Em setembro de 2015, jovens talentos das artes visuais do Irã estiveram no Rio para uma residência artística. Durante todo o mês, nossos ateliês de residência foram ocupados por quatro artistas iranianos que tiveram a chance de explorar os seus trabalhos em um novo contexto cultural. Ao final do processo, uma exposição marcou o resultado desta experiência.
Artistas participantes: Ali Zanjani, Amin Aghaei, Farnaz Jahanbin e Shadi Ghadirian.
Shadi e Farnaz foram especialmente convidadas para o projeto. Já Ali e Amin foram selecionados por um painel de curadores e artistas brasileiros formado por Bernardo José de Souza (curador), Daniela Labra (crítica de arte e curadora), Ernesto Neto (artista), Marta Mestre (curadora do Instituto Inhotim – MG) e Miguel Sayad (diretor do Largo das Artes).
Uma série de eventos paralelos, públicos e gratuitos foi realizada simultaneamente ao período da residência com o intuito de potencializar o diálogo inter-cultural, além de promover o trabalho em rede entre artistas do Oriente Médio e do Brasil.
PROGRAMAÇÃO
3 – 6 setembro
Artistas visitam a 31ª Bienal Internacional de São Paulo, a convite do curador da mostra Charles Esche.
12 setembro
Conversa com a artista Shadi Ghadirian, seguida de brunch.*
Local: Despina | Largo das Artes
Horário: 11 horas
Entrada gratuita (sujeito a lotação do espaço)
* Este evento faz parte da programação especial da feira ArtRio 2014.
16 setembro
Visita dos artistas ao Colégio Pedro II em Realengo, Rio de Janeiro
Horário: 14 horas
23 setembro
Conversa com os artistas na Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro
Horário: 11 horas
25 setembro
Abertura da exposição final* + concerto de música tradicional Persa com a artista Farnaz Jahanbin e o pianista Tomas Gonzaga
Local: Despina | Largo das Artes
Horário: 19 horas
Conheça abaixo os artistas participantes
Ali Zanjani é um artista iraniano que vive entre Dubai e Teerã. Os seus trabalhos refletem sobre a herança sociocultural do Irã ao longo das agitadas transformações políticas que ocorreram no país nos últimos 35 anos. Destaque para uma série bem humorada que inclui registros fotográficos de praticantes da luta livre, o esporte nacional iraniano. O esporte também faz parte de uma outra série, criada com base em fotografias perdidas de um time de basquete feminino, pré-revolução de 1979. Estas imagens de mulheres sem a burca são únicas e estritamente proibidas no regime político atual do Irã.
Desde 2011, Ali trabalha com o Museum Salsali de Dubai. Em 2012, teve o seu trabalho selecionado pelo Museu de Arte Contemporânea de Teerã e pela Feira de Arte de Beirute. Atualmente, o artista tem se dedicado a inúmeros projetos, incluindo “Live Moment of Wrestling”, “Life Is Too Short”, “Show Off” e “Just Between Us”.
Amin Aghaei nasceu no Irã em 1982 e passou a infância sem uma moradia fixa, deslocando-se com a família pelo país devido à guerra Irã-Iraque (1980-1988). Esta natureza itinerante fez com que ele descobrisse o desenho, que acabou funcionando como uma válvula de escape às condições adversas por que passava. Quando seus pais puderam finalmente se estabelecer num local fixo, Amin conseguiu se concentrar mais em sua arte. Com a repressão política no Irã, começou a desenhar caricaturas e este estilo logo tomou conta de suas pinturas, por isso o tom crítico e humorístico de seus trabalhos. Além do desenho e da pintura, as suas práticas também compreendem escultura e vídeo. A obra de Amin assume um realismo mágico com uma temática sui generis para o Irã, daí este artista ter sido uma escolha unânime do comitê de seleção para este projeto.
Fica aqui registrado o nosso agradecimento especial a Azadeh Vafardari e Amirpasha Shafaei, que viabilizaram a presença de Amin no Brasil.
Farnaz Jahanbin é uma artista iraniana reconhecida internacionalmente, que utiliza a escrita persa e árabe para criar interpretações modernas da antiga arte da caligrafia. Suas pinturas têm formas abstratas e apresentam interpretações mais tradicionais dessas escritas.
Farnaz é também uma cantora clássica persa. Como mulher em seu país, ela não tem permissão para se apresentar na frente de um público misto. No Rio de Janeiro, porém, a artista se apresentou ao público, entoando canções da música tradicional Persa num pequeno concerto que marcou a abertura da exposição “Iran_Rio Art Connection”. Conheça mais sobre o trabalho de Farnaz aqui.
Shadi Ghadirian é uma importante artista iraniana cujo trabalho já foi exibido em grandes museus e galerias pelo mundo, incluindo o Museu de Belas Artes de Boston e o Los Angeles County Museum of Art. Nascida em 1974 no Teerã, Shadi estudou fotografia na Azad University. A sua prática artística busca refletir sobre as questões que envolvem o tradicional e o moderno na cultura do seu país, principalmente a questão da mulher muçulmana no Irã, um assunto que ainda repercute em todo o mundo.
Em “The Qajar Series”, realizada entre 1998 e 2001, Shadi fotografou mulheres vestidas com roupas tradicionais “Qajar”, justapostas com objetos modernos típicos da cultura ocidental, como um “boom box” ou uma lata de Coca-Cola. Já na série “Como todos os dias”, produzida logo depois de se casar, Shadi revela de maneira crítica e irônica a rotina mundana e repetitiva que é reservada à maioria das mulheres em seu país.
Estes trabalhos evidenciam a preocupação da artista em destacar o papel das mulheres iranianas dentro de uma sociedade em permanente conflito entre a tradição e o moderno. Para conhecer mais sobre Shadi e sua obra, visite o site: http://shadighadirian.com/
IRAN-RIO ART CONNECTION
Conceito: Consuelo Bassanesi, Leila Lak, Miguel Sayad
Direção executiva: Consuelo Bassanesi
Direção de produção: Leila Lak
Assistente de produção / arte e conteúdo multimídia: Frederico Pellachin
Suporte curatorial: Bernardo José de Souza
Comitê de seleção: Daniela Labra, Bernardo José de Souza, Ernesto Neto, Marta Mestre, Miguel Sayad.
Agradecimentos especiais: Rose Issa Projects, Azadeh Vafardari e Amirpasha Shafaie
* Prince Claus Fund for Culture and Development é uma instituição holandesa que apoia artistas, organizações culturais e pensadores que atuam em locais onde a liberdade de expressão é limitada por conflitos, pobreza e repressão.