Linda Söderholm & Žiga Gerbec

Linda Söderholm & Žiga Gerbec
01.05.2016 - 30.06.2016

Linda Söderholm & Žiga Gerbec vivem e trabalham em Liubliana, capital da Eslovênia. Estão envolvidos com a dança e a música associadas à cultura hip hop, ou breakdancing para os mais familiarizados. Também desenvolvem trabalhos que utilizam técnica mista. Juntamente com outros membros associados à ONG eslovena GOR (http://www.drustvogor.org/ e https://www.facebook.com/drustvo.gor/), organizam festas em clubes, apresentações de dança, oficinas e outros eventos relacionados à cultura hip hop. GOR tem como missão desenvolver a cena local por meio de ações educativas voltadas aos jovens interessados ​​nesta cultura.

Linda é mestre em artes e novas mídias pela Aalto University School of Arts and Design, MediaLab Helsinque, na Finlândia. Também é mestre em língua e literatura russa pela Universidade de Helsinque. Atua como designer gráfica freelancer e sua prática artística transita pela tipografia, grafite, fotografia analógica/digital e vídeo (http://superflinda.fi/).

Žiga começou “b-boying” em 2004 e desde então tem participado de muitos eventos internacionais de breakdancing. É bem ativo e influente no desenvolvimento da cena local na Eslovênia, onde leciona e organiza vários eventos. Além disso, também é DJ e um obstinado colecionador de discos.

Durante participação no Programa de Residências Despina, o duo pretende organizar um evento com o título “À Sombra das Olimpíadas”. Este projeto será uma continuação lógica de um trabalho anterior sobre b-boys e b-girls desenvolvido na África Ocidental (2014) e na Finlândia (2011). Desta vez, a ideia de Linda & Žiga é explorar as conexões visuais, musicais e performáticas e os significados da cultura hip hop em uma cidade tão diversa como o Rio de Janeiro. Para tanto, desenvolveram o conceito do “Rua 2016”, uma espécie de “anti-olimpíada”, que pretende reunir uma serie de atividades marginalizadas pelo “espírito olímpico” e que irão ocupar as ruas da cidade no período que antecede os jogos oficiais.  Nos primórdios dos jogos, havia uma ampla gama de atividades, que incluía leitura de poesia, música, bem como a participação de competidores amadores.

No próximo domingo, dia 26 de junho, o público poderá conferir, enfim, o “Rua 2016”, que acontece em parceria com o coletivo I Love XV, na praça XV de novembro. Qualquer um pode participar das exibições das modalidades (que foram escolhidas por votação na internet) – é só comparecer entre 13 e 18 horas. O evento ainda conta com  discotecagens de DJ Kong, Alex Freeze, Tillo e Dziga. Não perca!

Mais informações

www.rua2016.info
www.facebook.com/ruario2016
instagram.com/rua2016

 

Galeria de Fotos

Nancy Popp

Nancy Popp
13.04.2016 - 31.05.2016

Nancy Popp nasceu em Los Angeles (EUA), onde vive e trabalha. O seu trabalho está apoiado nas tradições da performance corporal de resistência e intervenção política, que tencionam explorar as relações do corpo como local, no contexto do espaço que envolve o corpo e as constantes flutuações que ligam os dois. Sua prática envolve intervenções arriscadas e bem-humoradas em espaços arquitetônicos e públicos. O foco da artista aqui é a resistência em disputa com as fronteiras políticas e sociais da geografia e identidade. Atualmente, Nancy está concentrada no problema econômico e social do deslocamento, re-desenvolvimento e gentrificação em cidades de todo o mundo. Sua prática também inclui fotografia, desenho e organização de comunidades.

O trabalho de Nancy já foi apoiado e exibido pelo MOCA – Los AngelesGetty Center, a Bienal de Istambul de 2011, Atlanta Contemporary Arts CenterBienal de Dallas de 2014, Rowan University, SUNY University, CSU Los Angeles, além de galerias e espaços públicos localizados em Belgrado, Düsseldorf, Tijuana e Londres. Residências recentes e bolsas de estudo incluem: California Community Foundation Visual Arts Fellowship (2011) e Lucas Artist Fellowship (Montalvo Arts Center). Nancy é formada pela Art Center College of Design e pelo San Francisco Art Institute e é representada pela  Klowden Mann Gallery (Los Angeles). Também escreve para várias revistas e sites sobre arte, educação e política.

