JAVIER MONTES

escritor em residência
03.01.2023 - 03.03.2023

Esta residência recebeu o Apoio para Promoção da Mobilidade Internacional de Autores Literários da Dirección General del Libro do Ministério da Cultura e do Esporte da Espanha (Financiado com cargo ao “Plan de Recuperación, Resiliencia y Transformación por la Unión Europea – Next Generation EU”)..

Javier Montes vive e trabalha em Madri. É romancista e ensaísta, autor de dez livros. Seu trabalho recebeu, entre outros prêmios, o Prêmio Anagrama de Ensaio, o Prêmio Eccles da British Library/Hay Festival, o Prêmio Internacional Pereda de Novela, a bolsa Leonardo da Fundación BBVA, a Santa Maddalena Foundation Fellowship e a Civitella Ranieri Fellowship, e foi escritor residente na Residência de Literatura MALBA (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires). Suas obras foram incluídas nas antologias Os Melhores Jovens Romancistas de Língua Espanhola, da revista Granta, em 2010, e no The Penguin Book of Spanish Short Stories (ed. por Margaret Jull Costa, Penguin Books, 2021).

Javier colabora com as seguintes publicações: El País, Granta, The Lit Hub, Brick ou The Brooklyn Rail, e participou de festivais literários como Hay Festival Querétaro, Jaipur LitFest, FLIP de Paraty, FILBO de Bogotá, Feria del Libro de Lima e BookExpo NY. Seu trabalho foi traduzido para o inglês e outros oito idiomas. Escreve sobre arte contemporânea na Artforum, Art Agenda, Artnews, El País, Texte zur Kunst e Revista de Occidente. Ele foi curador de exposições, dirigiu cursos ou deu palestras no Museo Reina Sofía, Museo del Prado, IVAM, CAAC ou no Institute of Fine Arts da NYU.

Foi professor de História da Arte na Escola Espanhola de Malabo (Guiné Equatorial) e no Mestrado de Cultura Contemporânea da Fundação Ortega y Gasset. Formou-se em História da Arte pela Universidade Complutense e concluiu o Cours de License no Institut de l’Art et l’Archeologie da Universidade de Sorbonne.

Durante sua residência no Rio de Janeiro, Javier está trabalhando em “Trópico de Londres”, que completará uma trilogia da qual fazem parte os livros “Varados en Río” e “Luz del Fuego” (Anagrama, 2016 e 2020 e Editora Fósforo no Brasil, 2022). Híbridos de busca policial, ensaio literário e reconstrução ficcional de figuras históricas, eles se propõem a rever o mito do Brasil moderno das décadas de 30 a 60, da invenção do samba à exportação da bossa nova e à explosão do tropicalismo, de Clarice Lispector a Niemeyer, de Hélio Oiticica a Lygia Clark, de Drummond de Andrade a Jobim.

“Trópico de Londres” parte desse interesse para reconstituir o episódio brilhante de polinização cultural com o Reino Unido, ainda mais memorável e urgente diante da atual conjuntura política brasileira. Após o golpe militar de 1964, grandes artistas brasileiros foram para o exílio, e muitos escolheram Londres. Era o auge do Swinging London e a mistura era explosiva: lendas vivas da música do século 20, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, moraram lá de 1969 a 1972. Tocaram no Wight Festival e no Glastonbury, viram Beatles e Rolling Stones ao vivo, gravaram discos e descobriram o reggae e os novos ritmos jamaicanos ou caribenhos de suas comunidades de imigrantes. Sua casa na Rua Redesdale, 16, em Chelsea, tornou-se a “Capela dos Dezesseis”, sede do exílio cultural brasileiro no Reino Unido. Por lá passaram o cineasta Glauber Rocha, a cantora Gal Costa e o poeta Haroldo de Campos. Os irmãos Claudio e Sérgio Ramos fundaram uma comuna contracultural no coração de Londres, co-produziram o primeiro Glastonbury e convidaram grupos de vanguarda como Os Mutantes e Novos Baianos para a Inglaterra. O mais relevante artista brasileiro do século XX, Hélio Oiticica, expôs sua Tropicália em lendária individual em 1969 na Whitechapel Gallery: quebrou recordes de público, revolucionou a conservadora cena artística inglesa com suas experiências “penetráveis” e sensuais e o próprio modelo de exposição ao mercado europeu. O dramaturgo Antônio Bivar e o escritor Caio Fernando Abreu mais tarde contaram em histórias e memórias a experiência agridoce do exílio em Londres.

Em Trópico de Londres, Javier busca ampliar a visão deste momento efervescente evocando os exilados londrinos de outros países latino-americanos e espanhóis, como Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Guillermo Cabrera Infante, Miriam Gómez, Manuel Puig (co-estrela do primeiro livro da trilogia, Stranded in Rio) e Roberto Echavarren, figura fundamental na compreensão do desenvolvimento da teoria queer e do ativismo gay na América Latina.

Além desta pesquisa por personagens e suas histórias, Javier busca, ao estabelecer possíveis vínculos entre todos eles, integrar o Brasil a um perfil cultural ampliado da América Latina e traçar um mapa de Londres como uma capital do exílio latino-americano, menos lembrada que Paris ou Barcelona. Também interessa ao escritor, ao mergulhar neste período histórico da brilhante e lendária Londres dos anos 1960 e 1970, buscar protagonistas e testemunhas inesperadas, revelando como autores brasileiros e latino-americanos trouxeram diversidade linguística, racial, e uma nova consciência política para o tecido social da época.