Exposição IRAN-RIO ART CONNECTION

Ali Zanjani, Amin Aghaei, Farnaz Jahanbin, Shadi Ghadirian
25.09.2014 - 31.10.2014

O universo heterogêneo dos artistas que participaram desta exposição – que marcou o encerramento do projeto “Iran_Rio Art Connection” – ilustra a diversidade de referências a informar a atual prática artística no Irã.

O cenário contemporâneo daquele país parece construído como uma colcha de retalhos que justapõe a nostalgia pelo passado a um presente aparentemente intransponível, no qual a arte contemporânea e as conexões com o Ocidente funcionam como escape a uma realidade permeada pela guerra e pela violência nos mais diversos níveis.

Neste contexto, Shadi Ghadirian exibiu uma serie de fotografias que, a exemplo das naturezas mortas flamencas, ou mesmo das imagens de revistas de moda atuais, combinaram objetos de fetiche do mundo do consumo ao arsenal bélico presentes no imaginário contemporâneo forjado pela mídia; Amin Aghaei explorou conceitualmente em pintura, vídeo e fotografia o olhar fracionado, embotado e caótico de quem experimenta a guerra; Ali Zanjani, partindo de imagens de arquivo fílmico 16 mm, combinou referências à mulher iraniana de ontem e hoje na série “Gravidez Estática”, um grande painel reapropriacionista que captura a beleza feminina ao passo em que tangencia o contraste entre a representação da mulher velada no Oriente Médio e a exposição dos atributos femininos no Ocidente; já Farnaz Jahanbin fez uso de banners reproduzindo imagens emblemáticas da história antiga e moderna do Irã para fazer intervenções gráficas em pintura com a tradicional caligrafia daquele país, aproximando-se paradoxalmente da street art produzida no Ocidente.

O projeto “Iran_Rio Art Connection” foi uma iniciativa da Despina – Largo das Artes que contou com o suporte da instituição holandesa Prince Claus Fund. Durante o mês de setembro de 2014, quatro representantes de uma nova geração de artistas iranianos ocuparam os ateliês do Largo das Artes para participar de uma residência artística especial no Rio de Janeiro. Uma série de eventos e atividades paralelas aconteceram simultaneamente ao período da residência com o intuito de fortalecer o diálogo inter-cultural e promover o trabalho em rede entre artistas do Oriente Médio e do Brasil.

Na ocasião da abertura da exposição, ocorreu um concerto de música tradicional Persa com a participação da artista Farnaz Jahanbin e do pianista Tomas Gonzaga.


Sobre os artistas

ALI ZANJANI é um artista iraniano que vive entre Dubai e Teerã. Os seus trabalhos refletem sobre a herança sociocultural do Irã ao longo das agitadas transformações políticas que ocorreram no país nos últimos 35 anos. Destaque para uma série bem humorada que inclui registros fotográficos de praticantes da luta livre, o esporte nacional iraniano. O esporte também faz parte de uma outra série, criada com base em fotografias perdidas de um time de basquete feminino, pré-revolução de 1979. Estas imagens de mulheres sem a burca são únicas e estritamente proibidas no regime político atual do Irã. Desde 2011, Ali trabalha com o Museum Salsali de Dubai. Em 2012, teve o seu trabalho selecionado pelo Museu de Arte Contemporânea de Teerã e pela Feira de Arte de Beirute. Atualmente, o artista tem se dedicado a inúmeros projetos, incluindo “Live Moment of Wrestling”, “Life Is Too Short”, “Show Off” e “Just Between Us”.

AMIN AGHAEI nasceu no Irã em 1982 e passou a infância sem uma moradia fixa, deslocando-se com a família pelo país devido à guerra Irã-Iraque (1980-1988). Esta natureza itinerante fez com que ele descobrisse o desenho, que acabou funcionando como uma válvula de escape às condições adversas por que passava. Quando seus pais puderam finalmente se estabelecer num local fixo, Amin conseguiu se concentrar mais em sua arte. Com a repressão política no Irã, começou a desenhar caricaturas e este estilo logo tomou conta de suas pinturas, por isso o tom crítico e humorístico de seus trabalhos. Além do desenho e da pintura, as suas práticas também compreendem escultura e vídeo. A obra de Amin assume um realismo mágico com uma temática sui generis para o Irã, daí este artista ter sido uma escolha unânime do comitê de seleção para este projeto. Para mais informações, visite: http://aminaghaei.com/

FARNAZ JAHANBIN é uma artista iraniana reconhecida internacionalmente, que utiliza a escrita persa e árabe para criar interpretações modernas da antiga arte da caligrafia. Suas pinturas têm formas abstratas e apresentam interpretações mais tradicionais dessas escritas. Farnaz é também uma cantora clássica persa. Como mulher em seu país, ela não tem permissão para se apresentar na frente de um público misto. No Rio de Janeiro, porém, a artista irá fazer uma apresentação pública, como parte da sua residência. Para mais informações, visite: http://www.saatchiart.com/account/profile/175218 

SHADI GHADIRIAN é uma importante artista iraniana cujo trabalho já foi exibido em grandes museus e galerias pelo mundo, incluindo o Museu de Belas Artes de Boston e o Los Angeles County Museum of Art. Nascida em 1974 no Teerã, Shadi estudou fotografia na Azad University. A sua prática artística busca refletir sobre as questões que envolvem o tradicional e o moderno na cultura do seu país, principalmente a questão da mulher muçulmana no Irã, um assunto que ainda repercute em todo o mundo. Em “The Qajar Series”, realizada entre 1998 e 2001, Shadi fotografou mulheres vestidas com roupas tradicionais “Qajar”, justapostas com objetos modernos típicos da cultura ocidental, como um “boom box” ou uma lata de Coca-Cola. Já na série “Como todos os dias”, produzida logo depois de se casar, Shadi revela de maneira crítica e irônica a rotina mundana e repetitiva que é reservada à maioria das mulheres em seu país. Estes trabalhos evidenciam a preocupação da artista em destacar o papel das mulheres iranianas dentro de uma sociedade em permanente conflito entre a tradição e a modernidade. Para mais informações, visite: http://shadighadirian.com/

 

Galeria de fotos

 

“Iran-Rio Art Connection”
por Bernardo José de Souza
Curador associado ao projeto

Compreender o contexto histórico, cultural e político do Oriente Médio constitui um tremendo desafio a qualquer brasileiro que venha a se debruçar sobre a região, quer seja buscando explicações para os conflitos locais que incidem – senão de maneira direta, ao menos transversa – sobre sua própria realidade ou mesmo tentando estabelecer relações entre repertórios culturais e artísticos aparentemente tão diversos quanto os ocidentais e orientais.

