Arte e Ativismo na América Latina – ano II (2017)
PRESENTE! CORPOS-SUJEITOS, RESISTÊNCIA E INSUBORDINAÇÃO
Quando escolhemos o CORPO como tema do segundo ano do projeto ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA, nos deparamos com uma imensidão complexa e bela, e ao mesmo tempo desafiadora. Como dar conta de corpos que são maiores do que qualquer projeto, maiores do que eles próprios? Como dar voz à diversidade de narrativas diante das limitações inerentes ao desenho de um projeto específico? A resposta foi a construção coletiva de uma programação paralela, possível graças ao engajamento e às proposições de artistas e pesquisadores que trabalham e pensam o corpo a partir de seu potencial micro-político e transgressor.
Tendo em vista esse desafio, criamos um evento multidisciplinar que será realizado em dois sábados: 26 de agosto e 2 de setembro. Não esperamos com isso esgotar o assunto, ao contrário. A conversa está só começando.
Todxs os corpos são bem vindxs!
PROGRAMAÇÃO DO DIA 26 DE AGOSTO
16h00
NÓS SOMOS PORQUE ELXS SÃO
Eu-Você-Nós-Elxs: disposições precárias, temporárias e em constantes conformações através de encontros e desencontros. O que está em jogo para os corpos dissidentes, fora das hegemonias de cor, raça e classe (listando apenas os principais sistemas estruturantes da diferença) quando seus campos de atuação cultural se inscrevem em um dos mais, senão o mais elitizado e excludente de todos? Como as políticas neoliberais descoladas e ao mesmo tempo marginalizantes que envolvem o circuito da arte contemporânea acabam por influenciar a produção de artistas negrxs? Como a gente faz nossos corres de arte, diante de tantos outros corres, que nos deixam em condições precarizantes? Esses fatores nos colocariam em desvantagem ou daí produziríamos também nossa potência? A presente proposição tem como objetivo estimular uma conversa pluriversal com todxs os presentes sobre as condições sempre adversas de ser artista visual afrodescendente no maior país negro da diáspora forçada africana. Para tanto, como disparadores de nossa dinâmica de partilhas contaremos com 7 artistas que se dispõem de saída como ativadores de reflexões a partir de suas vivências. São elxs: Aline Besouro, Jandir Jr., Lyz Parayzo, Marina .S. Alves, Millena Lízia, Rafa Éis e Renata Sampaio. Contudo, todxs estão convidadxs para dividir suas experiências, pois o formato de nossas falas fluirá através da composição ancestral-utópica da roda de conversa: em que ninguém está atrás ou na frente de ninguém, estamos todxs um ao lado dx outrx.
18h00
O MANIFESTO FREAK E OUTRAS CONVERSAS SOBRE O CORPO MODIFICADO
Partindo de vivências e experiências nos meios das modificações corporais do Brasil e inspirado no body hackitivism, na teoria queer, teoria crip e em todas as teorias em curso sobre possibilidades de vidas desviantes, a educadora, historiadora, artista e ativista T. Angel discorre sobre aquilo que podemos chamar de teoria freak ou a teoria dos anormais.
19h00
A COMPLEXIFICAÇÃO DOS CORPOS: ESPREMIDOS RELATOS ENTRE A FAVELA E A CADEIA
Thainã de Medeiros e Samuel Lourenço conversam sobre as sanções à mobilidade dos moradores dos bairros periféricos. O aprisionamento destes corpos acontece em diversas esferas: no encarceramento em massa de jovens negros, na dificuldade de mobilidade social, nas limitações de locomoção e na falta de liberdade de trânsito pela cidade.
21h00
PERFORMANCE “INAPTO” (30′)
com T. Angel
Inapto – Adj. Que não possui nem demonstra capacidade e/ou aptidão.Que não é capaz; sem habilidade.
Como se operam os sistemas de segregação e exclusão do acesso de determinadas pessoas ao mercado de trabalho. O que está debaixo do véu da hipocrisia que acoberta e faz girar essa velha roda é um sistema normativo, controlador, reacionário e autoritário por onde se selecionam não apenas quem entra no mercado de trabalho, mas sim, quem deve ou não existir. Eles dizem com um sorriso cordial cínico que não estão contratando, que as vagas foram todas preenchidas, que não temos o perfil para o cargo ou para a empresa ou, ainda, debruçados no discurso médico, carimbam em nossas testas que somos inaptos. Nós dizemos com o rosto lavado de sorriso que eles são capacitistas, cisterroristas, heteronormativos, racistas, gordofóbicos, meritocráticos e eugenistas. O que de fato está inapto?
