar Ferreira, Guilherme Altmayer, Igor Furtado, João Marcos Mancha, Jorge Maragaia, Leticia Santana, Lyz Parayzo, Lorran Dias, Lucas Afonso, Marielle Franco, Mario Celso Neto, Marta Supernova, Matheusa Passareli, Tadaskia, Natasha Ribas, Pablo Ferretti, Patricia Ruth, Qaete, Roberta Maria, Tertuliana Lustosa, Thayná Oliveira, Thaysa Paulo, Tombo, Ventura Profana, Yuji Romar, Yuri Landarin.

Imagens e edição: Lucas Afonso
Edição e finalização: Clarissa Ribeiro

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por Denise Adams

Este mesmo corpo

Carlos Martiel, Cristiano Lenhardt e Mariela Scafati
21.09.2017 - 20.10.2017

Arte e Ativismo na América Latina – ano II (2017)

O corpo negro, branco, feminino, masculino, queer, ganha contornos violentos, eloquentes, plásticos, festivos ou mesmo místicos nas proposições de Mariela Scafati, Carlos Martiel e Cristiano Lenhardt, artistas egressos respectivamente de Buenos Aires, Havana e Recife, cidades tão distintas quanto particulares nas suas manifestações culturais e em suas relações com o passado colonial, o presente de instabilidade política e o dia de amanhã repleto de incertezas.

Em pleno século XXI, a plasticidade atribuída aos homens é levada ao limite do suportável, quer na política, quer na natureza, tensionando noções de futuro e desafiando padrões de convivência social, num jogo de poder tão perverso quanto inevitável no curso do processo histórico travado pelo Ocidente em sua épica narrativa de conquista, poder e destruição. Neste contexto, o corpo é a célula mínima e máxima do organismo político, é a um só tempo a instância de resistência, de prazer, de sofrimento e de transcendência, capaz de carregar em si toda a história humana, individual ou coletiva. O corpo é posto à prova, ele demanda e oferta a dimensão do possível e do impossível em batalhas travadas no ritmo diário, desafiando as próprias leis de nossa sobrevivência.

Mariela Scafati, em sua estada no Rio de Janeiro, foi buscar interlocução com outros ativistas – feministas e transfeministas – para desenvolver seu trabalho de serigrafista queer (projeto que vem desenvolvendo há vários anos) em colaboração com o coletivo que está organizando uma manifestação de rua que ganhará corpo ao final do ano na Marcha das Vadias. Em paralelo, apresentou performances e realizou workshops nos quais explorou o corpo (o seu próprio, inclusive) como plataforma pública de comunicação, entendendo a “moda” e as t-shirts como estandartes políticos, como porta-vozes ambulantes de ideias que precisam ser expressadas, rejeitadas ou incorporadas ao debate coletivo.

Em sua ação final – A Vida se Impõe -, a artista apresenta um desfile no qual a palavra está indissociada do corpo, seus movimentos constituindo a articulação de um repertório político que conclama o povo a manifestar-se publicamente. Ao passo em que os figurinos com rabos de cavalo trazem animalidade e dão unidade a homens, mulheres e trans, indistintamente, as idas e vindas dos performers são seguidas pela mudança dos textos que Scafati articula numa espécie de teatro japonês kamishibai através de palavras. Humor e ironia ganham força nos projetos da artista que mobiliza corpos que falam (ou decidem calar-se), corpos que existem e tem de ser reconhecidos em sua integridade, física, estética e política. A vida é a grande experiência política, a convivência a grande estratégia de sobrevivência, e o corpo é uma festa!

Carlos Martiel, artista cubano que vive entre a Ilha e Nova York, vai desenvolver três performances ao longo de sua residência no Brasil. Dando seguimento a uma pesquisa artística que parte de seu próprio corpo para questionar a maneira como nos relacionamos com a raça negra e seu passado de dominação tanto física quanto econômica, na Despina ele também vai investigar a questão indígena em “Lamento Kayapó” – assunto constantemente posto em segundo plano pela agenda política brasileira, até mesmo por aquela de esquerda -, o aspecto servil do trabalho negro em nosso país (em “Fonte de Energia”) e a violência praticada pelo Estado em sua rotina de atentados a essa etnia em nome do combate ao crime e da preservação da ordem social (em “Bala Perdida”).