Esta última foi uma de minhas tarefas ao ser convidado pelo Largo das Artes a prestar suporte curatorial à realização de um dos mais relevantes projetos a figurar na agenda carioca em 2014. Mediante financiamento do Prince Claus Fund for Culture and Development, a Iran-Rio Art Connection, ora ocupando aquele espaço, tem como objetivo estreitar laços entre Brasil e Irã, países não apenas distantes geograficamente mas apartados culturalmente por um complexo midiático avesso ao trânsito de informações desprovidas do parti pris ideológico adotado pelos canais hegemônicos de comunicação.

Embora sejamos permanentemente expostos a imagens altamente belicistas provenientes do Oriente Médio, raras vezes somos contemplados com análises éticas e bem fundamentadas sobre os eventos que respingam sobre o conjunto do mundo ocidental. Habituamo-nos a perceber a região como um bloco uno mantido à ferro e fogo pelo fundamentalismo islâmico, largamente responsável por alguns dos mais candentes conflitos ocorridos nos séculos XX e XXI. Na melhor e mais esclarecida das hipóteses, fomos capazes de entender que tais conflitos e intifadas são resultado não apenas dos regimes teocráticos que controlam a região, mas sobretudo do esquartejamento étnico e geográfico promovido por colonizadores europeus durante as duas grandes guerras. As razões para tal, tampouco desconhecemos: virtualmente, infinitas jazidas de gás e petróleo lá localizadas, ambos combustíveis essenciais à manutenção da economia capitalista em seu estágio atual.

Como a tentativa de exaurir esta argumentação se revelaria tarefa desmedida ou mesmo despropositada neste contexto, após brevíssimo preâmbulo de viés sociológico, atenho-me às questões específicas deste inaudito projeto no cenário artístico nacional, via de regra ensimesmado ou atento apenas à produção cultural do eixo hegemônico. Antes disso, porém, vale esclarecer alguns pontos quanto ao modus operandi de tal empreitada.

Após estabelecer contato com instituições e agentes culturais do Irã e arredores, o Largo das Artes elencou nomes representativos da produção artística contemporânea daquele país para participar de uma residência no Rio de Janeiro. Dois deles, Shadi Ghadirian e Farnaz Jarhanbib – escolhidos de antemão por Consuelo Bassanesi e Leila Lak, as idealizadoras do projeto – são artistas relativamente bem estabelecidas, com exposições em espaços de reconhecida importância, como o Victória & Albert Museum e o Los Angeles County Museum of Art, por exemplo; já Ali Zanjani e Amin Aghaei, estão em princípio de suas trajetórias e foram selecionados por um comitê curatorial que incluiu, além de mim, Marta Mestre, Daniela Labra, Miguel Sayad e Ernesto Neto.

O universo heterogêneo de artistas que compõem a presente exposição ilustra a diversidade de motivações e referências a informar a atual prática artística no Irã. Neste sentido, o cenário contemporâneo do país bem pode ser visto como uma colcha de retalhos que justapõe a nostalgia pelo passado a um presente aparentemente intransponível, onde a arte contemporânea e as conexões com o Ocidente funcionam como escape a uma realidade local permeada pela guerra e pela violência nos mais diversos níveis. Por conta disso, a mostra em cartaz é menos fruto de uma curadoria precisa sobre determinado aspecto da produção artística do Irã do que a reunião de obras representativas das preocupações que pautam criativamente esses artistas.

Assim, Shadi Ghadirian exibe a série de fotografias “Zero a Zero”, que remete simultaneamente às clássicas naturezas mortas e às imagens publicitárias de moda – as quais, segundo Harun Farocki, seriam o equivalente contemporâneo daquelas pinturas flamencas –, combinando objetos de fetiche do mundo do consumo ao arsenal bélico presente tanto na realidade cotidiana do mundo islâmico como também no corrente imaginário ocidental. Não por acaso, estes dois mundos – a saber, o do consumo e o da guerra – respondem por ampla fatia das imagens às quais somos expostos diuturnamente pelos mais variados canais de comunicação.

No ateliê da artista, uma outra serie fotográfica pode ser vista: imagens de múltiplos espectros da mulher iraniana vestindo o shador aparecem em diversas combinações da tradicional indumentária associadas aos usuais utensílios domésticos. Embora não seja possível ver a face desta mulher, uma vez que foi substituída por panelas, bules, ferros de passar, luvas etc. – elementos que caracterizam o cotidiano da maioria das mulheres em qualquer parte do globo –, percebemos no jogo de imagens duplas (tal qual um jogo de memória) a construção de uma identidade feminina forjada pelo islamismo em detrimento da individualidade da mulher persa.