Mais informações
http://www.nancypopp.com
http://klowdenmann.com/artist/nancy-popp/

Texto curatorial
por Bernardo José de Souza

A investigação artística de Nancy Popp se dá no intervalo espacial entre dois ou muitos pontos. Interessada nas fronteiras que separam e demarcam politicamente a esfera pública e a privada, a artista estadunidense costuma usar o corpo (via de regra o seu próprio) ou a ausência dele como elemento desarticulador de discursos investidos de forte carga excludente e discriminatória. Ao posicionar-se entre um espaço e outro, ela redimensiona a paisagem evidenciando as distâncias que o poder político e econômico estabelecem entre o cidadão e determinados setores da sociedade.

Ao investigar as complexas tramas do tecido social, seus nós, pontos de ruptura e rugosidades, Popp estabelece uma espécie de programa de ocupação de espaços públicos que busca tensionar a rede social e as arquiteturas de poder que subjazem às superfícies aparentemente democráticas da malha urbana. Para tanto, a artista lança mão de alguns recursos plásticos e gráficos para tornar visíveis sistemas de controle e apartamento social latentes nas grandes cidades, quais sejam, a presença (frágil?) do corpo humano em paisagens industriais ou essencialmente urbanas e a Mason line (esta última, uma fina corda de intensa coloração laranja, comumente usada para demarcar obras e espaços, cujo nome remete aos traçados cartográficos da América do Norte colonial, quando da disputa por fronteiras entre os estados de Maryland, Pensilvânia e Delawareque) – exemplos de suas ações anteriores são escaladas de monumentais empreendimentos em construção em zonas de vulnarabilidade social em Los Angeles e de postes de iluminação pública em centros de grande aglomeração urbana dos EUA.

Chegada ao Rio de Janeiro, Popp buscou estreitar laços com comunidades afetadas por programas públicos de gentrificação, especialmente aquelas que, em função da Olimpíada, correm o risco de enfrentar o que poderia se chamar de diáspora urbana. Mas para além de seu propósito inicial, a artista tratou de mapear a cidade e entender seus fluxos humanos, culturais e políticos, de modo a identificar áreas e situações que pudessem ser ativadas mediante sua atuação performática. Longas caminhadas pela zona portuária carioca, e mesmo o confrontamento entre as experiências em espaços urbanos tão díspares quanto Rio, São Paulo e Los Angeles, levaram-na a refletir sobre o comportamento coletivo em espaços públicos.

Ao confrontar as lógicas de vida e produção naquelas cidades, Popp percebeu que as condições de mobilidade variavam de tal maneira a ponto de afetarem profundamente as noções de lazer nesses três distintos locus urbanos. Enquanto vagar a esmo por uma cidade brasileira pode ser considerada uma mera atividade de prazer, nos EUA bem poderia consistir em uma ação de risco, passível de ser controlada pelo Estado.

Como resultado de sua residência na Despina | Largo das Artes, a artista decidiu conectar a instituição onde trabalhou ao prédio histórico diametralmente oposto ao seu, no qual funciona o IFCS – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Para tanto, lançou uma rede de dormir, tramada por ela própria com a tradicional Mason Line, de um extremo ao outro da Rua Luis de Camões, no Centro do Rio de Janeiro, por onde circulam milhares de trabalhadores diariamente. Mas para além de simplesmente dotar a paisagem carioca de um novo elemento – elemento este que remete justamente à ideia de descanso e lazer -, a artista tratava de estreitar laços entre uma instituição privada e outra pública, entre um espaço de arte e outro de conhecimento científico, questionando os limites entre esferas culturais tão semelhantes em seus propósitos políticos, embora tão distanciadas em suas atuações diárias.

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Cleo Sanchez

Cleo Sanchez
01.04.2016 - 30.06.2016

Nasceu na Espanha, vive e trabalha entre a Europa e os Estados Unidos. A sua prática artística é mista e transita pela fotografia e instalação. Já expôs na França, Inglaterra, Portugal e Alemanha.