Suas performances levam ao limite nossa tolerância ao sofrimento, nossa capacidade de observar, lidar e conviver com as atrocidades praticadas rotineiramente no trato das vidas marginais, vulneráveis e ignoradas pelo poder público e por setores afluentes da sociedade. Neste sentido, o aspecto plástico e gráfico de suas ações fazem com que conteúdos sublimados pelo debate coletivo sejam gravados indelevelmente em nossas curtas e seletivas memórias, tornem-se imagens inafastáveis de nossa, no mais das vezes, pueril consciência política, a qual dá corpo a combativos e inflamados discursos não raro à revelia das realidades mais atrozes e violentas a se impor no plano cotidiano dos setores mais vulneráveis do corpo social.

Em “Fonte de Energia”, Martiel torna-se um artista ausente do vernissage do projeto Arte e Ativismo na América Latina, reproduzindo a invisibilidade negra na sociedade brasileira ao assumir o papel de um serviçal que oferece ao público os salgadinhos que celebram a abertura de uma nova exposição. Ao esconder-se do público atrás de uma parede, e deixar que sejam vistas apenas suas mãos negras segurando uma bandeja, o artista nos confronta com a rotineira relação que o país estabelece com os negros, ignorando as individualidades por trás da força de trabalho que move nosso país e o mundo, e tornando o ato de consumo corriqueiro uma atividade a um só tempo perversa e constrangedora.

No contexto das discussões políticas sobre o corpo (ou os corpos) propostas neste segundo ano de Arte e Ativismo na Despina, Cristiano Lenhardt vai girar a chave do discurso político lançando uma nova mirada sobre o corpo, buscando incorporar outros matizes a um debate via de regra unidimensional, que tem na carnalidade dos indivíduos sua expressão mais concreta, tratando do corpo como se essa fosse a única dimensão possível para se falar da vida. Ao pensar os afetos que movem os corpos, e a dimensão espiritual de vidas que existem para muito além da materialidade absoluta, Lenhardt sinaliza a carga emocional que nos mobiliza e orienta nossa busca individual e coletiva por felicidade ou mesmo por um sentido para nossas precárias vidas.

Em uma performance musical que mistura corpos a imagens – “Declaração” – em uma ação coletiva, o artista busca alcançar um “nirvana” espiritual que amalgama corpo e alma, que dá voz aos ímpetos inomináveis da espécie humana, relativizando gêneros e corporalidades, constituindo uma batalha astral tão utópica quanto descolada das coisas terrenas e finitas, commodities manipuláveis pelos mercados, discursos, mídias e outras esferas de poder.

Bernardo José de Souza
curador

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Para saber mais sobre os artistas e a segunda edição do Arte e Ativismo na América Latina, clique aqui.

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por Denise Adams e Frederico Pellachin

 

 

Os corpos são as obras

Andiara Ramos, Ana Matheus Abbade, Anitta Boa Vida, Biancka Fernandes, Bruna Kury, Camila Puni, Carlos Motta, CasaNem, Coletivo Xica Manicongo, Eduardo Kac, Evelyn Gutierrez, Fabiana Faleiros, Fabio Coelho, FROZEN2000, Gabriel Junqueira, Indianare Siqueira, Katia Flávia, Kleper Reis, Lampião da Esquina, Luana Muniz, Lyz Parayzo, Maurício Magagnin, Mayara Velozo, Matheusa Passareli, Nathalia Gonçales, Odaraya Mello, Raquel Mützenberg, Ricardo Càstro, Tertuliana Lustosa, Turma Ok, Uhura Bqueer, Vagner Coelho, Ventura Profana & Jhonatta Vicente, Victor Arruda, Vinicius Rosa, Vítor Franco, Wescla Vasconcellos e Xanayanna Relux.
27.06.2017 - 04.08.2017