Amin Aghaei explora conceitualmente em pintura, vídeo e fotografia o olhar fracionado, embotado e caótico de quem experimenta a guerra de maneira íntima, e por conta disso levanta barreiras visuais ou imaginárias no afã de preservar sua vida interior ou afastar-se da premente realidade de violência e horror em seu entorno. A série em exibição na sala principal do Largo das Artes, “Eu vejo você através da porta”, é fruto do confronto diário com a realidade bélica que dominou boa parte da infância do artista, obrigando-o a viver em permanente deslocamento devido a eminência dos constantes ataques à região do Khuzestan. Esta região, justo na fronteira com o Iraque, é uma das áreas mais ricas em gás e petróleo do Irã, razão pela qual Sadam Hussein deu início a um dos conflitos bélicos mais deletérios, à tentativa de construção de um novo Irã através da não menos obtusa, manipulada e polifônica Revolução Iraniana (1979). Esta revolução tinha por objetivo maior depor o regime despótico (muito embora secular) do Xá para estabelecer uma nova sociedade. O que sucedeu, entretanto, foi a assunção de um novo regime altamente conservador e ditatorial, preservado até os dias de hoje.

Por outro lado, as pinturas reproduzidas em fotografia no ateliê de Amin, espaço contíguo à galeria, revelam o papel libertador exercido pela imaginação humana em situações limite, caracterizadas pelo cerceamento das liberdades individuais e de expressão, impedindo assim a possibilidade de se divisar um futuro alentador. Desta equação perversa, emergem imagens de um passado longínquo porém recorrente, no qual a identidade cultural persa mantinha-se ainda incólume tanto à influência islâmica quanto ocidental que sobreveio nos séculos a seguir. E é justamente nos vilarejos por onde transitou com sua família nos primeiros anos de vida que o artista vai buscar elementos deste tempo perdido. Segundo Amim, a animação em vídeo de uma de suas pinturas – “Vinte e Oito” – também em exibição no Largo das Artes, trata exatamente deste deslocamento em suspensão, isto é, um perpétuo movimento de resultado inócuo, uma vez que faz com que nos deparemos com a impossibilidade de transcender uma realidade política e econômica de tal modo instaurada no Irã ao ponto de apresentar-se como intransponível.

Ali Zanjani, partindo de imagens de arquivo em película 16 mm extraídas de filmetes educativos sobre energia estática, combina referências à representação da mulher antes e após a Revolução Iraniana em sua série Gravidez Estática, uma grande constelação reapropriacionista que captura a beleza feminina ao passo em que tangencia o contraste entre a representação da mulher velada no atual Irã e a superexposição de seus atributos no mundo ocidental, especialmente em comerciais de moda e cosméticos. Vale dizer que a palavra gravidez, em persa, significa a um só tempo a gestação de um filho e a energia estática presente na natureza, sinalizando, quem sabe, simultaneamente a constante transformação pela qual passa a mulher ao longo da vida – da infância ao período de fertilidade – e que também atravessa na contemporaneidade na esteira dos movimentos feministas disseminados ao longo do século XX; por outro lado, a imagem da ninfeta que constitui a série aparece congelada, pois que extraída dos fotogramas roubados pelo artista dos rolos de filme que encontra ao longo de sua jornada, apontando talvez para o estado de imutabilidade da condição feminina no atual Irã.

Na série em exposição em seu ateliê “Lutadores”, Ali exibe imagens de lutadores iranianos – o esporte nacional por excelência – em sequências narrativas que forja a partir da reordenação de stills das antigas películas por ele colecionadas. Aqui, o artista promove um verdadeiro embate entre a tradição machista e esportiva do Irã e a sexualidade ou homossexualidade reprimida pelo regime teocrático. Num tour de force que curiosamente faz lembrar os expedientes usados pelo artista brasileiro Alair Gomes, Ali estabelece uma tensão sexual entre os lutadores, manifestada apenas de forma latente nas filmagens originais.

Já Farnaz Jahanbin faz uso de banners – este material plástico que reveste a publicidade nas ruas de toda e qualquer cidade ao redor do globo – para reproduzir imagens emblemáticas da história antiga e moderna do Irã na série “Palavras Não Ditas”, fazendo sobre eles intervenções em pintura com a milenar caligrafia daquele país, aproximando-se assim, paradoxalmente, da street art produzida no ocidente. Numa das obras, entrevemos o monumento erguido pelo Xá em uma das principais praças de Teerã, e noutro, um antiquíssimo conjunto de desenhos representativo da história persa pré-islamismo. Vale lembrar que os iranianos, antigos persas, não são árabes e tampouco eram islâmicos em seu passado remoto.

Embora situado no Oriente Medio, o Irã experimentou uma historia diversa, ainda que imbricada com a de seus vizinhos árabes. Enquanto o mundo árabe vem lidando com conflitos bélicos constantes, desde o fim da guerra Irã-Iraque, o país enfrenta não exatamente o drama da guerra, mas de um pesado regime teocrático que impõe ao povo persa os dogmas do islamismo. Artistas, portanto, se veem obrigados a enfrentar o regime através do sutil e engenhoso exercício critico, quando não se veem obrigados a se autocensurar devido ao risco das sinistras repercussões que sua rebeldia possa acarretar. Em que pese o brutal isolamento político e cultural que caracteriza a vida no Irã, decorrência direta do regime teocrático e do fundamentalismo religioso, os artistas iranianos atualmente logram estabelecer contato com o mundo ocidental especialmente através da internet, ferramenta essencial à sua formação cultural e à familiarização com a história da arte produzida em outros cantos do mundo. Na ausência de escolas e críticos locais capazes de por em perspectiva a produção artística desenvolvida após os anos de 1980 nos países cêntricos, eles se apropriam do cânone ocidental no afã de digerir a história recente e acessar públicos e realidades que lhes escapam devido ao isolamento imposto em seu país de origem. Este isolamento, costumeiramente, suprime toda e qualquer forma de apoio a circulação e divulgação de seus trabalhos, ao passo em que também desautoriza sumariamente a publicação de suas obras mediante a eventual inclusão de seus nomes em uma lista negra promovida pelo ironicamente nomeado Ministerio do Esclarecimento, órgão equivalente ao nosso Ministerio da Cultura.