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PROGRAMAÇÃO DO DIA 02 DE SETEMBRO
16:00
APROVEITE SUA PRÓSTATA – CINEMA KUIR
A questão é bem simples e direta. Como uma parte da anatomia masculina pode ser renegada em nome de uma suposta virilidade? Ainda mais essa parte sendo o equivalente ao ponto G masculino. Debate com o Vinicius Nascimento e Daniela Avellar, que formam o coletivo CINEMA KUIR.
17h30
ESBOÇANDO PLATAFORMAS: CORPO COLETIVO E ENTIDADE
Em um mergulho profundo entre instituições psiquiátricas e terrenos baldios, o artista Jefferson Andrade traça uma análise teórico-prática de formas de vida que estão na borda da produção de narrativas. Transdisciplinaridade e inteligência coletiva como mecanismos de produção de conhecimento. Através de uma nova gestão do corpo, como podemos evocar uma comunidade por vir ou mesmo uma entidade?
19h00
MAIS DADOS, MENOS INVISIBILIDADE
Quantas pessoas trans ocupam cargos públicos no país? Que porcentagem de mulheres empresta seus nomes a ruas e praças? A maioria masculina na chefia da mídia impacta a forma como as mulheres são retratadas? A jornalista Maria Lutterbach apresenta “Gênero e Número”, uma iniciativa independente de jornalismo que garimpa, analisa e difunde dados em resposta a perguntas como essas para qualificar o debate sobre os direitos das mulheres e da população LBTQIA+ no país e na América Latina. Tornar dados acessíveis é estratégico não só para embasar discursos de mudança e construção de políticas públicas, mas sobretudo para revelar corpos e sujeitos repetidamente invisibilizados.
20h30
PRAZER É RESISTÊNCIA
A artista visual e dj Susana Guardado encontra na música e na sua experiência sensorial a “possibilidade de construir narrativas coletivas sem palavras”. Na pista de dança, local de participação e partilha onde se desenvolvem momentos rituais sem transcendência, formula-se as questões que irão servir de base ao seu trabalho visual: as relações interpessoais na sociedade ocidental contemporânea; a música como elemento agregador, contaminador, condutor, gerador de imagens e momentos, capaz de produzir e convocar memórias; e, sobretudo, a vivência pessoal da artista destas mesmas realidades, numa incessante procura de identidade e auto-conhecimento. Por isso, o trabalho de Susana Guardado não define, apenas sugere; sugere a sua própria história que se pode, ou não, identificar com outras histórias, abrindo campo à estimulação da memória, convidando à viagem e à criação de novos sentidos. Nas ruas, nas festas híbridas e construídas coletivamente (fora dos mecanismos tradicionais), arte, hedonismo e contracultura se encontram. Prazer é poder que emana do corpo.
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SOBRE OS PARTICIPANTES
26 DE AGOSTO
ALINE BESOURO
Sua atuação artística tem como conexão o interesse em alguém e a possibilidade de narrar alguma coisa tendo como suporte diversas materialidades e possibilidades. Integra diversas propostas coletivas, tais quais o Grupo MAd, voltado para performances, pesquisas sobre relações entre-corpo e de criação de dispositivos relacionais, desde 2012; a Bendita Gambiarra, projeto de ilustração e construção artesanal, desde 2014; e também o grupo Antessala, grupo editorial que possui como principal publicação o jornal de mesmo nome, cuja pesquisa perpassa assuntos sobre ditadura, proposição curatorial e memória. Na área de proposições artísticas-educativas, destaca-se o projeto Transcrições, de início em 2015, voltado para pessoas transexuais e travestis e o laboratório Coser, que acontece desde 2015
JANDIR JR.
Desenvolve o site processofolio.tumblr.com e, junto com Antonio Gonzaga Amador, performa a Amador e Jr. Segurança Patrimonial LTDA., que consiste em ações específicas realizadas pelos artistas trajando uniformes de segurança em espaços dedicados à exposição de obras de arte.