Para a sua residência de três meses no Rio de Janeiro, Cleo pretende ampliar a sua pesquisa estética que envolve fisiologia e gênero e os desdobramentos socio-políticos associados a esta temática. Também pretende explorar algumas questões inerentes à realidade da mulher e dos transgêneros no país.

Mais informações: www.sanchezcleo.com

 

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Susan Leen

Susan Leen
01.04.2016 - 30.04.2016

Nasceu na Irlanda. Vive e trabalha em Paris. A sua prática artística aborda noções de identidade e de “tomada de lugar” relacionados ao espaço. Utilizando linguagem cartográfica, Susan procura desmantelar os sistemas utilizados para apresentar territórios. Por meio de uma estratégia política objetiva, a artista pretende criar um novo vocabulário para expressar realidades negligenciadas em diferentes ambientes. Esta pesquisa toma forma na escultura em papel, instalação, desenho e algumas técnicas de corte. Esta abordagem, que se aproxima de uma especie de “abstração cartográfica”, visa expressar a complexidade da localização de uma forma tátil. Susan prioriza a luz e os materiais delicados para enfatizar a natureza frágil dos diferentes sistemas em questão, ecológicos ou sociais, e as tensões inerentes contidas nesses espaços.

Durante a sua residência no Rio de Janeiro, a artista buscou se concentrar na identidade geográfica local e na conformidade desta com a estratificação social. Para tanto, examinou alguns terrenos locais e a morfologia urbana inerente a eles, além dos efeitos sobre os dramas sociais, culturais e políticos da cidade. Utilizando-se de formas plásticas, Susan busca uma resposta poética às repercussões amplas do colonialismo e à formação dos territórios. Seu processo de investigação envolve a política de identidade, arquitetura e distribuição de recursos, além do conceito de resiliência como resultado do “mal-estar” em uma região e também como uma constante na natureza humana e dos territórios – considerando aqui que todos os sistemas de vida estão em um estado de fluxo constante, resistência e processo de “reparação”. Um de seus projetos de residência é desenhar no texto “Pour Une Topologie Sociale”, do arquiteto e antropólogo francês Philippe Bonnin, que observa o papel do espaço em nossas sociedades, tendo em vista os fatos sociais e as suas relações de influência, bem como os aspectos psicológicos e emocionais.

Exposições recentes:

Construct the Future, Hoxton Gallery, Londres, Reino Unido; What if We Got it Wrong?, F.E. Mc William Gallery, Co.Down, Reino Unido; Et si on s’etait trompe?, Irish Cultural Centre, Paris, França; Relational Geographies UAL Gallery, High Holborn, Londres, Reino Unido; Ce n’est pas une heure pour les histoires de revenants, Rentrons! Villa Belleville, Paris, França; Young, SO Fine Art Editions, Dublin, Irlanda; Carnet de Reves III, Gallery Les Moulins, Ile-de-France, França;
 Describing Architecture: Work in Progress, The Octagonal Room, Dublin, Irlanda; Carnet de Reves II, Gallery Les Moulins, Ile-de-France, França; La Belevedere, Subjective Mapping, projeto instalado no Belleville Park, Paris, Describing Architecture: scale and medium, Architectural Association of Ireland, Dublin, Irlanda; Genius Loci, ‘Axa in Action’ AXA, Praga, República Tcheca.

Residências recentes:

Joya Arte y Ecologia Residency, Andaluzia, Espanha,
 2015: Food Water Life, residência de inverno no Banff Centre, Alberta, Canada, 2013/5;  La Forge, Belleville, sob a direção do Point Ephemere.

Texto curatorial
por Bernardo José de Souza

(Hi) Brazil: das utopias de ontem às distopias de hoje

O interesse de Susan Leen pela cartografia fez com que a artista estudasse os mapas da Europa Central antes de embarcar em sua jornada rumo ao sul, para um período de residência no Rio de Janeiro. Ao fechar seu foco sobre a costa iralndesa, e mais especificamente ainda, sobre um pequeno corpo presente nas cartografias desenhadas durante a alta Idade Média (por volta do século XIV), descobriu algo que conectaria sua terra natal, a Irlanda, ao distante país tropical que escolheria como destino: a ilha Hi Brazil, situada às coordenadas 52.0942532 N e 13.131269 W de alguns mapas, abriria um novo e sui generis flanco na pesquisa promovida pela artista.

