Vive e trabalha em Montreal, Canadá. Seu interesse está nas muitas maneiras pelas quais o mundo pode ser vivenciado na ausência de um corpo físico. Por meio de instalação, correspondência (textual), desenho e vídeo, seu trabalho questiona os binarismos transcendência / imanência; real / virtual.
Através de dispositivos – tangíveis e intangíveis – Voghell utiliza uma mitologia pessoal que aponta para uma experiência além-mundo, mas que é extraída de uma temática muito real. Seu trabalho emerge do desejo de definir as peculiaridades das forças elementares e fenomenológicas ao nosso redor para melhor manipulá-las e reinventá-las.
Seu trabalho tem sido apresentado em festivais e várias exposições coletivas e individuais, incluindo “harbinger”, no espaço de arte Eastern Bloc (2015); no FME, em Rouyn-Noranda (Center l’Écart, 2015); no Centro de Arte Le Lobe, em Chicoutimi (2016); na Feira Paris Variation (2017); e mais recentemente na Galeria Calaboose, em Pointe-Saint-Charles (2019) e Galeria Vicki, em Newburgh (2019). Seu trabalho já foi incluído em algumas publicações, tais como Nut II, ETC MEDIA e Cigale. Também foi curadora do evento “Episode Laurier”, em junho de 2018.
***
O centro de arte contemporânea Diagonale e o Conseil des Arts de Montréal, em parceria com a Despina, contemplaram Mégane Voghell com uma bolsa integral para participar do nosso programa de residências em novembro.
O projeto que a artista desenvolveu no Rio durante esse período apresentou o fio como matéria e como noção conceitual. Considerando a inegável importância do fio (e do têxtil em geral) como ferramentas para a construção de laços entre mulheres ao longo da história, a ideia é destacar este potencial relacional de maneira prática e reflexiva. Mais precisamente, o projeto extrai suas fontes de um site on-line de relacionamento entre duas jovens – a artista, ela mesma, residente em Montreal (Canadá) e “X”, brasileira residente em Limoeiro, Pernambuco (Brasil) – e busca selar uma resolução recuperando traços do desenrolar dessa relação no tempo.
O fio da conversa, assim como o fio da costura, tem um potencial para ser esticado, para vincular elementos, para criar unidade ou ruptura. Ambos os fios agem como ligações sutis, mas também vão criando ativamente um objeto ou um assunto maior que os mantêm juntos. Nesse contexto, peças de roupas ou um relacionamento entre dois indivíduos são resultados desses fios que os contêm através do tempo e do espaço. A história investigada durante a residência de Voghell na Despina é a dessa relação mencionada acima, mas também pode ser a de uma peça mal costurada e cheia de furos, resultado da falta de tempo e espaço.
Mais informações
www.meganevoghell.com
***
Texto crítico, por Keyna Eleison
Uma intimidade repentina e pública.
Como se já fosse de madrugada e estivéssemos sentadas há anos no mesmo lugar.
E se eu contar um segredo?
Ela roubou meu coração.
Seria fácil escrever sobre o trabalho de Mégane Voghell: a artista explora relações on-line com texto e desenhos. Desenvolve todo um exercício, intenso e extenso de intimidade sem fisicalidade. Pesquisando, ela parte de materiais cotidianos e de forma intuitiva descreve sua dinâmica.
Absorve e é absorvida pela sua pesquisa e a vontade de atravessar percursos tidos como íntimos são matéria de interesse e movimentos de distanciamentos e aproximações com as vivências.
Não são fatos relatados; seria possível um relacionamento ser uma obra de arte? Qual trabalho de arte não é um relacionamento? Em suas pinturas, ou melhor, em seus trabalhos com tinta em tecido, as cores vermelhas e rosadas mostram fisicalidade, enquanto o branco e preto remetem diretamente ao papel e à tinta da carta escrita.
Carta esta que não existe, toda a relação é digital, mas ainda guarda nela a composição de curiosidade e tempo alargado de uma relação através de palavras. Uma escrita direta das sensações e desejos.
Mas não é possível ficar na camada da observação, mesmo que ativa e penetrada pela intenção de empatia.
Se o que mais interessa é a pesquisa e a pesquisa é um relacionamento, parto para me relacionar, aceito a proposta dada por Mégane a perceber que a fisicalidade absorve movimentações completas que são imperceptíveis.
O gesto, a suavidade, o tecido, as cores, os dias, as palavras, as trocas, os silêncios, os vazios e os dedos. Os dedos que teclam e os olhos que leem, os botões da roupa e dos aparelhos eletrônicos de comunicação.
Não é fácil escrever estando arrebatada. A distância não é geográfica. E os desejos não realizados? Será que realmente existiram ou fazem parte do ritmo da relação? A ausência física mata a relação? Como posso ficar tão perto de você estando fora do alcance carnal? Um aparelho é um subterfúgio de proteção? Não seria o papel, a folha, um meio? A pele tocada ainda assim está protegida?
Não posso evitar a inquietação fomentada pela polarização de enquadramento de relacionamentos. E Mégane Voghell abraça isto como matéria de arte. Tanto sentido…
Longe da perseguição pelo ideal. O trabalho segue para depois de hoje e ela nos deixa, mas não me sinto só. Me sinto exposta, despida de proteção, e percebo que esta é a proposta. Arte assim. Artista assim. Curadora assim.
***
Galeria de Fotos (navegue pelas fotos na horizontal)
por Frederico Pellachin
Parceiros