As narrativas que ganham corpo e forma em suas obras são permeadas por saltos cronológicos ou espaciais, alinhavando realidades sublimadas pela historia oficial, preservadas tão somente pela tradição, pela memoria oral e pela obstinação de alguns em resgatar informações banidas do imaginário coletivo. Movendo-se entre o passado e o presente, e acionando o futuro através das brechas articuladas pelo discurso artístico contemporâneo, esses artistas desenvolvem suas praticas criativas em exercício constante de revisão de sua própria iconografia relacionando-a àquela produzida no Ocidente.

TO SEE WHAT IS COMING

Audrey Cottin, Daniel Steegmann Mangrané, David Cronenberg, Eadweard Muybridge, Fancy Violence, Gisela Motta & Leandro Lima, Gustavo Ferro, Harun Farocki, Laura Lima, Le Corbusier, Luiz Roque, Matheus Rocha Pitta, Neil Beloufa, Nuvem - Estação Rural de Arte e Tecnologia / Cinthia Mendonça e Bruno Vianna, Pablo Ferretti, Rodolpho Parigi
17.07.2014 - 13.09.2014

Esta exposição foi concebida como resultado do workshop Práticas Curatoriais Contemporâneas: pensamentos, processos e materializações, ministrado pelos curadores Bernardo José de SouzaMichelle Sommer, entre abril e julho de 2014, na Despina | Largo das Artes.

Partindo da proposta curatorial abaixo, e sempre pautados pela horizontalidade nas discussões e pela emancipação crítica no campo artístico, uma série de debates, palestras e conversas levaram à construção de um projeto artístico que também incluiu performances, exibições e publicações, as quais ocorreram paralelamente à exposição durante os meses de julho, agosto e setembro de 2014.

“Ao conjunto de elementos culturais – hábitos, convenções, linguagens e tecnologias – de tal forma incorporados pelo homem ao ponto de se tornarem imprescindíveis à sua existência, ou mesmo assumirem autonomia na arquitetura bio-política, chamamos de segunda natureza. A plasticidade de nosso horizonte científico faz do futuro seara fértil para a elucubração de novos mundos cujas possibilidades estéticas e filosóficas desenham-se ou transformam-se tais quais exercícios da ficção científica em seu afã premonitório ou mesmo revolucionário. Em que medida é possível antecipar fenômenos culturais, políticos, científicos ou sociais, isto é, to see what is coming?”

Acesse aqui o Tumblr oficial da exposição com alguns textos de referência entre outras contribuições da equipe curatorial.

Artistas participantes

Audrey Cottin, Daniel Steegmann Mangrané, David Cronenberg, Eadweard Muybridge, Fancy Violence, Gisela Motta & Leandro Lima, Gustavo Ferro, Harun Farocki, Laura Lima, Le Corbusier, Luiz Roque, Matheus Rocha Pitta, Neil Beloufa, Nuvem – Estação Rural de Arte e Tecnologia / Cinthia Mendonça e Bruno Vianna, Pablo Ferretti e Rodolpho Parigi.

Programação

17 de julho, às 19 horas
Coquetel de abertura
Local: Despina | Largo das Artes

14 de agosto, às 19 horas
Exibição do vídeo Ano Branco (7`, 2013), de Luiz Roque + debate com artista e curadores
Local: Despina | Largo das Artes

19 de agosto, às 19 horas
Escultura Sopa de Pedra, de Matheus Rocha Pitta
Largo São Francisco, atrás do IFCS – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ, em frente ao Real Gabinete Português de Leitura.

28 de agosto, às 19 horas
Exibição de O.T. – Operating Theatre (registro da série de performances em 3 episódios), de Audrey Cottin + debate com Rodrigo Nunes (Prof. Dr. em filosofia da PUCRJ)
Local: Despina | Largo das Artes

6 de setembro, entre 15 e 21 horas
Laboratório da Destruição, Nuvem – Estação Rural de Arte e Tecnologia
Local: Despina | Largo das Artes + Largo São Francisco

13 de setembro, às 19 horas
Ópera_Ato 2, Fancy Violence
Local: Despina | Largo das Artes

Colaboradores

André Ribeiro, Bianca Bernardo, Bruna Grinsztejn, Giselle Sampaio, Icaro Ferraz Vidal Júnior, Nelson Pinho e Vinicius Jatobá.

Agradecimentos

Barracão Maravilha, Galeria A Gentil Carioca, Galeria Mendes Wood, Galeria Nara Rosler, Galeria Vermelho, Harun Farocki Studio, Luiz Camillo Osório, Merel van`t Hullenaar, Moysés Pinto Neto, Phosphorus e Rodrigo Guimarães Nunes.

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E EU VIA QUASE DE PERTO

Felipe Abdala, Luiza Crosman
15.05.2014 - 21.06.2014

Esta exposição apresentou obras recentes e inéditas dos artistas Felipe Abdala e Luiza Crosman. Ambos, situados no e partindo do campo do desenho, exibiram trabalhos acerca dos conceitos de peso e visibilidade. Conceitos que se estenderam para além do desenho e tomaram forma em ações, vídeos e fotografias. O desenho nessa exposição foi pensado também como um campo fecundo e propositivo de ações, de ativação do corpo.

O peso da matéria e da ação, a visibilidade, que na maior parte das vezes se dá em não-visibilidade, de traços e gestos. O peso do instante, de uma fissura no tempo. O peso não só como característica física da matéria, mas também como a sensibilidade opaca daquilo que não está lá, mas pode sentir-se. O peso das coisas não visíveis, o peso do olhar. Os paradoxos das substâncias, do “vácuo que é tão concreto quanto os corpos sólidos” (CALVINO, 2008 p.21).

