Novos itens no arquivo Compa

SETEMBRO 2021

Em 2020, a Despina foi contemplada com o subsídio previsto no Inciso II da Lei Aldir Blanc, destinado à manutenção de espaços artísticos e culturais que tiveram suas atividades interrompidas por força das medidas de isolamento social. Como contrapartida, havíamos previsto cinco oficinas em escolas municipais quando reabrissem. Naquele momento imaginávamos que em alguns meses isso seria possível. Diante do descontrole da pandemia no país, tivemos que adaptar nossa contrapartida para o formato digital.

Neste cenário, propomos a inserção de verbetes de artistas ativistas em Compa – Arquivo das Mulheres. Estes itens são o embrião de uma pesquisa que pretendemos realizar ao longo de 2022, mapeando as artistas ativistas em atividade no país. Nesta etapa inicial e embrionária, vamos inserir sete artivistas que trabalham em múltiplas linguagens. Agradecemos à Ana Lira, Indianarae Siqueira, Juliana Notari, Lara Lima, Marcela Fauth, Maya Inbar e Sabine Passareli pelo material – e pelas lutas.

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Conteúdo produzido como contrapartida do Inciso II da Lei Aldir Blanc, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro/Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Especial de Cultura/ Ministério do Turismo e Governo Federal.

Compa – Arquivo das Mulheres

2020 - 2021

Com muita alegria que anunciamos que a Despina foi selecionada para receber patrocínio do Fundo Internacional de Ajuda do Ministério Alemão das Relações Exteriores da República Federal da Alemanha, do Goethe-Institut e de outros parceiros: www.goethe.de/hilfsfondsAtravés deste apoio generoso, que chega num momento de profunda crise de saúde e institucional no Brasil, vamos realizar um projeto com o qual sonhamos há alguns anos.

Compa – Arquivo das Mulheres é o primeiro arquivo digital colaborativo brasileiro totalmente dedicado à memória, histórias, lutas, conquistas, iniciativas, micropolíticas e revoluções cotidianas das mulheres e do movimento feminista no Brasil. O arquivo se propõe a resgatar e disponibilizar publicamente e gratuitamente, por meio de site desenvolvido especificamente para o projeto, coleções e acervos de zines, panfletos, bandeiras, lambes, cancioneiros, camisetas, poesia, manifestos e demais registros e memorabilia que documentem, articulem e elaborem transdisciplinarmente essas narrativas e lutas em curso.

Além do arquivo visual, Compa – Arquivo das Mulheres também produz o podcast Compa, composto por entrevistas com mulheres que tenham um histórico reconhecido de atuação nos campos de luta das mulheres e disponível nas principais plataformas.

Compa se alinha e dialoga com projetos anteriores da Despina, por meio dos quais evidenciamos nossa disposição de trabalhar com narrativas e corpas invisibilizadas, nos lançando ao desafio de criar e executar projetos plurais, transdisciplinares e ativamente formadores nos campos das artes e do ativismo estético-político.

Conceitualmente, Compa (apelido para “companheira”, uma palavra carinhosa usada entre mulheres nas lutas) foi idealizado a partir de 3 pilares:

1 – O conceito de “history from below”, que olha para a história através da perspectiva das pessoas comuns, oprimidas, não conformistas e dos grupos marginais. Este projeto reconhece a importância de registrar a história de forma mais ampla e de colocar em protagonismo os conflitos que derivam da narrativa hegemônica, contada pelos grupos dominantes;

2 – O viés do feminismo interseccional, entendendo as lutas das mulheres como lutas contra opressões que se sobrepõem e que incluem para além do gênero questões raciais, de classe, de sexualidade e outras;

3 – O reconhecimento da coletividade enquanto um campo de atuação revolucionário e necessário não só ao projeto mas também a desenhos de mundo que sejam capazes de ressignificar a lógica excludente dominante.

Compa é um projeto da Despina com a colaboração da Lanchonete <> Lanchonete

Após o lançamento de Compa com o conteúdo inicial possibilitado por meio deste edital, em fevereiro de 2021, o arquivo segue vivo e sendo construído coletivamente através da colaboração de mulheres e movimentos que se sintam convocadas. Organizações, coletivos, movimentos de mulheres, ativistas e feministas independentes podem se registrar para disponibilizar seus acervos e materiais diretamente no arquivo, num esforço coletivo de arqueologia das memórias das mulheres no Brasil.

Corpos Estranhos

Agosto 2019

“Corpos Estranhos: o Rio de Janeiro continua lindo e opressor” é um projeto de formação e suporte no campo das artes e do ativismo estético-político desenhado para promover a visibilidade, capacitação e auto-representação de jovens artistas em condições de vulnerabilidade, entre elas pessoas trans, não binárias, indígenas e negras. Este projeto foi concebido como uma reação ao assassinato dx artista Matheusa Passareli e a partir da nossa permanente indignação diante da violência contra corpos historicamente submetidos a violações de direitos e a condições precárias. Durante o mês de agosto de 2019, o espaço da Despina funcionou como um centro de convivência e ativação coletiva, com um programa de residências e uma agenda pública de ações e encontros.

O Programa de Residências ofereceu:

  • Ateliê coletivo para 4 artistas que moram na região metropolitana do Rio de Janeiro
  • Suporte curatorial (encontros individuais e em grupo)
  • Encontros semanais para acompanhamento de projetos
  • Suporte administrativo e logístico
  • Bolsa de participação no valor de R$1.500 (mil e quinhentos reais) por artista
  • Verba para produção no valor de R$ 500 (quinhentos reais) por artista
  • Mostra final para apresentar os trabalhos e pesquisas desenvolvidos pelxs artistas durante a residência

Após convocatória aberta realizada durante os meses de abril e maio, nosso comitê de seleção trabalhou na apuração e análise das inscrições recebidas, tendo como norte a diversidade de corpos, subjetividades e práticas de mediação de sentidos e interlocuções com o público, além da afinidade das propostas com o conceito do projeto. Xs artistas selecionadxs para participar do programa de residências foram: Agrippina R. Manhattan, Iah Bahia, Jade Maria Zimbra e Linda Marina.

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SOBRE XS ARTISTAS

“Me chamo Agrippina R. Manhattan, sou artista, professora e travesti. Sinto que estas são as palavras que mais se aproximam daquilo que entendo por mim mesma. Me interesso em me interessar pelas coisas, desconfiar das palavras e entender o que já estava em mim antes delas. Me interesso em entender como esse mundo já existia antes de mim, como as coisas já foram organizadas e onde me insiro, minha experiencia é tanto única quanto banal, e pela infinidade do ser me conectando a tudo o que é maior. É isso que me interessa e creio que meu trabalho parta daí. Tenho muito desejo de reorganizar o mundo, destruir e criar, gênesis e apocalipse em 1,78 cm com longos cabelos negros.

Autoficção tornada imaginação se infiltrando no real, criei a mim mesma e posso criar o que for. Meu trabalho às vezes se materializa, me interesso muito por poesia, acho um jeito honesto de lidar com a mentira das palavras, as coisas ficam mais próximas do coração (isso mesmo é uma mentira, mas posso crer). Gosto de escutar, por mais que nem sempre consiga. Aprender leva tempo, ainda aprendo e quero aprender sobre tudo. Eu posso, faço parte. Saí de São Gonçalo no dia 17 de março de 2019, realizei ali um salto ontológico que nunca me pareceu sequer possível imaginar, parecia um sonho. Agora entendo que o sonho é real, ele é futuro, profecia e palavra. Acredito que quanto mais conhecer mais sonharei, e quando mais estiver junto com outras pessoas mais aprenderei. Por isso entendo hoje que a posição de professora se coloca como única possibilidade para o meu ser (entendendo ensinar como um processo de ensinar-aprender)”. Mais informações: http://agrippmanhattan.wordpress.com 

 

Iah Bahia, São Gonçalo (RJ). Formade em Design de Moda,  Estudou na Escola de Arte e Tecnologia Spectaculu e  na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.  Atualmente participa do Programa de Formação da Escola de Artes Visuais “Exercício Experimental da Liberdade”. Seu processo de pesquisa tem se desdobrado na experiência  “orgânica” nos centros urbanos repensando o lugar da natureza na cidade a partir da experimentação-intervenção e da ação do corpo e de materiais subprodutos da cultura do lixo. Também se interessa em pesquisar as variadas superfícies que cobrem o mundo como a pele, tecidos, cimentos, plásticos e as relações desses materiais na integração com os espaços.  Seu trabalho tem se dado na forma da imagem, videos, objetos, instalações e performances.  Mais informações: http://www.iahbahia.ml

 

Nascida e moradora do Jardim Catarina, São Gonçalo (RJ), Jade Maria Zimbra iniciou suas pesquisas artísticas no teatro e encontrou desdobramentos na música, na dança, nas artes plásticas, na poesia e no audiovisual, reunindo suas descobertas através de experimentações performáticas.

