HIPOTÉTICA

Exposição
10.10.2013 - 23.11.2013

“Concordo que é estranho. Quase como pesar a alma de alguém. Mas sir Walter era um sujeito inteligente. Primeiro pegou um cigarro inteiro, o colocou na balança e pesou. Depois acendeu o cigarro e o fumou, batendo cuidadosamente as cinzas no prato da balança. Quando terminou, pôs o toco na balança com as cinzas e pesou o que havia sobrado. Então subtraiu esse número do peso original do cigarro inteiro. A diferença era o peso da fumaça.” Paul Auster

Este texto chegou a mim de maneira não muito convencional… Numa noite de insônia, ligando a televisão, ouvi e vi um dos atores de um filme, do qual eu não consigo lembrar o nome, refletindo sobre essa possibilidade de se pesar fumaça. Guardei isso por algum tempo porque me pareceu importante e de tanto guardar acabei esquecendo. Acontece que a vida, quase sempre certeira com o que deve ou não ser lembrado, acaba engendrando modos de trazer de volta o que precisa voltar e foi justamente o que me aconteceu diante das obras de Felippe Moraes e Jonas Arrabal.

Parece-me que os dois “pesam fumaça”.

Seus trabalhos são minuciosas investigações sobre as possíveis maneiras de materializar pensamento, de mensurar o mundo, de tornar tangível o intangível. A poética dos dois converge no que diz respeito a essa busca, mas diverge nos meios e nos procedimentos adotados por cada um.

Felippe Moraes é preciso, lança mão da linguagem matemática para medir a superfície das coisas, para dissecá-las, mostrá-las também por dentro. Revelar seu funcionamento silencioso.Jonas Arrabal joga com as incertezas, deslocando objetos de seus lugares de origem para que possam habitar, ressignificar em novos espaços. Fala sobretudo de tempo e esboça maneiras de torná-lo visível através de suas parábolas e pequenas “alquimias do verbo”.

Esta exposição é um desejo de manter em estado de conversa os trabalhos desses dois artistas, evidenciando a poesia que existe nas equações e a precisão matemática das metáforas. É o resultado de um encontro fortuito, como diria Jonas, ou do cruzamento de duas retas no espaço, como diria Felippe, e propõe transfigurar o Largo das Artes num espaço de experimento, de formulações provisórias… Hipotético.

Joana Rabelo – curadora
Outubro 2013
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