Luiza Crosman parte do desenho, tido tanto como enunciado visual, quanto verbal, para articular proposições e questionamentos na relação entre ação, tempo e espaço. Essa investigação toma forma em mídias diversas e tem como busca uma possível performatividade da linguagem: uma operação na qual a ação e o resultado da ação estão intrinsecamente ligados. Torna-se visível o corpo que faz, a duração do fazer e o suporte como fonte de informações próprias: um espaço que não é virgem. Nesse sentido, seus trabalhos tocam em processos de visibilidade, camadas de percepção e a constante interrupção de acesso através da ideia de obstáculo.

O trabalho de Felipe Abdala tem como ponto de partida os questionamentos a respeito do meio de do fazer do desenho. A criação de sistemas que geram desenhos, onde conceitos fundamentais como a linha, o ponto e o plano são discutidos; o pensamento acerca do fracasso desses mesmos sistemas, que dizem respeito à uma teoria da forma que não responde mais às pesquisas artísticas contemporâneas; a tentativa de um desenho que não se prende nem a dimensões físicas nem aos processo tradicionais e históricos do seu fazer; a percepção de que, na fatura, todo o corpo é ativado; por fim e por síntese, a afirmação de que desenho é, antes de tudo, pensamento. Esses são alguns dos temas presentes na produção do artista.

Marcelo Campos é curador independente e professor adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ. Professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/ UFRJ. Possui textos publicados sobre arte brasileira em periódicos e catálogos nacionais e internacionais. Autor do livro “Emmanuel Nassar: engenharia cabocla” e organizador dos livros “História da Arte: Ensaios Contemporâneos” e “História da Arte: escutas”.

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ENCONTROS CARBÔNICOS

Otavio Schipper, Fábia Schnoor, Mayra Martins Redin, Lilian Zaremba, Rodolfo Caesar, Danilo Carvalho, Leila Danziger, Maria Mazzillo e Raquel Versieux
27.03.2014 - 26.04.2014

Uma exposição coletiva de arte contemporânea, com a participação de artistas e cientistas para diálogos transdisciplinares, aconteceu na Despina | Largo das Artes durante quatro semanas, de 27 de março a 26 de abril de 2014. Esta foi a primeira edição dos ‘Encontros Carbônicos’, projeto idealizado pelos editores da Revista Carbono, Marina Fraga e Pedro Urano.

A mostra reuniu artistas que estiveram nas páginas da revista. São eles: Otavio Schipper, Fábia Schnoor, Mayra Martins Redin, Lilian Zaremba, Rodolfo Caesar, Danilo Carvalho, Leila Danziger, Maria MazzilloRaquel Versieux. De maneiras mais ou menos explícitas, as obras expostas materializaram o diálogo entre arte e ciência.

É o caso de ‘A velocidade da luz’, de Otavio Schipper, em que o artista construiu um ponto de fuga com metrônomos, monóculos antigos e chaves de telégrafo conectados por cabos de aço, articulando a invenção da perspectiva pelo arquiteto renascentista Brunelleschi, com a reconstrução poética de um dispositivo desenhado para medir a velocidade da luz.

A exposição compreendeu um grupo heterogêneo de obras em diferentes suportes. Mayra Martins Redin apresentou a série ‘Escuta da escuta’, premiada na última exposição Novíssimos, da Galeria Ibeu; Lilian Zaremba exibiu um vídeo no qual investiga a pedra de galena, mineral eletromagnético que serviu de base para a criação da transmissão por ondas de rádio. A força eletromagnética esteve também no centro da obra ‘Imagem em latência’, de Maria Mazillo. Fábia Schnoor mostrou a série ‘Traças, Pontos e Linhas’, em que explora o percurso deixado por traças em um antigo livro sobre a vida dos animais.

Danilo Carvalho exibiu um filme no qual resgata a memória da capital cearense a partir de registros amadores em película super 8mm. Leila Danziger apresentou obras em que realiza um apagamento seletivo de páginas do caderno de ciências de um jornal. O músico e pesquisador Rodolfo Caesar, que estudou com Pierre Schaeffer no Groupe de Recherches Musicales do Conservatório de Paris, encerrou o evento com uma apresentação multimídia de seu grupo ‘Personne’.

Além da coletiva, os ‘Encontros Carbônicos’ promoveram debates (29/03, 04/04 e 12/04) de artistas e cientistas com o público. “A ideia é criar um espaço para a experiência transdisciplinar em que artistas e cientistas possam apresentar suas pesquisas. Os encontros se dão no interior da exposição, a ideia é que as discussões não se limitem às exposições orais dos presentes, mas perpassem também a materialidade das obras expostas”, explicam os curadores.

Entre os convidados para os diálogos estiveram os artistas visuais Tunga e Ricardo Basbaum, o coreógrafo Alejandro Ahmed, os matemáticos Gregory Chaitin (teórico da complexidade e professor emérito do IBM Watson Research Center) e Ricardo Kubrusly (também poeta e diretor do Instituto de História da Ciência da UFRJ), o cosmólogo Luiz Alberto Oliveira (pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e a psicanalista Tania Rivera. Os debates foram transmitidos ao vivo pelo website do evento que também ofereceu um catálogo online, com fotografias das obras, textos, e material audiovisual produzido durante a exposição.

Os ‘Encontros Carbônicos’ procuram apresentar a arte como uma modalidade de produção de conhecimento tão importante quanto a ciência ou a filosofia. Obras e autores são convidados a instaurar um diálogo comum, trabalhando com perspectivas divergentes sobre a realidade”, explica Marina Fraga. “As proposições artísticas nos afetam sensorial e intelectualmente, muitas vezes instaurando uma realidade que diverge da racionalidade em que estamos acostumados a localizar o pensamento. Abre-se, então, uma fresta para a criatividade”, conclui. “Trata-se de um experimento que, como uma escultura mental, se construirá coletivamente. Nos interessa, especialmente, que o fluxo do pensamento se desenvolva, que as ideias copulem livremente”, completa Pedro Urano.