Muito embora esta ilha não mais figure no mapa-múndi, investigações quanto à sua natureza envolta em mitologias, ensejam uma série de elucubrações que a dotam de renovado interesse ao pensamento contemporâneo. Segundo reza a lenda, Hi Brazil seria uma terra de prazer perpétuo e festejos, jamais alcançada pelos meros mortais. O trecho a seguir, extraído de um poema medieval dá conta de sua aura mística:

“No oceano que esculpe as rochas onde moras,
Uma terra enigmática apareceu, é o que contam;
Os homens a consideraram uma região de luz e descanso,
E a chamaram de O’Brazil, a ilha dos Bem-Aventurados.
Ano após ano, na margem azul do oceano,
A linda aparição se revelava encontadora e suave;
Nuvens douradas encortinavam o mar onde ela se encontrava,
Parecia um Éden, distante, muito distante.”

Uma rápida e descompromissada pesquisa pelo Google – outro mundo repleto de mitos, lendas e mentiras – nos permite embarcar em uma miríade de estórias fantásticas a alimentar a esquecida existência daquele pedaço de terra insular jamais encontrada. Entre os relatos, alguns remetem a um reino de gente sábia e sofisticada, outro alude a existência de gigantes coelhos negros, enquanto muitos dão conta de um mundo de abundância e alegria.

O que salta aos olhos, à imaginação e à crítica, entretanto, é o fato de, mesmo antes do descobrimento do Brasil, haver já uma mística envolvendo esse nome, a qual sinalizaria antecipadamente todas as outras mitologias que se seguiram e permanecem, até os dias de hoje, assombrando ou apaziguando, dependendo da ótica, logicamente, a alma do povo brasileiro. Sete séculos mais tarde, este país que ora prospera e ora regride, mas sempre investido de renovada esperança e carga romântica, segue frustrando expectativas e enaltecendo discursos tão demagógicos quanto populistas.

Já adiantado o século XX, o escritor Stefan Zweig referirir-se-ia ao Brasil como o “país do futuro” (1941), algo que serviria tanto à retórica do então ditador Getúlio Vargas quanto ao mote “50 anos em 5”, entoado por Jucelino Kubitschek em seu governo também responsável pela construção de outro espaço utópico a povoar a imaginação mundial, a cidade de Brasília. Mais recentemente, não obstante, outra vez o Brasil encontra-se envolto em uma espessa cortina de fumaça, tal qual aquela da ilha jamais materializada na costa da Irlanda. Os últimos dez anos de aparente prosperidade, que por fim alçariam o país à tal sonhada condição de país do futuro, terra mítica sempre disposta a abraçar supostos pensamentos utópicos, acabariam por envolver o nome Brasil, outra vez mais, em uma espessa e enganadora cortina de fumaça: justamente aquela que encobriu as críticas quanto ao governo do presidente Lula e que agora também serve para embalar o processo de impeachment à presidente Dilma Roussef.

Susan Leen não poderia, quer seja por intuição ou mero acidente, ter descoberto melhor metáfora para descrever o quanto há de ficção na construção da História. Mais do que isso, sua pesquisa sobre Hi Brazil, face ao presente momento histórico atravessado pelo Brasil, não poderia ter sido mais oportuna.

Na instalação que apresenta na Despina | Largo das Artes, exibe fotografias e um filme registro da ação que desenvolveu no Largo São Francisco, o qual acaba por revelar o quanto vivemos uma crise de imaginação. Distantes da sempre requentada utopia a impulsionar o Brasil vez que outra rumo ao futuro, as pessoas que circulavam pela praça histórica do centro carioca, e que lá deparar-se-iam com uma linha de pó branco a desenhar no pavimento os contornos de Hi Brazil, pareciam ignorar por completo a presença de um corpo estranho na geografia daquela praça repleta de gradis e banhada pela História. Por sobre ela, caminhavam sem tempo ou disposição para divagações. A realidade atual parece não mais nos autorizar a devaneios.

Mas, sim, haveria de existir uma centelha de esperança: a única criatura a reconhecer a existência de Hi Brasil sobre as pedras portuguesas daquele Largo foi uma criança de rua, que gastou seu tempo a brincar sobre os esmaecidos contornos daquele pedaço de utopia no mundo contemporâneo.