Por meio dessas diversas linguagens, a artista busca elos e diálogos com memórias ancestrais e futuristas, tensionando questões que atravessam e ultrapassam corpo-mente-espírito sob a perspectiva de gênero e raça.

 

Linda Marina nasceu no Jardim Apurá, periferia da Zona Sul de São Paulo, e mudou-se ainda nova com a sua família para Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde começou cedo a desenvolver suas primeiras ações artísticas e a movimentar seu entorno. Foi uma das integrantes do Movimento Nefelista, grupo de jovens que se reuníam para fortalecer a cena local na região, deixando uma marca registrada na produção artística da Zona Oeste. Dá um giro por vários cantos da cidade, estudando, fazendo e produzindo teatro. Em 2014, chega ao Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio de Janeiro e lá começa a fazer parte da UPAC – Universidade Popular de Arte e Ciência e a atuar no Teatro de DyoNises, ambos com sede dentro da ocupação artística Hotel da Loucura, projeto que transformou dois andares de enfermarias desativadas dentro do antigo Hospital Psiquiátrico Pedro II, conhecido inicialmente pelo terrível nome “Hospital das Alienadas” e atualmente chamado de Instituto Municipal Nise de Silveira, uma homenagem à doutora Nise da Silveira, que trabalhou no lugar e foi a precursora na humanização do tratamento psiquiátrico dentro do campus, deixando um grande legado que até hoje tem inúmeros desdobramentos.

Durante três anos atuou em diversas frentes dentro da proposta da UPAC, desenvolvendo inúmeras ações, e no período de um ano morou dentro do hospital, totalmente imersa na luta de transformação da lógica manicomial, que ainda se faz presente, hoje por meio da alta dopagem de medicação. É uma das criadoras do Jornal ReorgaNise – impresso pela luta antimanicomial – e que nasceu com o objetivo de ser um canal de comunicação para os internos do Hospital e de preencher um lugar de diálogo entre os arte-cientistas – interessados nas propostas de mudanças – e os que por inúmeros motivos fazem a manutenção da lógica manicomial, médicos e trabalhadores que não buscavam uma transformação nas formas de “tratamento da saúde mental”.

Formada em realização e produção audiovisual na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, Linda possui uma formação interdisciplinar que passa por jornalista independente, atriz, performer, pesquisadora e cineasta. Atua também nas áreas de direção criativa, roteiro, produção, edição de vídeos e comunicação.

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Este projeto foi concebido pela Despina em colaboração com Sabine Passareli. Foi financiado através de uma doação organizada por Alexander e Chantal Maljers-van Erven Dorens em homenagem à Matheusa Passareli, que participou do projeto Bison Caravan Brasil, coordenado por Chantal e que aconteceu na Despina em março de 2017.

“Este projeto é para homenagear Matheusa, para nós um exemplo de amizade, inspiração e união de diferenças. Matheusa – com um espírito puro e aberto – juntou-se a nós no percurso de intercâmbio artístico da Bison Caravan Brasil em março de 2017. Foi um dos seus primeiros projetos artísticos. Aprendemos e rimos juntos e Matheusa floresceu no processo criativo, trabalhando em conjunto com muitos de nós, especialmente com Tanja Ritterbex. Na arte da performance, elas exploraram suas identidades e a fluidez de seus corpos. O espírito de Matheusa permanecerá em nossos corações e percorrerá os campos Elyseanos no núcleo do rebanho da Bison até o fim dos tempos.” (Chantal Maljers-van Erven Dorens)

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PROGRAMAÇÃO

ESTRANHOS MISTÉRIOS

A Escola de Mistérios se materializa na Despina abrindo os encontros públicos da Residência Corpos Estranhos. Durante três sextas-feiras, a partir do dia 9 de agosto (sempre a partir das 18 horas), experimentações sonoras serão ativadas. Estranhos Mistérios.

The category is.. voguing!

1º Encontro – 09.08
Pulva Cosmos
Quimera
Arcanjo Miguel

2º Encontro – 16.08
Marta Supernova
Quimera
Clarissa Ribeiro
Pulva Cosmos
Arcanjo Miguel

3º Encontro – 23.08
Dj Bout

A Escola de Mistérios surge no intuito de mediar diálogos entre aquelas que estudam os mistérios do som. Em formatos abertos e dinâmicos através dos encontros visamos fomentar a inserção e a diversidade no cenário musical carioca.

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EDUCATIVO // ESTRANHOS SABERES

Como parte da residência Corpos Estranhos, propõe-se a criação de uma escola aberta. Corpas não-cisgêneras, são convidades a partilhar seus saberes em aulas públicas a partir de DOIS EIXOS:

1) ensinar a TRANSgredir – entendendo a travestilidade como metodologia de ensino

2) uma imersão na cultura ballroom com 4 casas de vogue do estado do Rio de Janeiro ministrando conhecimentos para serem aplicados na prática no Ball Corpos Estranhos, no evento de encerramento da residência em 29 de agosto;

Agenda dos encontros

20/08
16:00 – Empreendedorismo Trans. Oficina com Andréa Brazil
19:00 – Vivência Cultura Ballroom – com Hernani Reis

21/08
16:00 – Como constranger a cisgeneridade // Alongar o corpo para desatar os nós. Aula/Oficina com Bianca Kalutor

22/08
16:00 – Oficina Fudidas Silk – com Yuki Hayashi e Kaete Clemente

23/08
19:00 – Vivência Cultura Ballroom – com Tai Mattos Cazul (HOUSE OF CAZUL) + Estranhos Mistérios

26/08
19:00 – Vivência Cultura Ballroom – com Cometas & Pulva (CASA DE COSMOS)

27/08
16:00 – Oficina dos Milagres. Aula com Walla Capelobo

28/08
19:00 – Vivência Cultura Ballroom – com Makayla Sabino (HOUSE OF IMPÉRIO)

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ESTRANHOS ENCONTROS // FECHAÇÃO

29.08

16:00
Oficina pública com Castiel Vitorino Brasileiro
“Arruda, para viver os mergulhos no Sol”
Vagas limitadas!

18:00
Roda de conversa
Com as manas das casas de vogue do Rio de Janeiro

19:00
Performances e ativações coletivas
Linda Marina
Jade Zimbra
Iah Bahia

21:00
Baile Corpes Estranhes
com Escola de Mistérios e grande elenco

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GALERIAS DE FOTOS
por Frederico Pellachin (galerias 1 e 2) e Consuelo Bassanesi (galeria 3)

GALERIA 1 > Processos, oficinas, ativações (navegue pelas setas na horizontal)

GALERIA 2 > Estranhos Encontros // Fechação (navegue pelas setas na horizontal)

GALERIA 3 > Oficina “Corpos Estranhos na Cidade” em parceria com o MAR – Museu de Arte do Rio (navegue pelas setas na horizontal)

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ANEXOS

Clique nas imagens abaixo para acessar os seguintes documentos em PDF:

IMAGEM 1 > textos críticos apresentados pelos curadores Guilherme Altmayer e Keyna Eleison, por ocasião da participação de ambos nos processos da Residência Corpos Estranhos.

IMAGEM 2 > ensaio-manifesto que serviu de inspiração para o projeto da Residência Corpos Estranhos –  “Trabalho de Vida”, apresentado por Matheusa Passareli em 2018 na UERJ, dentro do curso de Artes Visuais – disciplina História da Arte do Brasil II (professora Sheila Cabo).

1.

2.