Arte e Ativismo na América Latina – ano II (2017)

Em 1970, na abertura do 19º Salão Nacional de Arte Moderna (MAM-RJ), o artista Antonio Manuel se despiu e desfilou seu corpo nu pelo espaço, para apresentar seu corpo como uma obra que, mesmo não sendo selecionada pelo juri, ficou marcada como protesto contra as ações repressivas da ditadura militar – “um exercício experimental da liberdade”, nas palavras do crítico de arte Mário Pedrosa. Desde então, muitas foram as narrativas criadas em torno de “o corpo é a obra”, porém poucas mencionam que o artista executou a ação ao lado de outro corpo, semi nu: o de uma mulher, negra, de nome Vera Lúcia Santos.

Enquanto isso, do outro lado da rua, a Divisão de Censuras da Diversão Pública (DCDP) proibia explicitamente a participação de travestis em espetáculos e bailes de carnaval, entre outras ações repressivas executadas para garantir a preservação da “moral e bons costumes”, valores reacionários que alicerçam a “família-cristã”. Na literatura, a escritora Cassandra Rios teve 36 de suas obras censuradas sendo duramente perseguida. Na televisão, o programa ‘Denner é um luxo’ foi vetado por ser, segundo documento oficial, “tóxico para a juventude e que falta firmeza homérica em sua ausência total de masculinidade”.

Desde então, muita coisa mudou, mas nem tanto assim. Neste encontro estão presentes corpos sobre os quais regimes ditatoriais nunca deixaram de incidir, em diferentes medidas e desmesuras. Ditaduras que ganham novas formas, acobertadas pela falácia de uma democracia que serve ao patriarcado branco. Corpos atravessados por práticas normativas de uma sociedade classista, racista, patriarcal, machista, homolesbobitransfóbica que insiste em controlar nossos afetos, bucetas e cus.Assim sendo, este encontro propõe um diálogo entre algumas propostas dos anos 1970 e 1980 e uma geração de artistas e ativistas no Rio de Janeiro de hoje, trabalhando e repensando a ideia dos corpos-obra e obras-corpo como ferramenta política para desestabilizar normas e discursos hegemônicos. O título da exposição, que pluraliza o nome da obra a partir da qual esse debate é proposto, convoca a pensar em todos os corpos invisibilizados pela história, incluindo os muitos que não estão aqui presentes ou representados, pela história como ela nos foi contada.

Um chamamento à navegação por entre-lugares de corpos nus, cronologias de liberdade, jornais, zines, canais de YouTube, lambe-lambes, reforçadores de unhas, manifestos, pinturas, faixas e cartazes, colares, pós-pornografia, cordéis, práticas do corpo, quadrilha junina, técnicas de autodefesa, práticas de naturismo, pornopiratarias, perfomatividades e troca de afetos.

Por meio de proposições que nos convocam a pensar dissidências como potências representativas de resistências estéticas – enquanto movimentos de (re)fazer a si próprix, a um só tempo singular e múltiplo – passados e futuros se fazem presentes, em propostas polimórficas que confrontam e violam discursos normativos como ferramenta descolonizadora dos próprios corpos: ações micropolíticas de configuração de subjetividades transviadas.

Depressa, por favor, é tarde!

Guilherme Altmayer e Pablo Leon de la Barra

Esta exposição fez parte da programação da segunda edição do projeto Arte e Ativismo na América Latina, concebido e realizado pela Despina com suporte do Prince Claus Fund. Para mais informações. clique aqui.