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Kristyna Müller

Kristyna Müller
01.04.2016 - 08.05.2016

Kristyna Müller é uma curadora que trabalha para o centro de arte contemporânea Haninge Konsthall em Estocolmo (Suécia). Também atua como curadora independente e já trabalhou para o Czech Centre e o Museu Vasa, ambos em Estocolmo. Graduada em fotografia pela FAMU em Praga, é mestre em curadoria pela Universidade de Estocolmo.

A sua prática curatorial transita por questões sociais que envolvem instalações site-specific e intervenções públicas. Além de desenvolver projetos curatoriais para várias exposições, também é responsável pela edição da publicação “Konst, språk och kollisioner” (2015), que explora os projetos em curso no centro Haninge Konsthall.

Durante a sua participação no Programa de Residências Despina, ela visitou artistas e curadores com o intuito de discutir temas relacionados à rápida mudança paisagística do Rio de Janeiro e o desenvolvimento urbano a partir de perspectivas econômicas, ambientais, sociais e políticas. Como resultado desta residência, ela apresentou um conceito de pesquisa intitulado “O efeito placebo de utopia: um projeto de pesquisa sobre o espaço urbano” (disponível em inglês no formato PDF aqui) durante um evento aberto ao público no nosso espaço. E juntamente com a artista Vivian Caccuri, Kristyna também organizou a 25ª Caminhada Silenciosa /Silent Walk. Nesta ação, cada participante foi convidado a trazer alguma ideia para realizar durante a caminhada, sementes foram plantadas, músicas tocadas, entre outras ações. A caminhada é feita sob um voto de silêncio a fim de explorar a paisagem sonora da cidade urbana. Leia mais em http://caminosilencio.tumblr.com

A participação de Kristyna Muller no Programa de Residências Despina contou com o suporte de Helge Ax: son Johnsons Stiftelse.

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Sarah Crew

Sarah Crew
01.03.2016 - 31.03.2016

Sarah Crew é um artista e escritora que vive e trabalha em Bristol (Inglaterra). É mestre em Fotografia pela Central Saint Martins, University of the Arts London. A sua prática transita pela instalação, filme, som e performance ao vivo, e envolve as relações mutáveis, as conexões e os pontos de disjunção entre o humano, o animal e a paisagem. As implicações disso são analisadas por meio da utilização da tecnologia contemporânea, que está incorporada em um ambiente cada vez mais tátil e dualista.

Durante a sua participação no Programa de Residências Despina, Sarah irá explorar noções hodiernas de paisagem, localidade e a ideia de “lugar” em territórios aterrados no Rio de Janeiro. Também pretende investigar as falhas tecnológicas no mapeamento sensorial tanto do mundo físico quanto do virtual.

Mais informações: www.sarahcrew.com

Helena de Pulford

Helena de Pulford
01.03.2016 - 31.03.2016

Helena de Pulford vive e trabalha em Londres (Inglaterra). Graduada pela Central Saint Martins, University of the Arts London, foi contemplada com o Art Cass Prize e selecionada para o programa Acme. A sua prática artística é essencialmente escultórica, mas também incorpora performance, escrita e imagens em movimento. Seu trabalho reinterpreta a história visual europeia por meio de questões que envolvem teorias contemporâneas de gênero.

Exposições recentes incluem: 3×3 Collaborations for Art Licks Weekend 12 Orpen Walk, Londres (2015); Supermarket Sweep, Nice Galley, Londres (2015); Degree Show CSM School of Art, Londres (2015); Open Studios, 1 Granary Square, Londres (2014); Talking about Pink Salmon, 1 Granary Square, Londres (2014); Copy, Elthorne Road Project Space, Londres (2014) e Para-Site, Concourse Gallery, Londres (2013).

Durante a sua participação no Programa de Residências Despina, Helena pretende investigar alguns rituais domésticos e observar ações que envolvem ativismo político de gênero e práticas de arte feministas no Brasil contemporâneo. Também irá coordenar uma oficina de performance no Largo das Artes.

Mais informações: http://www.helenadepulford.com/

Durante o mês de março, o Programa de Residências Despina realiza um ciclo especial em parceria com a Central Saint Martins, University of the Arts London. Quatro artistas recém-graduadas foram selecionadas e comissionadas por meio de uma convocatória aberta conduzida pela instituição britânica para participar do nosso programa.