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EQUIPE CORPOS ESTRANHOS

Concepção
Consuelo Bassanesi, Chantal Maljers-Van Erven Dorens, Sabine Passareli
Direção Executiva
Consuelo Bassanesi
Terapeuta Ocupacional
Sabine Passareli
Suporte Curatorial e Ativações
Guilherme Altmayer, Jean Carlos Azuos, Keyna Eleison, Lorran Dias
Registros, Documentação e Gestão de Comunicação
Frederico Pellachin
Gestão Administrativa e Financeira

Clarice Goulart Correa
Suporte Operacional
Pablo Ferretti
Manutenção, Montagem e Segurança
Alexandre R. de Oliveira
Agradecimentos
Andrea Brazil, Bianca Kalutor, Casa de Cosmos, Castiel Vitorino Brasileiro, Coletivo Fudidas Silk, Escola de Mistérios, Everton Silva, Exu, Hernani Reis, House of Cazul, House of Império, Lucine Adão da Silva, João Araió, Makayla Sabino, Melke, Priscila Alves, Santa Sarah Kali, Tai Mattos, Walla Capelobo.

Residência Corpos Abertos / Open Bodies Residency 2018

Setembro 2018

A Residência Corpos Abertos (Open Bodies Residency) é um programa especial concebido em conjunto pela Despina e The Fruitmarket Gallery, com o apoio do British Council e do Creative Scotland.

O programa reúne artistas brasileiros e escoceses que trabalham com performance e abordam nas suas práticas questões relacionadas a gênero e/ou sexualidade. O programa é dividido em duas partes. A primeira parte foi uma residência artística que aconteceu na Despina, no Rio de Janeiro, em setembro de 2018. Os artistas selecionados participaram de uma série de atividades, como conversas públicas, oficinas e evento de ateliê aberto. A segunda parte do programa aconteceu em fevereiro de 2019 durante o programa Open Out da The Fruitmarket Gallery, em Edimburgo, com  novas versões das performances e oficinas apresentadas pelos artistas escoceses no Rio, além da exibição de alguns trabalhos desenvolvidos por todos os artistas durante a residência.

Nesta primeira edição, os artistas selecionados foram Miro Spinelli (Brasil), Vinícius Pinto Rosa (Brasil), Henry McPherson (Escócia) e Stephanie Black-Daniels (Escócia). Durante o mês de setembro de 2018, os quatro artistas ocuparam ateliês de residência na Despina e desenvolveram suas pesquisas e projetos em sintonia com o novo ambiente e com as interlocuções propostas.

SOBRE OS ARTISTAS

miro_thumb

Miro Spinelli vive e trabalha no Rio de Janeiro (RJ). É mestre em Performance pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da UFRJ e atualmente investiga a performance e sua relação com a materialidade, a escrita e a dissidência. Desde 2014 desenvolve o projeto continuado e seriado Gordura Trans, que entre ações, fotografias, textos e instalações, já foi apresentado em diversas cidades brasileiras e no exterior. O projeto já teve a colaboração de artistas como Fernanda Magalhães, Jota Mombaça e Jup Pires.

 

Em 2017 Miro foi contemplado como bolsista, junto à artista Luisa Marinho, para uma residência na Biblioteca Andreas Züst, na Suíça, onde desenvolveram o projeto “Chupim Papers”. Sua produção é atravessada por temas como precariedade, abjeção, decolonialidade, política dos afetos e transgeneridades, tendo como foco o corpo e suas possíveis poéticas e políticas. Mais recentemente, tem se interessado em pesquisar como a performance, a partir de uma conexão radical com a matéria, pode gerar forças despossessivas sobre os sujeitos, criando possíveis contra ontologias.

Texto crítico, por Guilherme Altmayer

O artista Miro Spinelli desenvolve sua pesquisa artística a partir do próprio corpo e dos vestígios por ele deixado para pensar questões como abjeção e precariedade. Na série Gordura Trans, composta de ações performáticas (dezessete performadas até o momento), Miro promove o contato, de seu corpo nu, com diversos tipos de mídias como óleo de soja, graxa, manteiga e dendê. O material utilizado em cada ação é uma escolha política a partir do contexto social e geográfico em que está inserido. Envolto em substâncias oleosas, gordurosas, pegajosas, o artista se movimenta de forma imprevisível, com leveza e dificuldade, fundindo seu corpo ao espaço e estabelecendo uma relação com o público através da troca de olhares.

Nesta residência na Despina, o artista amplia seu campo de investigação, a partir da Gordura Trans (e para além dela), para experimentar o encontro de substâncias, em processos químicos, para a materialização de vestígios para além de seu corpo, porém dele indissociável. Utilizando como base muitos litros de óleo de cozinha de reuso, soda cáustica e água, o artista produz sabão, em grandes quantidades. Nosso senso comum nos faz pensar o sabão como símbolo de limpeza, de higienização. Porém, é com este sabão que o artista invade o espaço expositivo para manchar, sujar e se alastrar pelo cubo branco a partir de uma de suas esquinas. Uma mancha que remete à cor da pele, representativa de muitos tons. Peles que habitam corpos diversos, que provocam repensar discursos binários e higienizantes, borrando fronteiras (e esquinas) e abrindo fendas que dão a ver múltiplos outros lugares possíveis de estar no mundo.

* O curador e pesquisador Guilherme Altmayer acompanhou Miro Spinelli durante a sua residência na Despina.

 

vinicius_thumbVinicius Pinto Rosa vive e trabalha em Niterói (RJ). Atualmente, cursa bacharelado em Artes Visuais na Universidade Federal Fluminense e trabalha como assistente da artista mineira radicada no Rio de Janeiro Laura Lima. Sua prática incorpora questões que atravessam identidades e subjetividades na produção de objetos e instalações, tendo o próprio corpo como potência de imagem e ação, que por sua vez estabelece novas formas de relações, acessos e imagens do mundo e do outro. Realiza sua produção muito influenciado pelo universo de uma marcenaria (onde seu pai trabalha e onde acontece boa parte de sua vivência em ateliê).

Seus trabalhos atingem ao mesmo tempo campos da performance e do design, e questionam as construções, polarizações e linhas de binaridades já estabelecidas. Também revelam um hibridismo e uma multiplicidade de ativações e acessos que o corpo pode criar a partir de uma relação direta com o objeto. “Dispositivos” e “Baseline” são projetos que o artista vem desenvolvendo desde 2014 e que já foram apresentados em diversas galerias e espaços de arte brasileiros.

Texto crítico, por Raphael Fonseca

As práticas escultóricas e suas associações com o corpo humano são alguns dos interesses centrais no percurso recente de Vinícius Pinto Rosa. Com grande habilidade artesanal e experiência com acessórios e joalheira, o artista desenvolve peças usadas tanto para a decoração, quanto para a provocação dos usos normativos do corpo humano. Para essa residência na Despina, ele desenvolveu uma série de novos trabalhos feitos em papel que, içados no teto, anteriormente foram vestidos por sua anatomia e registrados fotograficamente. Nasce com esse registro um personagem entre o humano e pós-humano, pautado na experimentação dos materiais e na fragilidade dessa matéria que é a própria vida.

* O professor e curador Raphael Fonseca acompanhou Vinícius Pinto Rosa durante a sua residência na Despina.

 

henry_thumbHenry McPherson é um artista intermídia que vive e trabalha em Glasgow, Escócia. Sua prática em composição, improvisação e performance está ancorada na produção de partituras musicais mistas, performance planejada, composição em tempo real e prática interdisciplinar e cruzada, por meio da qual ele explora identidades pessoais e coletivas, tradições musicais e performativas. Seu trabalho está centrado no corpo-mente, no objeto-ponto como mediador, no tema da invocação, geração impulsionada, práticas artísticas queer e sustentáveis, ​​e significados de propriedade na improvisação gerada coletivamente.

Henry é membro fundador do coletivo de artes mistas “EAST” (Experimental Artists Social Theatre), da dupla de instrumentistas (piano) “KUI” e do trio de câmara “Savage Parade”. Nos últimos anos, tem colaborado com diversos grupos e artistas, como a BBC Scottish Symphony Orchestra, a BBC Scotland, Martyn Brabbins, o RedNote Ensemble, a Glasgow New Music Expedition, Garth Knox, Zilan Liao e o Ensemble Modern, da Alemanha. É graduado em composição pelo Royal Conservatoire of Scotland e entre os prêmios que recebeu, destacam-se: Dinah Wolfe Memorial Prize for Composition (2014); Scottish Opera’s Opera Sparks Competition (2016); the Patron’s Prize for Composition (2017); the BBC Scottish Symphony Orchestra Composition Club Prize (2017); the Harriet Cohen Memorial Music Award (2018). Também foi indicado para o primeiro Scottish Awards for New Music (2017). Residências que participou como bolsista incluem: Banff Centre for the Arts and Creativiy (CA, Alberta, The Creative Gesture: Collective Composition Lab for Music and Dance) e Skammdegi Residency and Festival (IS, Olafsfjördur).