LYZ PARAYZO
Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Manicura e puta-pornô-terrorista, iniciou seus estudos na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage e começou a invadir galerias de arte com intervenções estético-políticas. Como um vírus, subverteu os protocolos de poder dos espaços institucionais borrando as fronteiras do que é oficial. Tem o corpo como principal suporte de trabalho e sua performatividade diária como plataforma de pesquisa. Suas bombas-plásticas desestabilizam as tecnologias heteronormativas e coloniais, são projeções anabolizadas da sua existência. Vem desenvolvendo video-instalações com conteúdo pós-pornográfico, joias bélicas e atualmente está pesquisando as performances de gênero e classe a partir da cor em seu “Salão Parayzo”, dispositivo itinerante no qual atua como manicura.
MARINA S. ALVES
Ativista visual que encontrou na fotografia de espetáculos de dança e na fotogradia documental a motivação para desenvolver uma autoria. É fotografa do núcleo de criação e produção audiovisual AGÔYÁ, sediado no Centro Afrocarioca de Cinema, Lapa/RJ, composto por mulheres que utilizam a imagem como meio de visibilização critica de temáticas político-sociais e atua como professora de fotografia digital na Coordenadoria de Arte e Oficinas de criação da UERJ.
MILENA LÍZIA
Mestranda de Estudos Contemporâneos das Artes – UFF. Graduada em Comunicação Visual (2009) e com especialização em Montagem Cinematográfica (2012). Começa em 2010, por meio de oficinas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, sua pesquisa em arteS. Foi o uso da tecnologia (geralmente em dispositivos low-techs de vídeo, animação e fotografia) que a despertou para uma poética voltada para x(s) corpx(s) e sua(s) relação/ões com o(s) mundo(s).
RAFA ÉIS
Natural de Porto Alegre – RS. Desde 2007 colabora com projetos pedagógicos de museus, centros culturais e projetos independentes vinculados às artes visuais. Integrante-fundador do Coletivo E, grupo independente de artistas-educadores. Em 2017 concluiu seu mestrado em processos artísticos pelo PPGARTES-UERJ. Atua como orientador de oficinas artísticas (artes visuais) no Centro Cultural UERJ/COART.
RENATA SAMPAIO
É artista multidisciplinar. Seus trabalhos orbitam o corpo negro feminino e questões ligadas à identidade, intimidade e territorialidade. Trabalhou em diversas instituições e exposições artísticas como arte educadora investigando as possibilidades da educação com a performance.
T.ANGEL
Trabalha com educação pública em Osasco, Grande São Paulo. Graduadx em história, é artista e ativista pelos direitos dos animais humanos e não humanos. Nas últimas décadas tem pesquisado as modificações corporais sob uma perspectiva histórica. Parte dessa pesquisa tem atravessado o seu próprio corpo, na realidade é de onde tudo se iniciou. O ponto de partida foi a própria carne. Em 2015, publicou o livro “A Modificação Corporal no Brasil”, 1980-1990 (Editora CRV) e em 2016 publicou eletronicamente o “Manifesto Freak”. Partindo dessas escritas e experiências, surge a proposta para se desenvolver uma conversa e um exercício de reflexão acerca das subjetividades e corporalidades que não se encaixam nos padrões do discurso hegemônico.
THAINÃ DE MEDEIROS
Museólogo e jornalista, nascido e criado na Penha, reside há 4 anos no Complexo do Alemão, onde atua no Coletivo Papo Reto utilizando a tecnologia para a disputa de narrativa sobre a favela e garantia de direitos humanos. Usa a capoeira como forma de relaxar e funk para entender a cidade.
SAMUEL LOURENÇO FILHO
Ex-presidiário, membro do “Eu sou Eu: Reflexo de uma vida na prisão” (grupo composto por egressos) e aluno de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social – UFRJ.CINEMA KUIR surge da necessidade de criar um dispositivo que opere como um espaço para reflexão de temas que gravitam entre anarquismo e modos de vida e estar junto que escapam às normas vigentes atrelados a arte e audiovisual.
