Arte e Ativismo na América Latina – ano III
Ato-intervenção concebido por Sabine Passareli, Marta Supernova, Clarissa Ribeiro e Lorran Dias, em diálogo com a vida, obra e poética de Matheusa Passareli, artista negrx e não-binárix assassinadx aos 21 anos no Rio de Janeiro em abril de 2018.
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APRESENTAÇÃO
Como criar um espaço-dispositivo de convivência, que entenda a responsabilização e o cuidado – de forma não-romântica –, como práticas decoloniais à Culpa e ao Patriarcado, agindo como anticorpos contra uma ferida colonial intrínseca à sociedade?
Como a partir desta percepção, atravessar os ofícios em micro e macropolíticas possíveis para
1. um tensionamento das estruturas e imposições colonialistas
2. outras formas de sociabilização e alteridade, que compreendam o pensamento fronteiriço como um demarcador e conscientizador das diferenças entre “Eu” e “Outro”?
A quem cabe o quê, quando as mazelas sociais nos revelam as atrocidades dos processos históricos e entendemos que a subalternização, dominação e extermínio são mais do que fatos, legítimos processos contínuos? Como nos posicionar, sem nos isentar, da nossa parcela de responsabilidade sobre essas continuidades?
Quando problematizamos a histórica criação de símbolos, ícones, líderes e porta-vozes de movimentos sociais-midiáticos, descentralizamos as militâncias e ativismos, e construimos uma pauta partilhada que atravessa os caminhos de tod_s. Convidamos a olharem para seus limites que lhe garantam sua unidade, para entender suas conexões com o todo. Como garantir às vivências LGBT fronteiriças alguma estabilidade para formação profissional e circulação nessas cidades partidas que são as metrópoles, alimentadas por uma cultura de violência heterocisnormativa?
O mundo “pós-colonial”, em seu estágio capitalista global, com todas as suas superficialidades e sínteses de tempo-espaço está cada vez mais afetando a saúde mental pública e individual. Crises identitárias e representativas têm sido foco de discussões extensivas em um país cuja ferida colonial ainda se perdura de maneira extrativista, como no século XVI em diante.
O grande desafio parece ser encontrar ferramentas que tensionem as amarras capitalistas, possibilitem caminhos paralelos e posteriores à destruição do sistema vigente. Se a redistribuição da violência na luta anticolonial nos leva a processos destrutivos de símbolos e instituições, como lidar com o porvir? Ou, o que vem depois do fim do mundo?
Uma Noite Estranha de Cuidado, Convivência e Agência.
Lorran Dias
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Construir nossos corpos a partir dos encontros. Convivências extraordinárias. Momentos gloriosos. Nem mais, nem menos. Convivência. Como produzir confluências a partir do encontro com outros corpos-intervenção? Habitar harmonicamente se faz necessário em contextos de extrema crueldade. Os conflitos são necessários em momentos de crise, possibilitaremos juntas a transformação. O encontro de corpos mistérios. Quem nos vigia? Quem nos cuida? Quem nos acompanha? Proposições de intervenções visando a desconstrução do conforto. Encontro. Habitaremos um mesmo espaço e respeitaremos as diferenças. Não expeliremos outros corpos que se aproximem de nós. Humano vs trauma. Desconstrução do limite imagético do corpo. Vamos utilizar a Despina como um espaço informal de cuidado e intervenção. Para isso, iremos lançar mão da convivência como dispositivo ético, político e estético.
Não permitimos o desespero
os objetos nos conectam ao vazio
preenchido pela ausência do corpo
terminal de atravessamentos poéticos
a gritaria se faz necessária
não posso gritar
como me controlar?
ordem
você é a ordem
PERMITIDO TOCAR NOS CORPOS
a pele é sensível e pode machucar
limites da convivência
inferno
experiência de
memória
a ausência do corpo acaba com o objeto
Sabine Passareli
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Esta ação fez parte da programação da terceira edição do projeto Arte e Ativismo na América Latina, concebido e realizado pela Despina com suporte do Prince Claus Fund. Mais informações por aqui.
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AGENTES
Alexandre Rodolfo de Oliveira, Aline Beatriz, Aun Helden, Amandla Veludo, Ana Lira, Anarca Filmes, Anthonio Andreazza, Arlindo Oliveira da Silva , Augusto Bráz, Atelier Gaia e Luta Antimanicomial, Baby Alien, Beatriz Lopes, Bianca Kalutor, Clarice Correa, Clarissa Ribeiro, Coletivo Seus Putos, Consuelo Bassanesi, Dani Gues, Diambe da Silva, Danitza Luna, Enantios Dromos [SP], Érica Supernova, Felipe Espindola, Felipe Rivas, Frederico Pellachin, Frozen2000, Sabine Passareli, Gabriel Massan, Garotas Digitais, Gilmar Ferreira, Guilherme Altmayer, Igor Furtado, João Marcos Mancha, Jorge Maragaia, Leticia Santana, Lyz Parayzo, Lorran Dias, Lucas Afonso, Marielle Franco, Mario Celso Neto, Marta Supernova, Matheusa Passareli, Tadaskia, Natasha Ribas, Pablo Ferretti, Patricia Ruth, Qaete, Roberta Maria, Tertuliana Lustosa, Thayná Oliveira, Thaysa Paulo, Tombo, Ventura Profana, Yuji Romar, Yuri Landarin.
Edição e finalização: Clarissa Ribeiro
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por Denise Adams