‘Encontros Carbônicos’ é uma iniciativa da revista online CARBONO, uma plataforma para diálogos entre pesquisas artísticas e científicas. Saiba mais em www.revistacarbono.com

A primeira edição dos ‘Encontros’ contou com o patrocínio da Funarte, através do edital Programa Rede Nacional de Artes Visuais e teve o apoio institucional da Despina | Largo das Artes.

 

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ZURRIBURI

Anton Steenbock, Gabriela Gusmão
05.12.2013 - 25.01.2014

GABRIELA & ANTON – SUJEITOS À TOA
por Marta Mestre

Apenas os sujeitos que trabalham numa solidão inevitavelmente absoluta são capazes de povoá-la, não de sonhos, fantasias ou projetos, mas de encontros. “Encontram-se pessoas (e às vezes sem as conhecer ou jamais tê-las visto), mas também movimentos, ideias, acontecimentos, entidades”, escreve Deleuze.

Anton Steenbock (1984) e Gabriela Gusmão (1973) têm vindo a ter este tipo de encontros solitários de movimentos, ideias, acontecimentos e entidades desde há poucos anos, mas com freqüente regularidade nos últimos meses.

Artistas de gerações e percursos distintos, formados em realidades geográficas “antípodas”, a Alemanha e o Brasil, eles partilham exíguos 30 metros quadrados de um mesmo atelier, no Centro do Rio de Janeiro.

O que os une não são as ideias comuns, nem as pesquisas a que estão dedicados, mas processos de trabalho semelhantes, e isso dá-nos a possibilidade de falarmos em alguma coisa que está entre os dois e corre numa direção paralela, como um ziguezague, uma linha serpentinada, um vai-e-vem.

Para os nosso encontros de trabalho, foi Gabriela que deu o mote ao trazer dois enigmas para decifrar que lera num conto de Jorge Luis Borges: “zurriburi” e “sujeito à toa”. Traduzimos livremente estas duas expressões, procurando compor um chão sem raízes nem sedimentações (a música livre de seus cipós aéreos entrando na prensa artesanal de Gabriela), mas com sustentação mínima para orientar a ação (o maestro invisível que rege a partitura atonal de Anton Steenbock).

“Zurriburi” que é um quase ruído de linguagem, um barulho – zurrrriburiiiii -, mas que também se refere a um sujeito “desprezível” ou “menor” mostrando-se uma expressão feliz para um exercício de tradução entre uma brasileira que vive no mundo, um alemão que se achou aqui e uma portuguesa no fluxo.

Copio aqui um pouco da nossa troca e nossos (des)encontros:

Anton: oi queridos eu estou com o conceito mais elaborado agora – vou tentar escreve-lo hoje à noite e mando por email…. Mas esta ficando legal! 
– também já consegui arrumar o motor de para-brisa (foi uma missão!!!) e na segunda vou fazer os primeiros testes.
Dei mais uma olhada para entender melhor a palavra “sujeito à toa”;)  acho que entendi rs:
Não poderá significar, em outras palavras, “sujeito por coincidência” ?!?!

Gabriela: Para mim é quem está à disposição de situações inesperadas, entregue aos devaneios e às possibilidades de descobertas extraordinárias (…). Ele anda pronto para viver experiências sincrônicas ou “coincidentes”. O significado que você encontrou tem total fundamento. Reconheço também a ideia de alguém que anda sem destino definido, a vagar, e assim se põe a devanear. Sujeito à toa, não é necessariamente a pessoa que está à toa, mas a pessoa que está sujeita a andar à toa. Um Zurriburi anda em estado de devaneio em meio à multidão ou em paisagens idílicas e pode assim, esbarrar numa boa idéia ou numa melodia. Eu esbarrei em uma, que é o “silêncio de um sujeito à toa”. Essa minha mensagem chegou para explicar ou para confundir?

Marta: Olá Gabi e Anton. Apesar de ser muito sugestivo o título da Gabi, é necessária muita ginástica e retórica para relacionar Zurriburi com a “idiotia” dostoievskiana e o “sujeito à toa”. Ainda assim, vejo neste terreno baldio a maior possibilidade de construirmos sentidos, ainda que provisórios. Tem alguma coisa nisto de voltar a aprender a falar, e não deixo de pensar que a arte, os artistas dão forma a uma indeterminação. Como os idiotas, os “parvos” ou até mesmo os eremitas cristãos que se afastavam para viver outro tipo de experiência no mundo, também os artistas têm uma singularidade própria, frágil e provisória também.

Vejo também nestas nossas tentativas de “edificarmos” algo que é carregado de naturezas provisórias (a começar pela própria linguagem), uma marca cultural muito brasileira, e por isso muito portuguesa, que atravessa a formação do Brasil, e que se alarga ao desconhecimento que na contemporaneidade ainda temos uns dos outros.

Não chegamos a quaisquer conclusões, e disparam-se pontos de partida sem avistar pontos de chegada, tendo o trabalho acontecido até à montagem nas imprevisíveis direções que formam a sua imprevisível pertinência. A maior parte das vezes acontece assim.

Contudo, durante todo o tempo deste nosso encontro não parei de tentar encaixar um elemento, que os próprios artistas trouxeram como potencial elo de ligação jamais comunicado: as gaivotas. No trabalho de Gabriela Gusmão ganharam corpo em grandes chapas metálicas na parede exterior da galeria Gentil Carioca (2012), e no trabalho de Anton surgiram na publicação “Gaivotas”, contendo fotografias de pichações anônimas das ruas do Rio de Janeiro (2010).

Existia agora um elemento “comunicante”, e não mais o silencio do encontro. Através da gaivota, elemento de interesse comum, cada um encontrava no outro num devir único que não é comum aos dois, mas que os afeta e os aproxima.