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PROGRAMAÇÃO DA ABERTURA

Ação de Vitor Franco do Canal TransPosição
Ocupação Sertransneja com leitura de cordel e quadrilha do Coletivo Xica Manicongo
Bankinha de pornopirata, com Bruna Kury
Alimenta Docuvenda: salgados laricas por Anitta Boa Vida e Odaraya Mello
Pi Kombucha Tropical / colaboração consciente revertida para o Programa PreparaNem

PROGRAMAÇÃO AO LONGO DA EXPOSIÇÃO

01 de julho / 10.30h
Oficina 0800 de auto-defesa a partir da técnica tailandesa Muay Thai. Com os grão-mestres Vagner Coelho e Fabio Coelho. Mais informações, por aqui.

04 de julho / 16h
Performance: Maiêutica, com Raquel Mützenberg. Mais informações, por aqui.

04 de julho / 19:30h
Pós-pornografia: Cine Clube Despina – curadoria e bate-papo por Andiara Ramos, Nathalia Gonçales e artistas. Mais informações, por aqui.

25 de julho / 19h
Noite de corpos nus: nu mandatório, celebrando cem anos de Luz del Fuego, fuxico e práticas do corpo com Guilherme Altmayer e Kleper Reis.

27 de julho / 19h
NAVALHA: Manicure show com Ana Matheus Abbade e convidadxs. Mais informações, por aqui.

04 de agosto / 20h
FINISSAGE: Encontro com artistas e marcha para o “Turma OK”, para noite de bingo, show com os melhores da casa em homenagem a Luana Muniz. Mais informações, por aqui.

SERVIÇO
Exposição “Os corpos são as obras’”
Curadoria: Guilherme Altmayer e Pablo León de la Barra
Com obras e registros de: Andiara Ramos, Ana Matheus Abbade, Anitta Boa Vida, Biancka Fernandes, Bruna Kury, Camila Puni, Carlos Motta, CasaNem, Coletivo Xica Manicongo, Eduardo Kac, Evelyn Gutierrez, Fabiana Faleiros, Fabio Coelho, FROZEN2000, Gabriel Junqueira,  Indianare Siqueira, Katia Flávia, Kleper Reis, Lampião da Esquina, Luana Muniz, Lyz Parayzo, Maurício Magagnin, Mayara Velozo, Matheusa Passareli, Nathalia Gonçales, Odaraya Mello, Raquel Mützenberg, Ricardo Càstro, Tertuliana Lustosa, Turma Ok, Uhura Bqueer, Vagner Coelho, Ventura Profana & Jhonatta Vicente, Victor Arruda, Vinicius Rosa, Vítor Franco, Wescla Vasconcellos e Xanayanna Relux.
Abertura: 27 de junho, a partir das 19:00 (Exposição continua até 4 de agosto)
Visitação de terça a sexta -feira, das 11 às 19 horas
Local: Despina
Crédito da imagem: Eduardo Kac – Manifesto de Arte Pornô
Entrada gratuita

GALERIA DE FOTOS (navegue pelas setas na horizontal)
por Raquel Romero-Faz e Frederico Pellachin

 

o terceiro mundo pede a bênção e vai dormir

Ana Matheus Abbade, André Parente, Bárbara Wagner, Cristiano Lenhardt, Daniel Lie, Dominique Gonzalez-Foerster, Guerreiro do Divino Amor, Guga Ferraz, Hélio Oiticica, José Agrippino de Paula, Priscila Fiszman, Raphael Tepedino, Rogerio Sganzerla, Traplev, Vivian Caccuri, Walter Smetak
31.05.2017 - 21.06.2017

Tropicália, agora
Victor Gorgulho

Acachapante e implacável, o olhar nostálgico passa seu rolo compressor no tempo e planifica a pluralidade de versões de um episódio histórico. Em 2017, celebram-se cinco décadas do momento tropicalista, cercado de festejos vazios em propósito e anêmicos em sua capacidade de revisão crítica. Desde a primeira apresentação de Tropicália, o penetrável de Hélio Oiticica, na ocasião da exposição Nova Objetividade Brasileira no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em abril de 1967, são múltiplos os afluxos narrativos que tentam dar conta deste prolífico instante de vanguarda da cultura brasileira.

