Nancy Popp nasceu em Los Angeles (EUA), onde vive e trabalha. O seu trabalho está apoiado nas tradições da performance corporal de resistência e intervenção política, que tencionam explorar as relações do corpo como local, no contexto do espaço que envolve o corpo e as constantes flutuações que ligam os dois. Sua prática envolve intervenções arriscadas e bem-humoradas em espaços arquitetônicos e públicos. O foco da artista aqui é a resistência em disputa com as fronteiras políticas e sociais da geografia e identidade. Atualmente, Nancy está concentrada no problema econômico e social do deslocamento, re-desenvolvimento e gentrificação em cidades de todo o mundo. Sua prática também inclui fotografia, desenho e organização de comunidades.
O trabalho de Nancy já foi apoiado e exibido pelo MOCA – Los Angeles, Getty Center, a Bienal de Istambul de 2011, Atlanta Contemporary Arts Center, Bienal de Dallas de 2014, Rowan University, SUNY University, CSU Los Angeles, além de galerias e espaços públicos localizados em Belgrado, Düsseldorf, Tijuana e Londres. Residências recentes e bolsas de estudo incluem: California Community Foundation Visual Arts Fellowship (2011) e Lucas Artist Fellowship (Montalvo Arts Center). Nancy é formada pela Art Center College of Design e pelo San Francisco Art Institute e é representada pela Klowden Mann Gallery (Los Angeles). Também escreve para várias revistas e sites sobre arte, educação e política.
Mais informações
http://www.nancypopp.com
http://klowdenmann.com/artist/nancy-popp/
Texto curatorial
por Bernardo José de Souza
A investigação artística de Nancy Popp se dá no intervalo espacial entre dois ou muitos pontos. Interessada nas fronteiras que separam e demarcam politicamente a esfera pública e a privada, a artista estadunidense costuma usar o corpo (via de regra o seu próprio) ou a ausência dele como elemento desarticulador de discursos investidos de forte carga excludente e discriminatória. Ao posicionar-se entre um espaço e outro, ela redimensiona a paisagem evidenciando as distâncias que o poder político e econômico estabelecem entre o cidadão e determinados setores da sociedade.
Ao investigar as complexas tramas do tecido social, seus nós, pontos de ruptura e rugosidades, Popp estabelece uma espécie de programa de ocupação de espaços públicos que busca tensionar a rede social e as arquiteturas de poder que subjazem às superfícies aparentemente democráticas da malha urbana. Para tanto, a artista lança mão de alguns recursos plásticos e gráficos para tornar visíveis sistemas de controle e apartamento social latentes nas grandes cidades, quais sejam, a presença (frágil?) do corpo humano em paisagens industriais ou essencialmente urbanas e a Mason line (esta última, uma fina corda de intensa coloração laranja, comumente usada para demarcar obras e espaços, cujo nome remete aos traçados cartográficos da América do Norte colonial, quando da disputa por fronteiras entre os estados de Maryland, Pensilvânia e Delawareque) – exemplos de suas ações anteriores são escaladas de monumentais empreendimentos em construção em zonas de vulnarabilidade social em Los Angeles e de postes de iluminação pública em centros de grande aglomeração urbana dos EUA.
Chegada ao Rio de Janeiro, Popp buscou estreitar laços com comunidades afetadas por programas públicos de gentrificação, especialmente aquelas que, em função da Olimpíada, correm o risco de enfrentar o que poderia se chamar de diáspora urbana. Mas para além de seu propósito inicial, a artista tratou de mapear a cidade e entender seus fluxos humanos, culturais e políticos, de modo a identificar áreas e situações que pudessem ser ativadas mediante sua atuação performática. Longas caminhadas pela zona portuária carioca, e mesmo o confrontamento entre as experiências em espaços urbanos tão díspares quanto Rio, São Paulo e Los Angeles, levaram-na a refletir sobre o comportamento coletivo em espaços públicos.
Ao confrontar as lógicas de vida e produção naquelas cidades, Popp percebeu que as condições de mobilidade variavam de tal maneira a ponto de afetarem profundamente as noções de lazer nesses três distintos locus urbanos. Enquanto vagar a esmo por uma cidade brasileira pode ser considerada uma mera atividade de prazer, nos EUA bem poderia consistir em uma ação de risco, passível de ser controlada pelo Estado.
Como resultado de sua residência na Despina | Largo das Artes, a artista decidiu conectar a instituição onde trabalhou ao prédio histórico diametralmente oposto ao seu, no qual funciona o IFCS – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Para tanto, lançou uma rede de dormir, tramada por ela própria com a tradicional Mason Line, de um extremo ao outro da Rua Luis de Camões, no Centro do Rio de Janeiro, por onde circulam milhares de trabalhadores diariamente. Mas para além de simplesmente dotar a paisagem carioca de um novo elemento – elemento este que remete justamente à ideia de descanso e lazer -, a artista tratava de estreitar laços entre uma instituição privada e outra pública, entre um espaço de arte e outro de conhecimento científico, questionando os limites entre esferas culturais tão semelhantes em seus propósitos políticos, embora tão distanciadas em suas atuações diárias.
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