Fiquei a pensar que, mesmo não sendo uma chave de leitura sobre o trabalho de ambos, faz algum sentido que sejam pássaros o que os aproxima. Também eles sujeitos à toa, na liberdade dos céus e quebrando as regras, capazes de longas distancias, percursos de solidão, como as pessoas, como os artistas.

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HIPOTÉTICA

Felippe Moraes, Jonas Arrabal
10.10.2013 - 23.11.2013

“Concordo que é estranho. Quase como pesar a alma de alguém. Mas sir Walter era um sujeito inteligente. Primeiro pegou um cigarro inteiro, o colocou na balança e pesou. Depois acendeu o cigarro e o fumou, batendo cuidadosamente as cinzas no prato da balança. Quando terminou, pôs o toco na balança com as cinzas e pesou o que havia sobrado. Então subtraiu esse número do peso original do cigarro inteiro. A diferença era o peso da fumaça.” Paul Auster

Este texto chegou a mim de maneira não muito convencional… Numa noite de insônia, ligando a televisão, ouvi e vi um dos atores de um filme, do qual eu não consigo lembrar o nome, refletindo sobre essa possibilidade de se pesar fumaça. Guardei isso por algum tempo porque me pareceu importante e de tanto guardar acabei esquecendo. Acontece que a vida, quase sempre certeira com o que deve ou não ser lembrado, acaba engendrando modos de trazer de volta o que precisa voltar e foi justamente o que me aconteceu diante das obras de Felippe Moraes e Jonas Arrabal.

Parece-me que os dois “pesam fumaça”.

Seus trabalhos são minuciosas investigações sobre as possíveis maneiras de materializar pensamento, de mensurar o mundo, de tornar tangível o intangível. A poética dos dois converge no que diz respeito a essa busca, mas diverge nos meios e nos procedimentos adotados por cada um.

Felippe Moraes é preciso, lança mão da linguagem matemática para medir a superfície das coisas, para dissecá-las, mostrá-las também por dentro. Revelar seu funcionamento silencioso.Jonas Arrabal joga com as incertezas, deslocando objetos de seus lugares de origem para que possam habitar, ressignificar em novos espaços. Fala sobretudo de tempo e esboça maneiras de torná-lo visível através de suas parábolas e pequenas “alquimias do verbo”.

Esta exposição é um desejo de manter em estado de conversa os trabalhos desses dois artistas, evidenciando a poesia que existe nas equações e a precisão matemática das metáforas. É o resultado de um encontro fortuito, como diria Jonas, ou do cruzamento de duas retas no espaço, como diria Felippe, e propõe transfigurar o Largo das Artes num espaço de experimento, de formulações provisórias… Hipotético.

Joana Rabelo – curadora
Outubro 2013
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Mutatis Mutandis

Vera Chaves Barcellos, Paulo Roberto Leal, Daniel Steegman, Elaine Tedesco, Munir Klamt & Laura Cattani, Luiz Roque, Rick Castro, Marion Velasco, Eduardo Haesbert, Felippe Moraes, Natali Tubenchlak & Hugo Richard.
29.08.2013 - 05.10.2013

Mutatis Mutandis parte da obra “On Ice”, de Vera Chaves Barcellos, para discutir questões relativas à transformação do mundo e de nossa percepção das formas que compõem a paisagem contemporânea.

Partindo da máxima modernista “reshaping the future”, a exposição apresenta artistas de diversas gerações, um arco de produção que se inicia com Vera Chaves Barcellos e Paulo Roberto Leal, passa por Elaine Tedesco e alcança jovens artistas como Daniel Steegman e Luiz Roque.

Todos exploram formas geométricas ou fluidas que sinalizam a desconstrução do horizonte plástico ao longo da segunda metade do século XX, quer seja através do estudo do espaço ou da iconografia.

Não se trata de um projeto de revisão histórica, mas sobretudo de um exercício estético de reconfiguração do olhar e da matéria, buscando novas formas, humanas e inumanas, orgânicas ou industriais, que apontam para os sucessivos projetos de transformação social, política e ideológica.

Estes são alguns elementos que compõem o show, ao lado de outros menos explícitos mas que igualmente colaboram para estabelecer uma atmosfera ora de construção, ora de desconstrução. A noção de metamorfose e transformação é chave para Mutatis Mutandis.

Bernardo José de Souza e Bruna Fetter – curadores
Agosto 2013

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A Lua no Bolso

Bet Katona, Bettina John, Felippe Moraes, Iris Helena, Mayana Redin, Mônica Rubinho, Nena Balthar, Paula Huven, Renata Cruz e Virgílio Neto
04.07.2013 - 17.08.2013

Há cerca de 44 anos, exatamente no dia 21 de julho de 1969, era publicada na capa da Folha de São Paulo uma matéria intitulada “A Lua no Bolso”. Com uma escrita nitidamente encantada com os avanços tecnológicos, o repórter relatava o contato de Neil Armstrong com a lua a partir do que era observado pela televisão. O homem não apenas entra em contato físico com o astro, mas também estava “recolhendo com uma espécie de longas pinças, as primeiras amostras do solo lunar”. Sim, a lua existia e a ansiedade humana por desbravar novos espaços e demonstrar um “vim, vi e venci” se estendia para além do planeta Terra.

Essa proposta curatorial retoma esta reportagem como uma metáfora para o contato com aqueles espaços que não são da nossa seara. A lua aqui, portanto, pode querer dizer o “outro”, o longínquo ou aquilo que parece costumeiro, mas que é capaz de ser estranhado pela perspectiva da arte. A fotografia, o vídeo, a apropriação de objetos e a pintura são algumas das mídias utilizadas por dez pessoas que estiveram em situações de residências artísticas, mergulhos em diferentes zonas do mesmo Rio de Janeiro, rastreamento de detalhes na paisagem de São Paulo ou mesmo uma visão da existência baseada na astronomia e na cosmologia.