Beatrice Vermeir

Beatrice Vermeir
01.03.2016 - 31.03.2016

Beatrice Vermeir é uma artista, crítica e poeta que vive e trabalha em Londres. É formada em escultura pela Central Saint Martins, University of the Arts London. Em junho de 2015, Beatrice participou de uma residência no Grizedale Arts, em Cumbria, no noroeste inglês, onde desenvolveu um projeto que combinou a história da comida local com a filosofia educacional e experimental de John Ruskin. As atividades desta residência envolveram oficinas de produção de queijo e de um café comunitário de baixo custo, além do cultivo de uma horta. Em novembro do mesmo ano, Beatrice colaborou com o coletivo londrino “Houserules”, participando de um programa de passeios conduzidos por artistas na região de Peckham, em Londres (parte da programação da ArtLicks). Também atuou como diretora e figurinista na produção teatral “‘You Are Me And I Am You ”, que esteve em cartaz durante o último Festival VAULT, em Londres.

A sua prática artística é mista e colaborativa e está focada na pesquisa de formas alternativas de organização social, de trabalho e educação. Durante a sua participação no Programa de Residências Despina, Beatrice pretende investigar as atividades de grupos ou pessoas que experimentaram práticas performativas no contexto da vida cotidiana e sócio-política do Rio de Janeiro na década de 70, como o Living Theatre, o Teatro do Oprimido e o artista carioca Helio Oiticica.

Durante o mês de março de 2016, o Programa de Residências Despina realiza um ciclo especial em parceria com a Central Saint Martins, University of the Arts London. Quatro artistas recém formadas foram selecionadas e comissionadas por meio de uma convocatória aberta conduzida pela instituição britânica para participar do nosso programa.

Carlotta Novella

Carlotta Novella
01.03.2016 - 31.03.2016

Carlotta Novella nasceu em Veneza (Itália). Vive e trabalha em Londres (Inglaterra). É graduada em Gestão da Construção, com mestrado em Arquitetura: Cidades e Inovação pela Central Saint Martins, University of the Arts London.

O trabalho de Carlotta aborda questões sócio-políticas e culturais contemporâneas através de um olhar espacial, com foco na confluência entre espaços públicos e privados. Um de seus projetos, “Bairros Industriais”, apresentou estratégias urbanas alternativas e intervenções de design para facilitar o trabalho em casa para beneficiários de programas de habitação social. Entusiasta do trabalho colaborativo, a sua prática transita por estruturas temporárias (sócio-espaciais e móveis), desenhos arquitetônicos, oficinas participativas, eventos e performances.

Durante a sua participação no Programa de Residências Despina, Carlotta pretende explorar alguns modelos de trabalho colaborativos que acontecem em espaços privados e em espaços sociais compartilhados por uma comunidade de um bairro específico do Rio de Janeiro. Tendo em vista este contexto, a artista planeja conduzir algumas oficinas no seu ateliê com o intuito de construir uma serie de objetos, ferramentas e acessórios, inspirados nas narrativas e nas necessidades das famílias que tocam seus negócios e empreendimentos a partir de um ambiente privado. Estes objetos serão eventualmente coletados em um arquivo móvel, e posteriormente doados, compartilhados e expostos pelos empreendedores locais.

Mais informações: http://carlottanovellaworks.com/

Durante o mês de março de 2016, o Programa de Residências Despina realiza um ciclo especial em parceria com a Central Saint Martins, University of the Arts London. Quatro artistas recém formadas foram selecionadas e comissionadas por meio de uma convocatória aberta conduzida pela instituição britânica para participar do nosso programa.

Joe Williamson

Joe Williamson
01.01.2016 - 29.02.2016

Joe Williamson vive e trabalha em Nottingham (Reino Unido). Graduado em Artes Visuais pela Norwich University of the Arts, com passagem pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (Portugal). A prática de Joe normalmente envolve questões que procuram redefinir e desconstruir a maneira como o ser humano ocupa o espaço. Através do uso de materiais do cotidiano e materiais esculturais mais tradicionais, ele sustenta uma verdade poética de como podemos situar-nos entre os objetos. Durante o período de sua residência no Rio de Janeiro, Joe permitiu que influências locais penetrasssem na sua obra (no que concerne à história cultural do Rio), com o intuito de criar algo que estivesse em sintonia com temas vigentes na sociedade contemporânea. Joe tem um fascínio particular por coisas que são “quase invisíveis” e a tensão que envolve a longevidade dos objetos.

