Vive e trabalha em Melbourne, Austrália, onde se graduou em fotografia pela Universidade RMIT. Seu trabalho multidisciplinar envolve um processo de compreensão cultural que se utiliza da criação de objetos como uma maneira de visualizar as suas relações com pessoas e lugares.
Desde a sua primeira viagem ao Brasil em 2014, Ben vem desenvolvendo uma inquieta curiosidade pela nossa identidade e como as artes contribuíram para a formação de um “eu” brasileiro.
Agora, já na sua quarta visita ao Rio, Ben procura entender mais profundamente a sua conexão pessoal com essa terra estrangeira e seu papel como um “gringo” inconfundível.
A janela do quarto do apartamento que ocupa em Copacabana inspirou o seu projeto na Despina. Essa “zona de conforto” irrompe em um espaço contemplativo, que vem lapidando a sua relação com o Brasil (e com a sua parceira brasileira). A janela tornou-se assim um portal de voyeurismo: um espaço para observar, acessar e reter informações. Utilizando a fotografia e o gesto performativo como métodos, Ben serve-se de ventos e janelas como motivos poéticos para a sua exploração pessoal da cidade.
Mais informações
www.benburgess.com.au
www.instagram.com/_benburgess/
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Texto curatorial
por Carla Hermann
Onde vivem as pipas? Às vezes é preciso o outro para perceber a beleza do nosso cotidiano. Ao longo dos anos recentes, o australiano Ben Burgess vem construindo uma relação com o Brasil, se interessando por aquilo que identifica como particularidades do nosso país ou percebendo semelhanças com sua terra natal. E as pipas, elementos ordinários presentes no nosso dia a dia, chamaram a sua atenção. Dedicou a elas o seu mês de residência no Despina. Tentando, errando e acertando, se debruçou sobre os papeis de seda, varetas e cola para pesquisar a forma, a cor e o movimento a partir destes objetos. Em uma conversa no ateliê, Ben me contou que gostava de se imaginar de dentro de uma janela segurando uma pipa, vendo o mundo. Levar a sua janela pelo mundo significa sempre construir uma abertura em sua fortaleza, um canal para ver a natureza. A pipa, elemento móvel que rasga os céus, é o prolongamento do ser. Um elemento que paira e se desloca no ar e que é controlado pelo seu jogador, unindo a manufatura com o natural. Como uma marionete, a pipa é ativa no espaço celeste. Ela dança, deixa rastros e pode até causar estragos. A corporalidade do pipeiro em terra desenha os céus, corta outras pipas, constrói sentidos e arquiteturas. Ben Burgess tomou a construção da pipa como um ritual meditativo e fez disso a sua janela para entender a cidade. Se apropriou das formas coloridas e enigmáticas do outro, revelando movimentos celestes que nós cariocas nem sempre percebemos – como rotas, campeonatos, linguagens pertinentes a essa prática. Seus vídeos, poesias e objetos nos convidam a procurar nos céus as rabiolas e trajetórias que se camuflam no céu.
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