A imagem aqui é como um pedaço de um espaço dissecado e transformado em objeto artístico, compartilhado com o público como numa demonstração dos resultados de uma expedição espacial. Se um pedaço da lua já esteve no bolso de um homem, diferentes processos artísticos estão aqui organizados neste Largo das Artes. Como diferença, o tom de futurismo palpável que transbordava em 1969 cede espaço para respostas imagéticas permeadas por incerteza e provisoriedade quanto ao desafio de recodificar uma experiência em algo material.

Raphael Fonseca – curador
Julho 2013

 

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Sala de Maravilhas

Antonio Pedro Lopes, Dyonne Boy, Gustavo Ciríaco, Ignácio Aldunate, Lucas Bueno, Lucia Russo, Marcela Levi, Milena Codeço,
16.05.2013 - 01.06.2013

Algum tempo atrás, pensando sobre maneiras de se guardar a memória individual nessa luta sutil contra o próprio desaparecimento, em como deixar traços que possam ser experienciados por outros, cheguei aos gabinetes de curiosidades do Renascimento, também conhecidos como salas de maravilhas. Estas coleções eram inventários particulares da vastidão e do sublime do mundo reunidos em uma sala. Um lugar devocional, com nenhuma categorização aparente, mas cuja exposição buscava produzir maravilhamento e incitar nos visitantes sua própria (re)coleção imaginária do mundo. Proto-museus individuais ou teatros do mundo, esses recintos eram como diários tridimensionais do que produzia maravilha em uma pessoa.

O que quer que orientasse os primeiros donos dos gabinetes de curiosidades, algo em comum os agrupava: o desejo de aproveitar da sua posição para realizar um inventário do mundo. Um modo talvez de se apropriar desse universo em transformação, onde os traços da história começavam a ganhar uma visibilidade inédita na vida individual.

Nos dias atuais, onde museus tomaram a função de guardiães da história comum dos homens, onde as categorizações ganharam a força dos incontornáveis, o desejo de realizar o seu próprio inventário do mundo, a sua própria coleção de maravilhas, no entanto, não nos abandonou. Visível na incomensurável quantidade de blogs e na proliferação de redes de relacionamento virtual, mais do que nunca a força dos inventários continua a levar indivíduos a dedicar uma boa parte do seu tempo a coletar, a reunir, para depois compartilhar com os demais. Ao mesmo tempo o ato de colecionar parece uma busca por testemunhas do seu presente e por lançar-se, ainda que de maneira trôpega, incerta, no desafio de que ao se criar um outro passado visível, um outro futuro possível acabe sendo gerado. Uma história sem a obrigação de sentido, de verdade. Pontos de desvio, pontos de inauguração de sentidos, portas para outros universos.

Gustavo Ciríaco
curador e idealizador

***

Pensada como um encontro, Sala de Maravilhas reúne um conjunto de artistas, entre os que trabalham com Ciríaco há anos e os que lhe são companheiros de cena, de história, todos envolvidos na construção de um lugar, de um inventário, de um presente passado futuro em uma sala de maravilhas.

Sala de Maravilhas se lança assim à aventura de criar uma coleção de experiências de um grupo de artistas e sua ativação em tempo real no espaço compartilhado com as demais pessoas. Uma coleção de suas trajetórias artísticas, dos seus dias, de sua inserção em uma história da arte da cena, dos seus imaginários e dos de uma época. Uma coleção de homens e mulheres, de mundanos, de brincantes, de sincretistas, de tropicálias revividas. Uma coleção de sublimes.

Este projeto foi contemplado pelo FADA 2012 (Fundo de Apoio à Dança da Cidade do Rio de Janeiro) e integrou o programa International Creator in Residence, promovido pela Tokyo Wonder Site em uma colaboração multimídia com 9 artistas japoneses (Tóquio, 2012). Sala de Maravilhas | Rio é acolhido pela Despina | Largo das Artes no quadro e em continuidade do seu projeto Ações Contemporâneas.

 

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Binary

Brian House, Camilla Emson, Gabriel Netto, Marcelo Jácome, Marcone Moreira, Micah Schippa, Pablo Ferretti, Túlio Pinto
28.03.2013 - 11.05.2013

Esta exposição, em parceria com a Gallery Nosco (Londres, Nova York) teve curadoria de Cyril Moumen e reuniu artistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil.

Com uma mistura eclética de meios artísticos, a exposição contou com trabalhos em vídeo, som, pintura, fotografia, desenho e escultura. Esta combinação multifacetada e o diálogo entre formas artísticas distintas foi parte integral da estrutura da exposição.

As pinturas de Camilla Emson, os desenhos de Gabriel Netto e a escultura de Túlio Pinto são ponto de partida para a navegação na exposição, com seus indicativos da tensão inerente à prática artística e sua relação permeável com a realidade.

A obra sonora de Brian House, o vídeo de Micah Schippa e as pinturas de Pablo Ferretti, por outro lado, usam camadas de memória, histórias e imagens para construir seus trabalhos. Mas enquanto as pinturas de Ferretti são analógicas, Schippa e House manipulam seus trabalhos entre analógico e digital – Schippa inicia como uma peça analógica e transforma em digital, em contraste com o caminho inverso percorrido por House.

O trabalho inédito de Marcelo Jácome e as fotografias de Marcone Moreira aprofundam mas não encerram o diálogo, tratando em suas obras de questões espaciais, composição geométrica, apropriação de objetos cotidianos e ação do tempo.

A exposição Binary é fruto de uma parceria entre a Despina | Largo das Artes (Rio de Janeiro) e a Gallery Nosco (Londres-Nova York), e foi inspirada nas viagens recentes de Cyril Moumen e na sua residência curatorial no Largo das Artes, que agora expande sua atuação para ser um espaço cultural voltado para a arte contemporânea, com ateliês, galeria e um programa de residências.

O foco de Moumen em meios distintos e como eles interagem entre si e com a audiência demarca o conceito binário, ou bifacetado, da exposição.

 

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