Texto crítico, por Raphael Fonseca*

Musicista de formação, as experiências de Henry McPherson no campo das artes visuais costumam ter o som como ponto de partida. Práticas experimentais com instrumentos clássicos, edições de som com tempo extendido e cruzamentos entre a sala de concerta e o cubo branco tem interessado o jovem artista. Para a residência na Despina, ele realizou uma série de gravações dos sons de diferentes ambientes no Rio de Janeiro que são associados às culturas queer. Bares, pontos da prática do cruising, espaços para acolhimento e as ruas da cidade informaram o seu trabalho. Diferentes faixas foram criadas e estas podem ser escutadas individualmente dentro de um dos espaços mais íntimos da Despina – um dos três banheiros.

* O professor e curador Raphael Fonseca acompanhou Henry McPherson durante a sua residência na Despina.

 

stephanie_thumbStephanie Black-Daniels vive e trabalha em Glasgow, Escócia. Passou grande parte da sua infância e adolescência no Oriente Médio, onde iniciou seus estudos. Mais recentemente, completou seu doutorado em Artes Visuais, com especialização em Performance, na The Glasgow School of Art. Desde 2010, tem excursionado por festivais e galerias no Reino Unido, Alemanha, Lituânia, Finlândia e Estados Unidos. Em 2011, recebeu o Prêmio Athena pela New Moves International e National Review of Live Art, Glasgow. Stephanie foi orientada pela pioneira de “King Drag”, Diane Torr (1948 – 2017).

A sua minuciosa prática como moderadora de oficinas é vital para a maneira como faz, pesquisa e produz novos trabalhos. Seu mais recente workshop aconteceu no Glasgow Sculpture Studios, onde explorou a relação entre objeto e corpo através da performance. Stephanie está interessada em como um objeto pode mudar a sua interação e intimidade com os outros, criando pontuações visuais e poéticas que agem como uma chave dramatúrgica para o desenvolvimento narrativo de uma performance. Seu trabalho situa-se entre uma prática física e escultórica, cujos resultados performativos (ao vivo e documentados) combinam som, movimento, imagem, objeto, luz e vestuário. O seu comprometimento com a performance acontece a partir de um desejo de explorar a relação entre corpo e espaço, especialmente em torno do gênero e da sexualidade. Ela usa o corpo como uma ferramenta de medição e está interessada no “corpo estendido” e no “corpo como objeto” para trazer à tona questões em torno do “eu”, “o outro” e “o teatral”.

Texto crítico, por Guilherme Altmayer

A artista escocesa Stephanie Black-Daniels vem desenvolvendo sua pesquisa artística para pensar formas de expandir o corpo feminino a partir da criação de esculturas e dispositivos como vestimentas do corpo. Através destes dispositivos, a artista, em suas ações performáticas, busca explorar os limites do próprio corpo para pensar na fragilidade das relações entre corpo e espaço e suscitar questões de gênero e sexualidade a partir da fragilidade, castidade, sensualidade e selvageria, disparados através de suas práticas performativas. Sendo sua primeira visita ao Brasil, a artista se mostrou preocupada em escutar e ler o território que habitava, durante sua residência na Despina, e para tal, promoveu quatro oficinas-encontro denominados “Performando Mulheres na Cidade”, através de convocatória aberta apenas para mulheres e mulheres trans. A partir de propostas em torno de temas como rituais e selvageria, identidade e superfície, ritmos e sexualidade, os encontros, com duração de sete horas, se deram de forma individualizada com as quatro artistas participantes, garantindo intimidade para uma intensa troca de experiências, conhecimentos locais e de território e práticas performáticas. Conformaram-se aqui redes transatlânticas de alianças, de cumplicidades estético-políticas entre estranhamentos e afinidades de corpos e territórios expandidos.

* O curador e pesquisador Guilherme Altmayer acompanhou Stephanie Black-Daniels durante a sua residência na Despina.

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Galeria de Fotos I (navegue pelas setas na horizontal)
Processos, oficinas, evento de ateliês abertos (Despina, setembro 2018)
Fotos: Frederico Pellachin

Galeria de Fotos II (navegue pelas setas na horizontal)
Obras realizadas/apresentadas pelxs artistas  (Despina, setembro 2018)
Fotos: Frederico Pellachin

Galeria de Fotos III (navegue pelas setas na horizontal)
Programa Open Out (The Fruitmarket Gallery, fevereiro 2019)
Fotos: Chris Scott

Residência Corpos Abertos 2018

Um projeto
Despina
The Fruitmarket Gallery

Apoio
British Council
Creative Scotland

Concepção e Coordenação do Projeto
Consuelo Bassanesi
Iain Morrison

Comunicação, Produção e Documentação
Frederico Pellachin

Interlocução Curatotial
Guilherme Altmayer
Raphael Fonseca

Gestão Financeira e Jurídica
Clarice Corrêa

Agradecimentos
Alexandre de Oliveira, Iain Morrison & The Fruitmarket Gallery, British Council, Creative Scotland, Ricardo Kelsch, Jak Soroka, Hanna Tuulikki, Raphael Fonseca, Guilherme Altmayer, Lorena Pazzanese, Maíra Barillo, Maria Clara Contrucci, Manuela Maria, Paula Villa Nova, Marcelo Sant’Anna e Tetsuya Maruyama.

 

 

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Arte e Ativismo na América Latina – ano III (2018)

Ano III - 2018

ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA é um projeto da Despina, realizado em parceria com a organização holandesa Prince Claus Fund, que se estende por três anos (2016, 2017 e 2018). A cada ano, um tema norteia uma série de ações que incluem ocupações, oficinas, conversas, projeções de filmes, exposições, encontros públicos com nomes importantes do pensamento artístico contemporâneo e um programa de residências artísticas. Nesta terceira edição (2017), o tema escolhido foi Dissenso e Destruição.

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Apresentação do tema
por Consuelo Bassanesi e Guilherme Altmayer

Como um terremoto, práticas artísticas e ativistas, através de ações vanguardistas e revolucionárias, podem provocar rachaduras em estruturas tidas até então como inabaláveis. Há muito que formas discordantes de organização da vida coexistem – paralelas, clandestinas ou mesmo em conflito – com modelos normativos e dominantes.

Diante da imperfeição inconteste dos sistemas sociais e políticos em curso, embasados na desigualdade, indiferença e injustiça, que outras formas de sobrevivência serão possíveis a partir deste cenário distópico?

Propomos, alicerçados nesta pergunta, articular estratégias de ação confluentes para que seja possível a derrubada, o desmoronamento e a implosão das hegemonias: para pensar novos futuros.

Neste terceiro ano do projeto Arte e Ativismo na América Latina, lançaremos olhares sobre aquelxs que transformam descontentamento em ideias incendiárias e conspirações cotidianas, tendo como ferramentas de luta espaços de colaboração para a insurreição e configurações de redes de contraconduta.

Entre temas tão relevantes e urgentes como racismo, deslocamentos em massa, extermínio indígena, violência de gênero, notícias falsas, perseguições políticas, processos de normatização e moralização de corpos, discursos e práticas, serão bem vindas propostas em campos como inteligência artificial, criptomoedas, afrofuturismo, desconstrução da branquitude, hacktivismo, algoritmos, regulação de redes, ativismo jurídico, metodologias ativas de educação, saúde comunitária, espaços e sistemas alternativos de arte e cultura, práticas agrícolas alternativas, ficção especulativa, entre tantos.

Buscamos existências dissonantes, tensionamentos em curso, posicionamentos radicais; não como mera alegoria, mas como abertura de brechas nos sistemas operativos econômico, político e social. Contravenções que ofereçam alternativas para cohabitar o presente, em plena aceleração do processo de ruína, que já não suportamos mais contradizer sem contra-atacar.

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Os artistas selecionados para participar da residência desta edição foram a brasileira Ana Lira, a boliviana Danitza Luna e o chileno Felipe Rivas. Durante os meses de maio e junho, os três artistas ocuparam ateliês na Despina e desenvolveram suas pesquisas e projetos em resposta às novas interlocuções e ao novo ambiente. Também participaram de uma série de atividades, como conversas, seminários, oficinas, visitas a universidades públicas, entre outras ações. Ao final da residência, foram reunidas as pesquisas e processos dos três artistas na mostra “Dissenso e Destruição” (mais informações, incluindo texto crítico e registros por aqui).

