Paola Bascón

Artistas em Residência
01.04.2017 - 30.04.2017

Vive e trabalha em Berlim e La Paz. Graduada pela Universidade de Artes e Design de Karlsruhe, Paola trabalhou durante vários anos como assistente e produtora de teatro e performance na Alemanha.

Seu trabalho pode ser definido como uma prática curatorial e artística sobre os rituais sincretistas. Tendo o trabalho de campo como ponto de partida, ela procura retratar o papel e o uso de objetos artesanais e a relação dos rituais com a memória pessoal e coletiva.

Recentemente, Paola desenvolveu um projeto sobre Alasitas, uma festa religiosa que envolve a produção e comercialização de objetos em miniatura – uma representação de desejos – bem como suas práticas rituais. O material reunido foi exibido em uma exposição que combinou vídeo, som e instalação.

Durante sua residência na Despina,  a artista irá realizar uma pesquisa complementar para aprofundar o entendimento dos “ex-votos” – um ritual e uma tradição semelhante, que acontece no Brasil e é também celebrado através da oferta de objetos que representam desejos. Tomando o vídeo como a principal ferramenta/meio, Paola pretende criar um diálogo entre esses dois rituais.

Mais informações
instagram.com/paolabascon
paolabascon@gmail.com

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Texto curatorial
por Raphael Fonseca

A produção recente de Paola Bascón está baseada em investigações sobre as relações entre a produção de objetos artesanais vistos como tradicionais e/ou populares e sua potência como elemento de adoração e fé. Sua pesquisa se iniciou em sua terra natal, a Bolívia, e a análise sobre a confecção de miniaturas para as chamadas Alasitas, uma festa e feira anuais. Nesses eventos, diferentes artesãos produzem miniaturas de casas e de objetos que são adquiridos e conservados como símbolos de desejos materiais (e espirituais) a serem realizados no futuro. A artista, portanto, além da pesquisa iconográfica sobre esses objetos, se colocou no lugar de artista-antropóloga e realizou entrevistas e filmagens que enriqueceram seu material de pesquisa de campo. Após realizar algumas experiências expositivas na própria Bolívia e na Alemanha, ela viajou para o Brasil com a finalidade de investigar outro fenômeno dialógico, mas ao mesmo tempo com princípios bem diferentes: os ex-votos. Nessa produção há algo oposto ao desejo de se conversar e preservar as miniaturas, ou seja, realiza-se (ou se compra) um objeto e este é depositado no espaço público como símbolo de uma graça alcançada. Geralmente articulados à saúde física e espiritual, os ex-votos também já podem ser vistos em relação com os bens materiais. Se o uso desses objetos entre o sagrado e o mundano são diferentes, a sua relação com a confecção artesanal é latente e esse é um dos elementos que une as duas tradições seculares na Bolívia e no Brasil. Por fim, como uma ponte para uma futura pesquisa, a artista também faz um cruzamento dessas pesquisas com a tradição da “mano milagrosa”, popular no México e que, de certa maneira, aponta para um roteiro da sacralidade das mãos na América Latina.


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