No entanto, nem mesmo Oiticica poderia imaginar o alcance da sua vontade de objetivação e síntese de uma imagem “obviamente brasileira”. Fagocitado e cuspido milhares de vezes pelo voraz establishment burguês, o mito da tropicalidade ainda paira sobre nós como uma nuvem espessa e opaca. Vale lembrar que, em Tropicália, ir além das araras e bananeiras indicava, antes de tudo, um “não condicionamento às estruturas estabelecidas”. Well, eternamente exotizados pelo Norte, os trópicos talvez já não se contentem mais com a limitação da alcunha do paraíso idealizado.

Ainda assim, sabemos que nestas bandas de cá do hemisfério Sul, nem o delírio e nem a melancolia são os nossos estados mais naturais, mas sim a convulsão, a ebulição permanente. Inebriado pelo sol e pela cachaça, o homem tropical padece de uma miríade de problemas em seu sistema digestivo mas permanece em busca de sua borrada e disforme identidade.

As obras presentes em o terceiro mundo pede a benção e vai dormir tomam coletivamente o momento tropicalista não como um ponto de partida mas sim como um ponto de inflexão. Desviando do olhar canônico e acrítico, registros históricos e obras contemporâneas tecem entre si uma tentativa de leitura de Brasil, munidos de recursos caros ao tropicalismo: a ironia, o deboche, a afronta, a carnavalização, a gambiarra, a precariedade. Antropófago de si mesmo, o homem dos trópicos segue em seu contínuo processo de meta-deglutição, esfomeado, entre a vontade da saúde e o reconhecimento de sua debilidade.

Obras e registros de
Ana Matheus Abbade
André Parente
Bárbara Wagner
Cristiano Lenhardt
Daniel Lie
Dominique Gonzalez-Foerster
Guerreiro do Divino Amor
Guga Ferraz
Hélio Oiticica
José Agrippino de Paula
Priscila Fiszman
Raphael Tepedino
Rogerio Sganzerla
Traplev
Vivian Caccuri
Walter Smetak

Curadoria
Victor Gorgulho
 
Assistente de curadoria
Guilherme Marcondes
 
Design Gráfico
Fernanda Guizan
 
Montagem
Alexandre Rodolfo de Oliveira
 
Colaboração de montagem
Felipe Abdala
Iabah Bahia
Lucas Canavarro

Agradecimentos
Alexandre Gabriel, Bárbara Smetak, Bernardo José de Souza, Bernardo Mosqueira, Eugenio Puppo, Fortes D’Aloia & Gabriel, Jacqueline Lisboa, Laura Mello, Luisa Duarte, Marcia Fortes, Maria Catarina Duncan e Sinai Sganzerla.

Crédito da imagem (topo)
Cristiano Lenhardt
Guaracys, 2016
super 8, 10′

Serviço
“o terceiro mundo pede a bênção e vai dormir”
Abertura: 31 de maio, quarta-feira, às 19 horas
Exposição continua até 21 de junho
Horário de visitação: de terça a sexta-feira, das 11 às 19 horas.
Local: Despina | Largo das Artes
Rua Luis de Camões, 2 – Sobrado
Centro – Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita***

Galeria de Fotos (navegue pelas setas na horizontal, clique para ampliar)
por Frederico Pellachin

Responder a tod_s

Bex Ilsley, Cristiana Nogueira, Eduardo Montelli, Jonas Arrabal, José Nibra, Julia Arbex, Kasumi Dean, Kimberley Robinson, Laura-Anne Taylor, Leo Robinson, Luciana Miyuki, Mollie Milton, Nica Aquino, Nina Orthof, Rafael Adorján, Raquel Nava, Raquel Versieux, Samantha Evans, Tiago Sant'Ana, Wes Foster
27.04.2017 - 24.05.2017