Dois destaques da programação desta edição: o ato-intervenção “Noite Estranha: cuidado, convivência, agência”, concebido por Sabine PassareliMarta SupernovaClarissa Ribeiro e Lorran Dias, em diálogo com a vida, obra e poética de Matheusa Passareli (mais informações, incluindo textos críticos e registros, por aqui) e a Oficina-processo: cartografia ativa de redes de cuidado e criação, coordenada pela artista e pesquisadora Cristina Ribas (mais informações, por aqui).

Os custos de participação dos artistas e convidados foram totalmente cobertos pelo Prince Claus Fund como parte de seu Network Partnership Programme, do qual Despina faz parte.

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PROGRAMAÇÃO

ABRIL E MAIO

21, 28 abril e 5 maio / 13h
Oficina-processo: Cartografia ativa de redes de cuidado e criação. Com a artista e pesquisadora Cristina Ribas. Mais informações, por aqui.

1º maio
Início da residência dos artistas selecionados para esta edição: Ana Lira (Recife, Brasil), Danitza Luna (Bolívia) e Felipe Rivas San Martin (Chile).

17 maio / 19h
Conversa pública com Ana Lira, Danitza Luna e Felipe Rivas San Martin.

19, 22, 24, 26 e 29 maio; 5 e 7 junho  / horários variados
Oficina gráfica feminista “Nuestra venganza es ser felices” – com Danitza Luna. Mais informações, por aqui.

28 maio; 4, 11, 18 e 25 junho / 18h30
Oficina coletiva “Sobre um sentir insurgente” – com Ana Lira. Mais informações, por aqui.

30 maio / 19h
Noite estranha: Cuidado, Convivência, Agência
Ato-intervenção concebido por Sabine Passareli, Marta Supernova, Clarissa Ribeiro e Lorran Dias, em diálogo com a vida, obra e poética de Matheusa Passareli (mais informações, incluindo texto crítico e registros por aqui).

JUNHO

7 junho / 11h
Seminário público com Ana Lira, Danitza Luna e Felipe Rivas San Martín na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

14 junho / 19h
Abertura da exposição “Dissenso e Destruição”, reunindo as pesquisas e processos desenvolvidos por Ana Lira, Danitza Luna e Felipe Rivas San Martín durante o período de suas residências no Rio de Janeiro (mais informações, incluindo texto crítico e registros por aqui).

21 junho / 18h30
Oficina “Retrofuturismo Queer” com Felipe Rivas San Martín. Mais informações, por aqui.

22 junho / 18h30
Cine Clube Despina apresenta: “A 13ª Emenda” (Ava DuVernay, EUA, 100’, 2016) + roda de conversa com Luciane Ramos (Revista O Menelick 2° Ato) e Renata Codagan (Universidade das Quebradas) + visita guiada especial à exposição “Dissenso e Destruição” com Danitza Luna. Mais informações, por aqui.

23 junho / 15h
Lançamento do livro “Multitud Marica”, de Felipe Rivas San Martín + projeção de vídeos sexo-dissidentes.

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SOBRE OS ARTISTAS EM RESIDÊNCIA

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Ana Lira é uma artista e ativista brasileira que vive e trabalha em Recife (Pernambuco, Brasil). As suas experiências artísticas buscam discutir vivências políticas e ações coletivas como processos de mediação. Relações de poder e implicações nas dinâmicas de comunicação estão entre os seus principais interesses no desenvolvimento de projetos, que articulam narrativas visuais, material de imprensa, mídias impressas e publicações independentes. É especialista em Teoria e Crítica de Cultura e, nos últimos anos, também desenvolveu trabalhos independentes de pesquisa, curadoria, além de projetos educacionais articulados com projetos visuais. Participou de mais de sete coletivos durante duas décadas. É articuladora dos projetos educacionais Cidades Visuais, Entre-Frestas e Circuitos Possíveis, este último relacionado à elaboração de fotolivros e fotozines. Recebeu o Prêmio Funarte Arte Contemporânea 2015 pela exposição Não-Dito, que foi apresentada no MABEU/CCBEU em Belém (2017) e no Capibaribe Centro da Imagem, em Recife (2015). É autora do livro Voto, publicado pela editora independente Pingado Prés, em 2014 (1ª ed.) e 2015 (2ª ed. – traduzida), que hoje integra o acervo da Pinacoteca de São Paulo e a coleção de fotolivros do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, no Museu da UFPA (Belém do Pará). Também é pesquisadora em projetos audiovisuais – atualmente está iniciando uma pesquisa para o projeto Terrane, uma narrativa visual sobre as mulheres pedreiras do semiárido brasileiro, a partir da experiência da Casa da Mulher do Nordeste. Durante a sua residência na Despina, Ana procurou investigar as relações e dinâmicas entre visibilidade e poder, por meio do mapeamento de saberes e compartilhamento de informações-em-cultura que não passam pelos grandes circuitos de comunicação. A artista coordenou a oficina “Sobre um sentir insurgente”, que aconteceu no nosso espaço durante 5 segundas-feiras. Mais informações, por aqui.

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Danitza Luna é uma mulher feminista boliviana, cartunista e designer gráfica, que vive e trabalha em La Paz. É formada em Artes Visuais pela Universidad Mayor de San Andrés, com especialização em escultura. Desde 2011, integra o movimento político anarco-feminista “Mujeres Creando”, uma das plataformas de arte e ativismo mais importantes e influentes do seu país, que desenvolve projetos artísticos de intervenção e performance em espaços públicos, além de oficinas de arte e serigrafia e programas educacionais em universidades e sindicatos de mulheres. Dentre as exposições recentes que participou como parte do movimento, destaque para a mostra “Muros Blandos”, no Museu da Solidariedade Salvador Allende, em Santiago do Chile (2017), onde desenvolveu, junto com as artistas Esther Angollo e Maria Galindo, uma série de murais provocativos e irônicos que ressaltaram algumas polêmicas políticas e religiosas. Já em 2016, desenvolveu especialmente para a Bienal Internacional de Artes da Bolívia (também com Esther e Maria) os projetos de intervenção pública “Altar Blasfemo” e “Escudo Anarco-Feminista Antichauvinista”, que ocuparam o muro externo do Museu Nacional de Arte da Cidade de La Paz. E em 2015, participou do Encontro Internacional de Arte de Medelín – “Historias Locales / Prácticas Globales”, na Colômbia, onde ministrou com demais membros do coletivo a oficina de serigrafia “Grafica Feminista, No acepto ser cosificada”, no Museu de Antioquia. Os resultados dessa experiência foram exibidos em um mural público na ruas de Medelín. Durante a sua residência na Despina, Danitza coordenou uma oficina gráfica feminista gratuita, dividida em sete encontros. Os resultados gráficos dessa experiência coletiva foram compilados em uma memória impressa com tiragem gratuita. Mais informações, por aqui.

felipe_inner4Felipe Rivas San Martín é um artista e ativista chileno, que vive e trabalha em Valência, Espanha, onde atualmente é bolsista de doutorado na Comissão Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, CONICYT, da Universidade Politécnica de Valência (UPV). É mestre em Artes Visuais pela Universidade do Chile. Sua produção artística compreende pintura, desenho, performance e vídeo em confluência com a imagem tecnológica (interfaces virtuais, codecs digitais). É co-fundador do Coletivo Universitário de Dissidência Sexual, CUDS, plataforma de ativismo que participa desde 2002. Dirigiu as revistas de crítica e cultura queer “Torcida” (2005) e Disidenciasexual.cl (2009). Rivas vincula ativismo e produção artística com pesquisa, texto e curadoria relacionados à arte, política e tecnologias, teoria queer, pós-feminismo e performatividade. Durante a sua residência no Rio de Janeiro, Felipe irá apresentar questões que transitam por sua pesquisa, como as tecnologias disciplinares e de controle às quais os corpos homossexuais são submetidos. Para tanto, pretende utilizar como foco inicial o caso dos homossexuais do Rio de Janeiro nos anos 30 do século passado, quando serviram de objeto de estudo para o livro “Homossexualismo e Endocrinologia” (Leonidio Ribeiro, 1938). Essas técnicas foram atualizadas com a nova lógica de dados e algoritmos computacionais, incluindo projetos que visam identificar a orientação sexual de pessoas com base em análises biométricas e algorítmicas. A noção de “dados” tem um duplo sentido: de um lado, refere-se aos dados, isto é, ao fenômeno da “informatização da sexualidade”. Por outro lado, “dados” refere-se ao tempo. Segundo Felipe, essas tecnologias de poder vão além do tempo e forçam o ativismo a pensar sobre a temporalidade das lutas. Daí surge a sua proposta de um ” Retrofuturismo Queer “, como uma metodologia para abordar esses problemas do ativismo atual diante das tecnologias do poder. “Retrofuturismo Queer” pretende projetar o futuro do poder e das lutas maricas, através de um olhar sobre o passado de enfrentamentos e experiências de violência.