02 DE SETEMBRO
CINEMA KUIR
É um coletivo de cineclube que opera como um espaço de reflexão sobre questões que orbitam em torno do anarquismo e dos modos-de-vida-e-estar-junto, desprendido dos circuitos normativos e institucionalizados da arte e do audiovisual. Começa suas atividades no ano de 2016 na Galeria Índica, em Ipanema, onde permanece por uma temporada até migrar para a Casa Nem, espaço de resistência e acolhimento da população trans. Em 2017, o Cinema Kuir assume uma estratégia mais itinerante e pensa seu funcionamento através da autogestão. A curadoria busca estabelecer laços com espaços ligados à arte e à política, estabelecendo situações de parcerias e colaborações. As sessões do Cinema Kuir são sempre compostas por um ou mais filmes, seguidas de debates, tensionando temas suscitados pelas obras, a partir das pesquisas e vivências pessoais dos seus realizadores. As sessões acontecem sempre de forma gratuita e colocam-se como um dispositivo aberto. Cinema Kuir é Vinicius Nascimento, Calí dos Anjos, Daniela Avellar e Helena Assanti.
JEfFERSON ANDRADE
Artista, escritor e teórico-ativista. Com uma abordagem conceitual, suas obras referem a teoria pós-colonial, desenvolve trabalhos de investigação sobre inteligência coletiva, ciberespaço e novas narrativas. As obras são baseadas em situações inspiradoras: visões que refletem uma sensação de indisputabilidade e contemplação serena.
MARIA LUTTERBACH
Cofundadora da “Gênero e Número” e realizadora audiovisual. A “Gênero e Número” é uma organização de mídia independente que trabalha com jornalismo de dados para qualificar o debate sobre gênero e direitos humanos no Brasil e na América Latina. Além do conteúdo publicado em www.generonumero.media, a iniciativa desenvolve pesquisas e organiza eventos voltados a amplificar o tema para além do nicho ativista.
SUSANA GUARDADO
Portuguesa radicada no Rio, é artista visual e dj. Idealizadora de diversas festas e ações coletivas , entre elas, “Bota na Roda”, “Finalmente” e “Novo Romance”. Atualmente, é uma das gestoras do espaço cultural “Boca”, localizado na região central da cidade.
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SERVIÇO
PRESENTE! CORPOS-SUJEITOS, RESISTÊNCIA E INSUBORDINAÇÃO
{{{ Circuitos de falas, escutas e trocas }}}
Quando: 26 de agosto e 02 de setembro (sábados)
Horário: 16h00 – 22h00
Local: Despina
Rua Luis de Camões, 2 – Sobrado – Centro
Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita
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ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA é um projeto da Despina, realizado em parceria com a organização holandesa Prince Claus Fund, que se estende por três anos (2016, 2017 e 2018). A cada ano, um tema norteia uma série de ações que incluem ocupações, workshops, conversas, projeções de filmes, exposições, encontros públicos com nomes importantes do pensamento artístico contemporâneo e um programa de residências artísticas. Nesta segunda edição (2017), o projeto tem como tema o CORPO e se estende de maio a outubro. Mais informações e programação completa, por aqui.
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CRÉDITO DA IMAGEM
T. Angel. Fluído. 6ª Mostra Exercícios Compartilhados, São Paulo
Foto: Leonardo Waintrub
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GALERIA DE FOTOS – DIA 1
(por Frederico Pellachin e Raquel Romero-Faz)
GALERIA DE FOTOS – DIA 2
(por Frederico Pellachin e Raquel Romero-Faz)
Circuito de falas, escutas e trocas – dia 2 (Cinema Kuir – projeção do curta-metragem “Aproveite sua Próstata”)
Circuito de falas, escutas e trocas – dia 2 (Cinema Kuir – “Aproveite sua Próstata” – participação de Daniela Avellar e Vinícius Nascimento)
Circuito de falas, escutas e trocas – dia 2 (Cinema Kuir – “Aproveite sua Próstata”)
Circuito de falas, escutas e trocas – dia 2 (participação de Maria Lutterbach com a fala “Mais dados, menos invisibilidade”)
Circuito de falas, escutas e trocas – dia 2 (participação do artista Jefferson Andrade por Skype com a fala “Esboçando plataformas: corpo coletivo e entidade)
Circuito de falas, escutas e trocas – dia 2 (participação de Maria Lutterbach com a fala “Mais dados, menos invisibilidade”)