Há cerca de 44 anos, exatamente no dia 21 de julho de 1969, era publicada na capa da Folha de São Paulo uma matéria intitulada “A Lua no Bolso”. Com uma escrita nitidamente encantada com os avanços tecnológicos, o repórter relatava o contato de Neil Armstrong com a lua a partir do que era observado pela televisão. O homem não apenas entra em contato físico com o astro, mas também estava “recolhendo com uma espécie de longas pinças, as primeiras amostras do solo lunar”. Sim, a lua existia e a ansiedade humana por desbravar novos espaços e demonstrar um “vim, vi e venci” se estendia para além do planeta Terra.
Essa proposta curatorial retoma esta reportagem como uma metáfora para o contato com aqueles espaços que não são da nossa seara. A lua aqui, portanto, pode querer dizer o “outro”, o longínquo ou aquilo que parece costumeiro, mas que é capaz de ser estranhado pela perspectiva da arte. A fotografia, o vídeo, a apropriação de objetos e a pintura são algumas das mídias utilizadas por dez pessoas que estiveram em situações de residências artísticas, mergulhos em diferentes zonas do mesmo Rio de Janeiro, rastreamento de detalhes na paisagem de São Paulo ou mesmo uma visão da existência baseada na astronomia e na cosmologia.
A imagem aqui é como um pedaço de um espaço dissecado e transformado em objeto artístico, compartilhado com o público como numa demonstração dos resultados de uma expedição espacial. Se um pedaço da lua já esteve no bolso de um homem, diferentes processos artísticos estão aqui organizados neste Largo das Artes. Como diferença, o tom de futurismo palpável que transbordava em 1969 cede espaço para respostas imagéticas permeadas por incerteza e provisoriedade quanto ao desafio de recodificar uma experiência em algo material.
Raphael Fonseca – curador
Julho 2013
Galeria de Fotos