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GALERIA DE FOTOS 1 (navegue pelas setas na horizontal)
Programa de residências, encontros, conversas, seminários, oficinas, etc.
Fotos: Frederico Pellachin

GALERIA DE FOTOS 2 (navegue pelas setas na horizontal)
Noite Estranha: Cuidado, Convivência, Agência
Fotos: Denise Adams

GALERIA DE FOTOS 3 (navegue pelas setas na horizontal)
Exposição “Dissenso e Destruição”
Fotos: Denise Adams e Frederico Pellachin

ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA – ANO III (2017)

Concepção e direção do projeto
Consuelo Bassanesi

Concepção e desenvolvimento do tema
Consuelo Bassanesi e Guilherme Altmayer

Interlocução Curatorial
Bernardo José de Souza, Guilherme Altmayer, Guilherme Marcondes e Leno Veras

Produção, Comunicação e Documentação
Frederico Pellachin

Gestão Financeira e Jurídica
Clarice Goulart Correa

Assistente de Produção
Pablo Ferretti

Comitê de Seleção (Programa de Residências)
Consuelo Bassanesi, Bernardo José de Souza, Pablo León de la Barra

Noite Estranha (Equipe Curatorial)
Sabine Passareli, Marta Supernova, Clarissa Ribeiro, Lorran Dias

Logomarca e Design Gráfico (publicação)
Pablo Ugá

Fotos (Exposição e Noite Estranha)
Denise Adams

Agradecimentos
Aldo Victorio Filho, Alexandre R. de Oliveira, Alexandre Sá, Bertan Selim, Coletivo Corpo-Terra, Denise Espirito Santo, Luciana Ramos-Silva, Renata Codagan, PUC-RJ, Prince Claus Fund, Sandra Benites.

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Senado Tomado

Todo mês

SENADO TOMADO é a noite mensal de ateliês abertos da Despina, que combina uma série de eventos, tais como conversas, performances, pocket-shows, mostras de residência e ensaios expositivos, além, é claro, de todos os ateliês do espaço abertos à visitação pública. Acompanhe nos links abaixo todas as edições.

 

 

 

 

Programa de Intercâmbio – British Council

2017 - 2018

British Council selecionou um projeto de colaboração entre a Despina e a Fruitmarket Gallery (localizada em Edimburgo, Reino Unido) para participar do seu Exchange Programme – Programa de Intercâmbio em 2017/2018.

Este programa incentiva a colaboração através da troca de conhecimentos e melhores práticas para o desenvolvimento do setor cultural, fornecendo recursos às instituições para promover a capacitação das equipes de profissionais e aumentar a compreensão intercultural, resultando em parcerias.

British Council buscou candidaturas interessadas no intercâmbio mútuo de profissionais de instituições do Brasil e do Reino Unido, permitindo que os selecionados desenvolvam uma residência com a instituição parceira ou universidade por um período mínimo de duas semanas e máximo de um mês. Foram mais de doze projetos colaborativos contemplados; conheça as demais organizações selecionadas por aqui.

1ª FASE

The Fruitmarket Gallery > Despina

A primeira fase do Programa de Intercâmbio do British Council aconteceu em setembro de 2017, com a chegada de Iain Morrison ao Rio de Janeiro. Iain é gerente de empreendimentos da The Fruitmarket Gallery, responsável pela atividade comercial e pelas ações multi-plataformas da instituição. Durante o período em que esteve no Rio de Janeiro, Iain acompanhou praticamente todas as atividades realizadas pela Despina, em especial o projeto Arte e Ativismo na América Latina, que conta com o suporte do Prince Claus Fund.  Aqui emerge o interesse da The Fruitmarket Gallery em compartilhar as suas experiências na esfera da arte e da política, além de identificar formas com que recebemos públicos marginalizados (migrantes, população LGBT, etc.) e de que maneira respondemos às suas expectativas. Nesse sentido, a vivência de Iain no dia-a-dia da Despina foi de extrema relevância para a sua compreensão do atual contexto político brasileiro, tendo como referência o circuito de arte independente da cidade.

Iain também visitou outras instituições e espaços de arte no Rio de Janeiro, tais como: Museu de Arte Moderna (MAM), Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, ArtRio Feira Internacional – Marina da Glória, Athena Contemporânea, Casa Museu Eva Klabin, Solar dos Abacaxis, Projeto FOZ, Galeria Nara Roesler, Fabrica Behring, A Gentil Carioca, Capacete, Galpão Bela Maré e Carpintaria. Além disso, visitou ateliês de importantes artistas locais – Laura Lima, Cadu, Marcos Chaves, Carlos Zilio – e também participou de encontros com curadores – Pablo Leon de la Barra (MAC), Pablo Lafuente (freelance, previously São Paulo Biennial), Bernardo da Souza (Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre), Ulisses Carrilho (Parque Lage), Luiza Mello (Galpão Bela Maré) e  Julia Baker (MAR).

Na sua última semana no Rio, aconteceu uma noite especial de conversas na Despina, que também contou com a participação do curador Victor Gorgulho e do artista Cristiano Lenhardt.  Durante o evento, Iain apresentou as ações da The Fruitmarket Gallery para o público e compartilhou a sua experiência na organização de eventos ao vivo que ocorrem em torno dos projetos expositivos da instituição. Também falou sobre o seu interesse particular no nosso projeto Arte e Ativismo na América Latina, bem como sobre a sua experiência no Programa de Intercâmbio do British Council. Ao final, recitou um poema. Vale destacar que Iain também é músico e poeta; atualmente está escrevendo uma série inspirada em conversas realizadas em galerias de arte e que responde à maneira como nos agrupamos e aprendemos através da participação na vida de um espaço. Este projeto faz parte de uma residência que ele participa na Galeria John Hansard, da Universidade de Southampton, no Reino Unido.

Galeria de Fotos (navegue pelas setas na horizontal)

2ª FASE

Despina > The Fruitmarket Gallery

A segunda fase do Programa de Intercâmbio do British Council aconteceu em dezembro de 2017 com a visita da diretora artística e de projetos da Despina, Consuelo Bassanesi, à The Fruitmarket Gallery, localizada em Edimburgo (Reino Unido). A participação da Despina nesse intercâmbio priorizou duas frentes de interesse: (1) imersão no funcionamento e conceito da The Fruitmarket Gallery, com conversas sobre parcerias possíveis e (2) entendimento da cena cultural e artística escocesa, especialmente relacionada a espaços independentes ou geridos por artistas. Uma serie de visitas a espaços independentes, galerias e instituições foi realizada durante a estadia em Edimburgo. Além dessa agenda de visitas, foi central acompanhar o dia-a-dia e a dinâmica da The Fruitmarket Gallery.

As trocas e os encontros são importantes para a Despina e têm sua força justamente na rede que se cria, nas pontes entre lugares e iniciativas que permanecem como possíveis parceiros e colaboradores para além do tempo de intercâmbio. Muito se realiza em rede nesse meio independente e ampliar conexões é essencial.

Galeria de fotos (navegue pelas setas na horizontal)

Arte e Ativismo na América Latina – ano II (2017)

Ano II - 2017

ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA é um projeto da Despina, realizado em parceria com a organização holandesa Prince Claus Fund, que se estende por três anos (2016, 2017 e 2018). A cada ano, um tema norteia uma série de ações que incluem ocupações, oficinas, conversas, projeções de filmes, exposições, encontros públicos com nomes importantes do pensamento artístico contemporâneo e um programa de residências artísticas. Nesta segunda edição (2017), o tema escolhido foi Corpo.