“Responder a tod_s” é a segunda parte de um projeto de colaboração estabelecido em 2016 junto a Manchester School of Art (MSA), na Inglaterra. Devido ao Prêmio Marcantonio Vilaça de curadoria, Raphael Fonseca esteve como residente por três meses na referida instituição e organizou um projeto intitulado “Reply all”. A curadoria consistia em convidar dez artistas graduandos ou recém-graduados da universidade para dialogar com o mesmo número de artistas do Brasil e trabalhar em duplas. Durante o mês de julho, as dez duplas dialogaram virtualmente através de e-mails, mensagens e reuniões por vídeo e pensaram maneiras de colaboração criativa seja por afinidade formal, seja por interesse temático. Em agosto, por fim, foi mostrado na Grosvernor Gallery (espaço expositivo da MSA) uma exposição que era reflexo das experimentações possíveis a partir da distância e que coube aos alunos residentes na Inglaterra a instalarem.

“Responder a tod_s”, portanto, se trata de um retorno às mesmas parcerias de colaboração feitas, mas com a finalidade de produzir novos trabalhos. A central diferença agora é, então, em jogar a responsabilidade de montagem e instalação plástica das obras para os artistas residentes no Brasil que, novamente após um mês de diálogo virtual, ocupam o espaço da Despina com proposições que de nenhuma maneira precisam ser semelhantes àquelas apresentadas em Manchester.

Artistas participantes

  • José Nibra (MA Photography) + Jonas Arrabal (Rio de Janeiro)
  • Nica Aquino (MA Contemporary Visual Culture) + Luciana Miyuki (São Paulo)
  • Samantha Evans (BA Fine Art) + Cristiana Nogueira (Macapá)
  • Leo Robinson (BA Fine Art) + Tiago Sant’Ana (Salvador)
  • Mollie Milton (BA Fine Art) + Raquel Versieux (Crato)
  • Wes Foster (BA Photography) + Rafael Adorján (Rio de Janeiro)
  • Bex Ilsley (BA Fine Art) + Eduardo Montelli (Porto Alegre)
  • Kimberley Robinson (BA Fine Art) + Nina Orthof (Brasilia)
  • Kasumi Dean (BA Fine Art) + Julia Arbex (Rio de Janeiro)
  • Laura-Anne Taylor (BA Fine Art) + Raquel Nava (Brasilia)

Texto curatorial
por aqui

Serviço

“Responder a tod_s”
Curadoria: Raphael Fonseca
Assistente de curadoria: Ludmila Fonseca
Artistas: Bex Ilsley, Cristiana Nogueira, Eduardo Montelli, Jonas Arrabal, José Nibra, Julia Arbex, Kasumi Dean, Kimberley Robinson, Laura-Anne Taylor, Leo Robinson, Luciana Miyuki, Mollie Milton, Nica Aquino, Nina Orthof, Rafael Adorján, Raquel Nava, Raquel Versieux, Samantha Evans, Tiago Sant’Ana, Wes Foster
Abertura: 27 de abril, às 19:00
Exposição continua até 24 de maio
Visitação de terça a sexta -feira, das 11 às 19 horas
Local: Despina
Rua Luis de Camões, 2 – Sobrado
Centro – Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita

Crédito da imagem
José Nibra e Jonas Arrabal

Galeria de Fotos (clique na imagem ou navegue pelas setas na horizontal)
(por Rafael Adorján)



Gazua #946

Adriano Motta, Alexandre Colchete, Oliver Bulas, Pedro Victor Brandão, Zé Carlos Garcia.
31.03.2017 - 20.04.2017

Gazua #946 é a segunda ação expositiva da plataforma Gazua.

Gazua é uma plataforma de artistas que serve de veiculo para exposições, conversas e eventos. O objetivo é promover, entre artistas visuais e pessoas envolvidas em outras áreas de produção, rápido acesso a espaços de exposições e espaços não convencionais no Rio de Janeiro, bem como desenvolver formas de materializar projetos variados.

