Gracey Zhang

Artistas em Residência
01.05.2017 - 31.05.2017

De origem chinesa e taiwanesa, nasceu e cresceu em Vancouver (Canadá). Vive atualmente em Nova York (EUA).

Recém-graduada pela RISD (Escola de Design de Rhode Island), Zhang trabalha como ilustradora freelancer. Sua prática artística lida frequentemente com narrativas, seja através da observação das motivações e ações decorrentes da vida dos outros, seja pela investigação dos ambientes físicos que tais pessoas habitam. Seu trabalho oscila entre grandes pinturas, desenhos e ilustrações editoriais que procuram transmitir o que guia as emoções de um indivíduo ou grupo.

Zhang foi premiada com uma bolsa pela Lighton International Artists Exchange Program (LIAEP) para participar do Programa de Residências Despina durante o mês de maio de 2017.

Mais informações
website: www.graceyzhang.com
instagram: @graceyyz
tumblr: graceyzhang.tumblr.com
vimeo: vimeo.com/graceyzhang

Apoio

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Texto curatorial
por Carla Hermann

A artista canadense radicada em Nova York Gracey Zhang tem como base de atuação o desenho e a ilustração. Formada na Rhode Island School of Design, está acostumada a trabalhar por demanda contando histórias visuais. Em sua primeira visita ao Brasil, durante sua pesquisa de um mês em residência na Despina, contrariando uma expectativa inicial de praticar o desenho de observação, Zhang partiu para uma experiência mais empática. Tocada pelo momento politicamente turbulento e nervoso que encontrou pelas ruas da cidade, ela pintou o sentimento de inconformidade e angústia que percebeu, sob a metáfora de uma pedra que personagens não identificados precisam carregar e manipular.

Em uma das conversas que tivemos, ela me contou sobre um ditado que ouvia de seu pai quando criança: “to eat bitter rocks”. “Comer pedras amargas” significava também ter que processar as coisas e encarar as dificuldades na vida: viver implica em passar por situações penosas. Passados os anos, ao se deparar com a realidade brasileira (dentro da qual, dia após dia, estamos sendo desbastados dos nossos direitos), as pedras voltaram à sua memória.

Esse sentimento incômodo e inominado da tensão política e o seu efeito no cotidiano é mostrado em uma série de pinturas, nas quais pessoas e pedras se relacionam de modo hesitante. Com a economia de linhas, tal como desenha, a artista nos mostra alguém repousando, pequenino, sobre uma grande rocha em forma de um coração humano. Outra pessoa carrega uma rocha redonda, tal qual o Atlas carrega o peso do mundo. Uma terceira figura abraça e as outras brincam, tal como num piquenique, com pequenas pedrinhas. Na sombra do desenho de observação, uma cabeça equilibra outras duas pequenas rochas. Ao brincar com as diferentes escalas das pedras, Zhang mostra que os problemas assumem maior ou menor importância de acordo com o peso que eles têm – e como lidamos com eles.

Poeticamente, o trabalho de Gracey Zhang nos lembra que sem saber como proceder, seguimos carregando um fardo. Ficamos entre a vontade de atirar pedras contra o Congresso e recuar para cuidar do que é nosso, enterrando nossa memória em jardins particulares e pessoais, entre fantasmas do passado e expectativas frustradas. Seguimos mastigando nossas próprias pedras amargas.

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Galeria de Fotos (navegue pelas setas na horizontal)
por Frederico Pellachin