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Apresentação do tema
por Bernardo José de Souza e Consuelo Bassanesi

I
A um só tempo, o corpo constitui a instância essencial de nosso vínculo com a natureza e a possibilidade mesma de transcendê-la, avançando assim rumo àquilo que as civilizações ocidentais entendem por esfera cultural ou segunda natureza. Por outro lado, este mesmo corpo (que fique claro, corpo = corpo + mente) está sempre a relembrar-nos de sua condição orgânica e perecível, muito embora nossa inteligência e capacidade de superação dos limites impostos pela biologia nos tenham levado a investi-lo tanto de qualidades simbólicas e de predicados políticos e morais, quanto de atributos externos à sua constituição primeira, quais sejam, um conjunto de tecnologias que parecem emancipar-nos – vale dizer, apenas parcialmente – de nossa inafastável natureza animal.

Ao longo da história, inscreveram-se nos corpos e suas biografias as marcas das tantas e sucessivas batalhas entre o homem e a natureza e entre o homem e o próprio homem. Mas a esta unidade básica de contato com o mundo, sucederam outras formas de articulação da espécie humana, estruturas avançadas na relação dos homens entre si, e deles com o ambiente no qual lograram desenvolver-se: bandos, tribos, sociedades e civilizações emergiram para conformar um corpo maior, capaz de fazer face ao conjunto de desafios impostos pelo medo e pelo risco da morte e da extinção.

Eis que à certa altura do processo civilizatório, o homem entendeu que poderia submeter outros homens ao seu próprio jugo através da força e do Estado, estabelecendo a partir de então relações desiguais de poder que não mais seriam afastadas do curso de nossa trajetória sobre o planeta. Na esteira dessas “conquistas”, muitos foram os povos, as raças, os gêneros e as culturas a serem subjugadas por certos grupos no afã de alcançarem as instâncias máximas de poder. E assim chegamos ao estágio atual, quando a arquitetura das relações humanas desobedece às leis da civilidade supostamente alcançada, ora nos remetendo, em ritmo de retrocesso, ao tempo em que vivíamos como povos bárbaros, submetidos à lei do mais forte, ora nos capturando nas solertes e insidiosas instâncias do biopoder.

II
O corpo foi domesticado. Cultura, religião, moral, política, sucessivas colonizações, gênero-normatizações, prisões e manicômios, psiquiatria, moda, medicina plástica, maquiagens virtuais e perfumarias afins, há muito vem determinando como o corpo deveria ser ou se comportar. Este corpo, via de regra, se apresenta como macho, branco, ocidental, produtivo, reprodutivo, são, eficiente, higienizado. E é esse mesmo corpo que produz – e a partir dele que são construídas – as narrativas históricas totalizantes. Os demais corpos são inferiorizados, reprimidos, marginalizados, criminalizados. Poucos são os que nascem nesse corpo ideal, muitos outros tentam nele se encaixar, e há, ainda, aqueles que expõem seus corpos não convencionais de maneira frontal, aberta e radical.

Diante de um mundo em que moralismo e política estão cada vez mais vinculados, o que propomos é lançar luz sobre esses corpos radicais: o corpo negro, queer, transgressor, político, feminista, libertário, sujo, dissidente, amoral, pervertido, modificado, não binário. Corpos que são potentes e afirmativos. Corpos que resistem.

Procuramos por corpos e mentes rebeldes que, ao não se sujeitarem aos dispositivos de dominação construídos ao longo da história, carreguem uma força dinâmica e contestadora capaz de abalar, através de micropolíticas de resistência, as estruturas consolidadas de controle e subordinação. Procuramos por corpos-sujeitos para que novas narrativas – mais democráticas, transgressoras e multiculturais – sejam assim difundidas, amplificadas e, portanto, ouvidas.

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Esta segunda edição do projeto Arte e Ativismo na América Latina teve início em maio de 2017, com uma primeira ação de ocupação intitulada “Corpo Presente”, que contou com a participação dxs artistas brasileirxs Lyz Parayzo e Rafael Bqueer. Em seguida, no final de junho, abrimos a exposição “Os corpos são as obras” – com curadoria de Guilherme Altmayer e Pablo León de la Barra -, que reuniu mais de 30 artistas e coletivos, além de uma programação extensa de oficinas, performances e cine clubes. Em agosto, começou a residência dos artistas selecionados para essa edição: Carlos Martiel (Cuba), Cristiano Lenhardt (Brasil) e Mariela Scafatri (Argentina). Durante dois meses, a ideia foi trabalhar em uma variedade de modos informais de educação, como oficinas, seminários, visitas a escolas / universidades, ações performáticas e uma exposição. Além disso, uma série de eventos públicos aconteceu simultaneamente ao período da residência, com a participação da escritora e performer Jota Mombaça, da jornalista e ativista Marta Dillon, entre outros artistas e coletivos locais. Os custos de participação dos artistas residentes e convidadxs foram totalmente cobertos pelo Prince Claus Fund como parte de seu Network Partnership Programme, do qual Despina faz parte.

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PROGRAMAÇÃO

MAIO E JUNHO

2 maio a 30 de junho
Corpo Presente – ocupação dxs artistas Lyz Parayzo e Rafael Bqueer.

27 de junho / 19h
Abertura da exposição: “Os corpos são as obras”. Curadoria: Pablo Leon de La Barra e Guilherme Altmayer. Com obras e registros de: Andiara Ramos, Ana Matheus Abbade, Anitta Boa Vida, Biancka Fernandes, Bruna Kury, Camila Puni, Carlos Motta, CasaNem, Coletivo Xica Manicongo, Eduardo Kac, Evelyn Gutierrez, Fabiana Faleiros, Fabio Coelho, FROZEN2000, Gabriel Junqueira,  Indianare Siqueira, Katia Flávia, Kleper Reis, Lampião da Esquina, Luana Muniz, Lyz Parayzo, Maurício Magagnin, Mayara Velozo, Matheusa Passareli, Nathalia Gonçales, Odaraya Mello, Raquel Mützenberg, Ricardo Càstro, Tertuliana Lustosa, Turma Ok, Uhura Bqueer, Vagner Coelho, Ventura Profana & Jhonatta Vicente, Victor Arruda, Vinicius Rosa, Vítor Franco, Wescla Vasconcellos e Xanayanna Relux. Mais informações, por aqui.

JULHO

01 de julho / 10.30h
Oficina com princípios básicos de autodefesa a partir da técnica tailandesa Muay Thai. Com os mestres Vagner Coelho e Fabio Coelho (programação parte da exposição “Os corpos são as obras”).

04 de julho / 16h
Performance: “Maiêutica”, com Raquel Mützenberg, no Largo de São Francisco. Subjetividades femininas: sobre a capacidade de renascer, de se re-parir (programação parte da exposição “Os corpos são as obras”).

04 de julho / 19.30h
Pós-pornografia: Cine Clube Despina. Curadoria de Andiara Ramos, Nathalia Gonçales e debate-papo com Kleper Reis e Érica Sarmet (programação parte da exposição “Os corpos são as obras”).

25 de julho / 19h
Noite dos corpos nus: naturismo. Cine Clube Despina exibe “A Nativa Solitária”, sobre Luz del Fuego, com Guilherme Altmayer. Fuxicu e ioga do cu, liberdade radical com Kleper Reis (programação parte da exposição “Os corpos são as obras”).

27 de julho / 19h

NAVALHA: Manicure show com Ana Matheus Abbade, Uhura BQueer, Vinicius Pinto Rosa,Ventura Profana & Jhonatta Vicente, Frozen 2000, Gabriel Junqueira, Ricardo Càstro (programação parte da exposição “Os corpos são as obras”).
AGOSTO E SETEMBRO

01 de agosto a 30 de setembro
Residência dos artistas selecionados para esta edição: Carlos Martiel (Cuba), Cristiano Lenhardt (Recife, Brasil) e Mariela Scafati (Argentina).

04 de agosto / 20h
Encerramento da exposição “Os corpos são as obras”: encontro com artistas e marcha para o “Turma OK”  – noite de bingo e show com os melhores da casa em homenagem a Luana Muniz.

08 de agosto / 19h
“Desmontando a caravela queer na vida após a morte do colonialismo”.
Fala pública com Jota Mombaça.

