Vive entre três fonteiras identitárias: português, nascido em Moçambique, de pai moçambicano e mãe portuguesa, teve abrigo e cresceu no Brasil.
Por causa da guerra, deixou o seu país de origem e a sua condição de imigrante acabou influenciando a sua pesquisa e seus trabalhos, que carregam uma forte conexão com questões sociais e políticas. Seus temas recorrentes são os refugiados, a violência, as manifestações sociais e as guerras. Suas composições tem características narrativas, utilizando cenários atuais com toques inusitados e fantásticos, além de percorrerem temas como intolerância, radicalismo, liberdade de expressão até a identidade.
Em 2017 foi selecionado para o 8° Salão dos Artistas sem Galeria; em 2018 teve um projeto de site specific selecionado para ocupar a vitrine da Galeria Movimento Contemporâneo e neste mesmo ano ganhou o Prêmio Garimpo da Revista Dasartes.
Mais informações
Web site: www.gungaguerra.com
Instagram: @gungaguerra
***
Texto crítico, por Victor Gorgulho*
Fincada na figuração, a prática pictórica de Gunga Guerra é atravessada por aspectos que passam por sua naturalidade e formação. Ainda criança, o artista – filho de pai moçambicano e mãe portuguesa – deixa seus país de origem por conta da Guerra Civil Moçambicana. Junto de sua família, buscam abrigo no Brasil, fincando base em Niterói, no Rio de Janeiro, cidade onde vive e trabalha até hoje. Se uma fatia considerável da produção contemporânea em pintura utiliza-se de fotografias como material primário, as pinturas de Guerra operam uma espécie de subversão deste léxico – cujo uso, muitas vezes, beira o esgotamento. Influenciado por sua formação multicultural, o artista constrói cenários urbanos que, apesar de evocarem determinadas paisagens, não podem ser identificados propriamente como um lugar verossímil. É nesta sobreposição de camadas e paisagens que suas narrativas visuais tangenciam o realismo fantástico, frequentemente reimaginando narrativas de cunho político. Na série “+ educação / – opressão”, em curso desde 2018, o artista pinta cenas de conflito entre policiais e manifestantes, por vezes subvertendo os papeis usualmente desempenhados nestas imagens, tão presentes no imaginário coletivo. Em algumas destas pinturas, os policiais aparecem em posições inversas ao que o noticiário nos mostra, cotidianamente, enquanto em outras os manifestantes são substituídos ora por animais ora por personagens de toy art, campo de interesse do artista. Quem enfrenta a quem, afinal?, parecem nos perguntar estas pinturas. Durante seu período de residência na Despina, o artista deu continuidade a sua pesquisa e apresenta nesta edição do Senado Tomado uma tela em grande escala realizada durante o processo e uma outra, em menor formato, de 2018.
O curador e pesquisador Victor Gorgulho acompanhou o processo de Gunga Guerra durante a sua residência na Despina.
***
Galeria de Fotos
por Frederico Pellachin