Os artistas que compõe GazuaAnton Steenbock, Pablo Ferretti e Rafael Perez Evans – têm ateliê na  Despina, base para a elaboração e realização de propostas para a pesquisa e desenvolvimento de projetos.

Os artistas que prticipam desta segunda ação são: Adriano Motta, Alexandre Colchete, Oliver Bulas, Pedro Victor Brandão e Zé Carlos Garcia.

***

– Não, não estou procurando nada –  respondeu o desconhecido a um Hannigan ainda sôfrego da escavação no terreno movediço da baixada.  – Bom, se você está perdido, não encontrará nada aqui nesta praia, senão eu e este cachorro morto.  

Perfurando a fina camada macerada ao longo de séculos por um brutalismo construtivo e natural, e debatendo-se agora contra raízes e pedras, Hannigan reencontrou uma espécie de interlocução, sem que a proferisse. Não há mais o que dormir. Não vemos o que vê o homem perfurador. Seus ouvidos têm conchas que isolam tímpanos e as imagens escondem-se lá. “Todo curador de cobra é curado, nem todo curado é curador de cobra.” Minutos antes essa frase ecoou sincopadamente a cada golpe de Hannigan no solo, palavras que foram ditas outrora por um desconhecido, em um encontro muito semelhante a esse, não muito longe desse mesmo ponto.

– Não quero criar problemas e sinto pelo seu cão.  Posso lhe ajudar a enterrá-lo. Não sabia que haviam praias particulares por esta região – disse-lhe o estranho.

Hannigan imediatamente pensou em um buraco grande o suficiente para um homem, e a tresvariada ideia de ceder-lhe a pá, sua única forma de defesa naquele…

***

“Gazua #946”
Artistas: Adriano Motta, Alexandre Colchete, Oliver Bulas, Pedro Victor Brandão e Zé Carlos Garcia
Abertura: 31 de março, às 19 horas
Exposição continua até 20 de abril
Visitação de terça a sexta -feira, das 11 às 19 horas

Local: Despina
Rua Luis de Camões, 2 – Sobrado
Centro – Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita

***

Galeria de Fotos (navegue pelas setas na horizontal)
por Anton Steenbock

 

 

 

Bison Caravan

Hilarius Hofstede, Berend Strik, Rob Birza, Valentijn van der Heide, Femi Dawkins, Noah Latif Lamp, Janine van Oene, Fleur Stoltenborgh, Tanja Ritterbex, OPAVIVARA! (Collective), Bernardo Ramalho (Collective) , Fabia Schnoor, Cabelo, Paulo Vivacqua, Vincent Rosenblatt, Paula Villa Nova, Ricardo Castro, Thiago Facina, Anitta Boa Vida, Anna Costa e Silva, João Penoni, Rodrigo Garcia Dutra, Marcio Resende Mendonça, Manoel Martins Neto, Jorge Costa, Pedro Rangel Almeida, Ernst Daniel Nijboer, Marc Kraus, Natália Brescancíni, Mariana Soares Leme, Anyi Lorena Nino, Maria Palmeiro, Matheus Passareli, Gian Shimada, Marcio Resende Mendonça, Daniel Gnattali, Guga Ferraz.
10.03.2017

Bison Caravan é uma escultura social formada por obras de arte que remetem à imagem de um búfalo e que viajam o mundo. Onde o “rebanho” para e descansa, acontece uma exposição e um festival.

Artistas locais e internacionais são convidados a criar coletivamente obras de arte que representem ou se relacionem com a imagem do búfalo.

O búfalo é uma metáfora para a conexão da arte com a natureza, ressonando nas teorias de Joseph Beuys, artista alemão que cunhou o conceito de esculturas sociais.

A caravana já passou pela Dinamarca, França, Holanda, Polônia, Mali e Canadá, incorporando trabalhos de mais de 300 artistas.

Bison Caravan viaja por uma uma trilha imprevisível em que as obras de arte estão unidas pelo espírito de grupo e por artistas de diferentes continentes; eles unem ao mesmo tempo em que destróem fronteiras e separações criadas pela história humana.

