o terceiro mundo pede a bênção e vai dormir

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31.05.2017 - 21.06.2017

Tropicália, agora
Victor Gorgulho

Acachapante e implacável, o olhar nostálgico passa seu rolo compressor no tempo e planifica a pluralidade de versões de um episódio histórico. Em 2017, celebram-se cinco décadas do momento tropicalista, cercado de festejos vazios em propósito e anêmicos em sua capacidade de revisão crítica. Desde a primeira apresentação de Tropicália, o penetrável de Hélio Oiticica, na ocasião da exposição Nova Objetividade Brasileira no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em abril de 1967, são múltiplos os afluxos narrativos que tentam dar conta deste prolífico instante de vanguarda da cultura brasileira.

No entanto, nem mesmo Oiticica poderia imaginar o alcance da sua vontade de objetivação e síntese de uma imagem “obviamente brasileira”. Fagocitado e cuspido milhares de vezes pelo voraz establishment burguês, o mito da tropicalidade ainda paira sobre nós como uma nuvem espessa e opaca. Vale lembrar que, em Tropicália, ir além das araras e bananeiras indicava, antes de tudo, um “não condicionamento às estruturas estabelecidas”. Well, eternamente exotizados pelo Norte, os trópicos talvez já não se contentem mais com a limitação da alcunha do paraíso idealizado.

Ainda assim, sabemos que nestas bandas de cá do hemisfério Sul, nem o delírio e nem a melancolia são os nossos estados mais naturais, mas sim a convulsão, a ebulição permanente. Inebriado pelo sol e pela cachaça, o homem tropical padece de uma miríade de problemas em seu sistema digestivo mas permanece em busca de sua borrada e disforme identidade.

As obras presentes em o terceiro mundo pede a benção e vai dormir tomam coletivamente o momento tropicalista não como um ponto de partida mas sim como um ponto de inflexão. Desviando do olhar canônico e acrítico, registros históricos e obras contemporâneas tecem entre si uma tentativa de leitura de Brasil, munidos de recursos caros ao tropicalismo: a ironia, o deboche, a afronta, a carnavalização, a gambiarra, a precariedade. Antropófago de si mesmo, o homem dos trópicos segue em seu contínuo processo de meta-deglutição, esfomeado, entre a vontade da saúde e o reconhecimento de sua debilidade.

Obras e registros de
Ana Matheus Abbade
André Parente
Bárbara Wagner
Cristiano Lenhardt
Daniel Lie
Dominique Gonzalez-Foerster
Guerreiro do Divino Amor
Guga Ferraz
Hélio Oiticica
José Agrippino de Paula
Priscila Fiszman
Raphael Tepedino
Rogerio Sganzerla
Traplev
Vivian Caccuri
Walter Smetak

Curadoria
Victor Gorgulho
 
Assistente de curadoria
Guilherme Marcondes
 
Design Gráfico
Fernanda Guizan
 
Montagem
Alexandre Rodolfo de Oliveira
 
Colaboração de montagem
Felipe Abdala
Iabah Bahia
Lucas Canavarro

Agradecimentos
Alexandre Gabriel, Bárbara Smetak, Bernardo José de Souza, Bernardo Mosqueira, Eugenio Puppo, Fortes D’Aloia & Gabriel, Jacqueline Lisboa, Laura Mello, Luisa Duarte, Marcia Fortes, Maria Catarina Duncan e Sinai Sganzerla.

Crédito da imagem (topo)
Cristiano Lenhardt
Guaracys, 2016
super 8, 10′

Serviço
“o terceiro mundo pede a bênção e vai dormir”
Abertura: 31 de maio, quarta-feira, às 19 horas
Exposição continua até 21 de junho
Horário de visitação: de terça a sexta-feira, das 11 às 19 horas.
Local: Despina | Largo das Artes
Rua Luis de Camões, 2 – Sobrado
Centro – Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita***

Galeria de Fotos (navegue pelas setas na horizontal, clique para ampliar)
por Frederico Pellachin