Texto curatorial
por Bernardo José de Souza

Fluxos iconográficos acompanham movimentos migratórios e respaldam estratégias de dominação política, embalando assim o crescente processo de globalização posto em marcha com as grandes navegações e recentemente intensificado graças às novas tecnologias da informação – formações culturais que antecederam a era moderna tendiam a ficar circunscritas a seus limites geográficos, logrando tão-somente cruzar suas fronteiras territoriais imediatas. Durante o período colonial, entretanto, ao extrapolar barreiras marítimas até então insuperáveis, impérios europeus constituíram postos de dominação avançados, além-mar, erguidos às expensas de seu poderio bélico e de sua força econômica, mas também às custas de expedientes sub-reptícios de imposição cultural, forjados pelas vias transversas das crenças religiosas e da miscigenação cultural, resultando em sociedades sincréticas destituídas das raízes culturais que as haviam engendrado.

Após passagem pela academia de belas-artes em Portugal, o artista inglês Joe Williamson veio dar nos costados brasileiros, mais especificamente no Rio de Janeiro, esta colônia lusitana entre os séculos XVI e XIX e que, por boa parte desse período, foi explorada concomitantemente pela coroa britânica, a quem os portugueses submetiam-se tanto econômica quanto politicamente. Sua prática artística eminentemente escultórica versa sobre a transitoriedade da iconografia, sobre a instabilidade das malhas simbólicas e, mais particularmente, sobre a potência semântica de objetos investidos de alto teor icônico e político.

Destituídos de sua aura primordial, deslocados de seu ambiente natural, os objetos e materiais eleitos pelo artista parecem sofrer do mesmo estranhamento experimentado pelos povos expatriados, subtraídos de sua herança cultural. Em que pese a transformação arbitrariamente imposta a esses objetos pelas mãos do artista, eles resistem e preservam parte de seus atributos essenciais. Ao criar formas híbridas, anomalias simbólicas em renovados contextos, Williamson vai gradativamente solapando o terreno estável do cânone ocidental e estabelecendo um diálogo profícuo entre forma e conteúdo, entre produto e obra de arte, entre passado e presente.

Há, todavia, uma certa esquizofrenia latente nas obras do artista; ao passo em que as esculturas exibem sua nova natureza aos olhos do público, libertas em seu novo corpo, elas parecem padecer de um mutismo vernacular, caladas diante da impossibilidade de voltar a estabelecer relações absolutas com seus referentes originais.

Nesta toada, Williamson dá corpo e alma a um conjunto de obras que derivam de sua vivência no Rio de Janeiro e que bebem na fonte da antropofagia: um coco eloquente, uma fruta dotada de boca, capaz de inverter a relação usual entre conteúdo e continente, entre explorado e explorador, tensionando assim as possibilidades semânticas deste ícone da tropicalidade brasileira; uma bandeira anglicana costurada à moda dos mosaicos de pedras portuguesas, destituída de sua geometria original, tornada agora um amálgama das tensões históricas, isto é, um símbolo em retalhos que não mais conta a história oficial de seu império, mas justamente aquela excluída da construção simbólica oficial, remetendo tanto às conflituadas relações entre Inglaterra e Portugal quanto ao ícone que a engendrou: São Jorge, padroeiro de ambos os países; uma pequena poesia que desmantela o nexo verbal e a coesão semântica, gerando um jogo semiótico que revela o processo criativo do artista; um candelabro onde os oito templários ali representados abandonam seus respectivos templos para fumar um cigarro, subvertendo a matriz religiosa da peça em nome de um ritual profano e mundano forjado pelo vício ocidental, materializado numa carteira de Marlboro árabe; e uma garrafa híbrida d’água/vinho tinto, contrapondo o teor sagrado de ambas as bebidas à sede das massas depauperadas, à voracidade do mercado e à própria artificialidade que embala a natureza na sociedade de consumo.

 

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