O projeto foi conceitualizado pelo artista holandês Hilarius Hofstede e conta com um financiamento parcial do Mondriaan Fonds. Tendo em vista o seu caráter nomâde e o diálogo entre cultura e natureza, a Bison Caravan traz uma contribuição aos debates atuais sobre políticas de (i)migração e sustentabilidade.

Como funciona? Durante a Bison Caravan Rio 2017, artistas locais são convidados a formar um “rebanho”, juntamente com um grupo de artistas holandeses. A ideia é criar obras inspiradas na imagem do búfalo e posteriormente doá-las, para que passem a compor uma coleção universal. Essas obras produzidas nunca poderão ser vendidas, reforçando o poder ilimitado da arte, que ultrapassa os limites da política, da economia ou da religião. Bison Caravan é uma fundação autárquica. Depois de ter viajado pelo mundo, a coleção será eventualmente doada a uma causa ameríndia.

Entre os dias 7 e 9 de março de 2017,  o processo colaborativo entre artistas holandeses e brasileiros acontece nos ateliês da Despina, onde os participantes poderão se reunir e trabalhar na concepção e no desenvolvimento das obras. Todo esse processo culmina em uma mostra multidisciplinar no dia 10 de março, aberta ao público.

Programação Geral – Bison Caravan Rio 2017

04/03 (16h-20h): Pós-Carnaval Paleolítico – Arte Clube Jacarandá – Vila Aymorés,  Glória.

06/03 (17h -20h): Seminário Bison Caravan/Esculturas Sociais na Casa França-Brasil, Centro.

07-10/03 (13h-17h): Residência colaborativa na Despina, Centro.

08/03 (21h-23h): Festival Música da Alma (Mulher Búfalo Branco) no Bar Semente, Lapa.

10/03 (20h – 23h): Mostra Bison Caravan Brasil Epiphany, na Despina, Centro.

Serviço

Bison Caravan Rio 2017
Ocupação-residência + mostra final
De 7 a 10 de março, na Despina
Mostra final: 10 de março, a partir das 19 horas
Rua Luis de Camões, 2 – Sobrado
Centro – Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita

Mais informações
http://bisoncaravan.com

Artistas participantes
Hilarius Hofstede, Berend Strik, Rob Birza, Valentijn van der Heide, Femi Dawkins, Noah Latif Lamp, Janine van Oene, Fleur Stoltenborgh, Tanja Ritterbex, Fabia Schnoor, Cabelo, Paulo Vivacqua, Vincent Rosenblatt, Paula Villa Nova, Ricardo Castro, Thiago Facina, Anitta Boa Vida, Anna Costa e Silva, João Penoni, Rodrigo Garcia Dutra, Marcio Resende Mendonça, Manoel Martins Neto, Jorge Costa, Pedro Rangel Almeida, Marc Kraus, Natália Brescancíni, Mariana Soares Leme, Anyi Lorena Nino, Maria Palmeiro, Matheusa Passareli, Gian Shimada, Marcio Resende Mendonça, Daniel Gnattali, Guga Ferraz, Anápuáka Tupinambá, Denilson Baniua, Rob Post, Natalia Machiavelli, Joana Silleman.

Intervenção musical
Simone Sou, Xarlô, Maria Luiza, Kynnie Williams, Ana Sucha, Jana Linhares, Natalia Machiavelli e Paula Villa Nova

Realização
Fundação A Hora do Brasil
Luana Ferreira e Chantal Van Erven Dorens
CARP Brazil – Contemporary Art Research and Projects
LF / PR

Patrocinador
Mondriaan Funds

Apoio
Consulado do Reino dos Países Baixos no Rio de Janeiro

Parceiros – Bison Caravan Rio 2017
Despina, Arte Clube Jacarandá, Casa França-Brasil (Governo do Estado do Rio de Janeiro), Bar Semente, Cerveja Paquetá.

parceiros