O contexto particular de emergência de um cânone queer no Brasil não pode ser pensado fora de uma analítica da colonialidade do saber, que evidencie o que a pensadora, performer e ativista chilena Hija de Perra certa vez descreveu como um efeito simultaneamente colonizador de “nosso contexto sudaca, pobre de aspirações e terceiro-mundista”, mas que perturba “os sujeitos encantados pela heteronorma”. Se queer coloniza perturbando, é porque adere ao processo histórico no qual as bases do projeto corpo-político da colonialidade, que predica a universalidade do sujeito eurobranco heteronormal (seu saber, sua política, sua performance e sua ontologia), colapsa. Mas qual o sentido das perturbações queer no contexto sempre já colonizado do mundo que conhecemos como Brasil (ex-colônia? Neo-colônia? Pós-colônia?), e em que medida, ao proliferar-se globalmente, os cânones queer não reestruturam a lógica das caravelas coloniais, servindo de suporte e plano de inscrição dos fantasmas do colonialismo no presente imediato do colapso da colônia? Como performar e pensar as desobediências de gênero e dissidências sexuais sem reestruturar lógicas elitistas que reencenem a situação colonial? Como desmontar a caravela queer? E como fazer vir as corpo-políticas mais-que-coloniais capazes de ultrapassar a vida após a morte do colonialismo e as supremacias branca, hétero e cisgênera rumo a outras formas de existir e de fazer mundo?

Jota Mombaça é uma bicha não binária, nascida e criada no Nordeste do Brasil, que escreve, performa e faz estudos acadêmicos em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, estudos kuir, giros descoloniais, interseccionalidade política, justiça anti-colonial, redistribuição da violência, ficção visionária e tensões entre ética, estética, arte e política nas produções de conhecimentos do sul-do-sul globalizado. Trabalhos atuais são a colaboração com Oficina de Imaginação Política (São Paulo) e a residência artística junto ao Capacete 2017 na Documenta 14 (Atenas/Kassel).

15 de agosto / 19h
“Tornar-se um corpo”
Fala pública com Marta Dillon.

Nas histórias feministas, a experiência não é suficiente para forjar uma voz. É necessário também um corpo, que é feito de sangue e lágrimas, fezes e babas, músculo, pele, maquiagem. Um corpo como o que possuímos. Todos os dias e em todos os lugares. Sustentamos esse corpo com palavras, o erguemos, o adornamos com acessórios e tatuagens; envolvemos esse corpo em coisas escolhidas a dedo e o levamos às ruas. Sem nunca esquecer de que há sangue correndo ali. Sim, somos feministas. Nós dispomos esse corpo para transformá-lo em algo nosso, que goze seus próprios gozos, que inscreva o tempo ao seu ritmo, que se expanda e se contraia de acordo com seu desejo. Porque nossos corpos são escritos antes mesmo que possamos vivenciá-los. É sobre essa superfície tangível que regras são cunhadas por outros para o seu funcionamento adequado: que não tenha cheiro, que tenha apenas algumas partes destacadas, que seja limpo, que procrie, que abrigue e cuide. E se não, o quê? Se não, abjeção: prostitutas, lésbicas, feminazis, gordas, estéreis, péssimas mães. A fala “Tornar-se um corpo” percorre desde os corpos desaparecidos pela ditadura até a criação do corpo coletivo nas manifestações feministas que permitem outras formas de ser e estar no mundo.

Marta Dillon é uma jornalista e ativista que vive e trabalha em Buenos Aires, Argentina. Dirige o suplemento feminista Las12, no jornal Página12 e é participante ativa dos coletivos Ni Una Menos e Emergentes – comunicación y acción. Publicou os seguintes livros: Aparecida(2015), Vivir con virus (2004 e 2016) e Corazones Cautivos (2008). Marta também escreve roteiros para filmes de ficção e documentários. Atualmente está filmando o documentário La Línea 137.

22 de agosto / 19h
Conversa pública com os artistas em residência Carlos Martiel, Cristiano Lenhardt e Mariela Scafati + performance “Lamento Kayapó”, com o artista cubano Carlos Martiel na Despina.

26 agosto e 2 setembro
Circuitos de falas, escutas e trocas. Programação completa e horários, por aqui.

13 de setembro / 17h às 20h
“QueerCuirKuir” – Workshop público de serigrafia com a artista em residência Mariela Scafati.

14 de setembro / 19h
Cine Clube Despina especial com curadoria do Cinema KUIR.

21 de setembro / 19h
Abertura da exposição “Este mesmo corpo”. Mais informações, por aqui.

26 de setembro / 11 h
“Bala Perdida”,
performance com o artista cubano Carlos Martiel nas ruas do centro do Rio de Janeiro.

26 de setembro / 19 h

“Imagens Insubordináveis”. Conversa pública com o artista Cristiano Lenhardt e o curador Victor Gorgulho.

OUTUBRO

19 Outubro / 19h
Cine Clube Despina especial com curadoria do Cinema KUIR.

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SOBRE OS ARTISTAS EM RESIDÊNCIA

carlos_martielCarlos Martiel nasceu em Havana, Cuba, em 1989. Vive e trabalha entre Nova York e Havana. Graduou-se em 2009 pela Academia Nacional de Belas Artes “San Alejandro”, em Havana. Entre os anos 2008-2010, estudou na Cátedra Arte de Conducta, dirigida pela artista cubana Tania Bruguera. Martiel é conhecido por suas ações performáticas viscerais que expõem críticas sobre questões contemporâneas associadas ao seu país de origem e ao resto do mundo. Seu trabalho aborda temas relacionados à injustiça, repressão, discriminação, censura e imigração. Martiel usa seu corpo como um espaço para o discurso, refletindo sobre as relações de poder e o contexto social.

As suas obras foram incluídas na 57ª Bienal de Veneza, na Itália; Bienal de Casablanca, no Marrocos; Bienal “La Otra”, em Bogotá, Colômbia; Bienal de Liverpool, no Reino Unido; Bienal de Pontevedra, em Galiza, Espanha e Bienal de Havana, em Cuba. Já realizou performances no Walker Art Center, Minneapolis, EUA; no Museu de Belas Artes de Houston (MFAH), EUA; no Museu de Arte Contemporânea de Zulia (MACZUL) em Maracaibo, Venezuela; na Padiglione d’Arte Contemporanea, em Milão, Itália; na Robert Miller Gallery, em Nova York, EUA; no Museu Nitsch, em Nápoles, Itália. Também foi contemplado com vários prêmios, incluindo o “Franklin Furnace Fund” em Nova York, EUA, 2016; “Prêmio CIFOS Grants & Commissions Program” em Miami, EUA, 2014; “Arte Laguna” em Veneza, Itália, 2013. Seu trabalho já foi exibido no Museu de Arte Latino-Americana (MOLAA), Long Beach, EUA; Zisa Zona Arti Contemporanee (ZAC), Palermo, Itália; Patricia e Phillip Frost Art Museum, Miami, EUA; Benaki Museum, Atenas, Grécia; Museu Nacional de Belas Artes, Havana, Cuba; Museu Tornielli, Ameno, Itália; Museu Estoniano de Arte e Design, Tallinn, Estônia; Museu de Arte Moderna de Buenos Aires, Argentina; entre outros.

 

mariela_scaMariela Scafati nasceu em 1973, em Olivos, Argentina. Vive e trabalha em Buenos Aires. Estudou Artes Visuais na E.S.A.V. Bahia Blanca e participou das oficinas de Tulio de Sagastizábal, Pablo Suárez e Guillermo Kuitca. Considerada uma das mais importantes artistas argentinas de sua geração, seu trabalho faz parte de coleções importantes, como a coleção permanente do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires). Desde 2010, Scafati é uma agente da C.I.A – Centro de Investigação Artística. Scafati também tem participado de vários projetos coletivos e colaborativos ligados à serigrafia, educação, rádio e teatro.

Em 2002, ela co-fundou a T.P.S. * – “Taller Popular Serigrafía”. Desde 2007, ela é membro de “Serigrafistas Queer” **. Fez parte da equipe da Galeria Belleza y Felicidad, foi fundadora do Proyecto Secundario Liliana Maresca, na Escuela Secundaria Nº349 Artes Visuales, Fiorito, Lomas  de Zamora. Também coordenou uma oficina de serigrafia para a Cooperativa y Editorial Eloísa Cartonera e participou de várias intervenções da “Brigada Argentina por Dilma”, com Roberto Jacoby, na Bienal de São Paulo em 2009.

Em 1998, ela participou da exposição coletiva “Três Paredes”. Em 2000, realizou sua primeira exposição individual “Pinturas e parede.” Em seguida, “Show Me Your Pink (2001)” na Galeria Bis, Rosario, Santa Fé; “He venido para decirte que me voy” (2001); “Mariam Traoré” (2004) e “Scafati, un cuadro” (2005), todas na Galeria Belleza y Felicidad, Buenos Aires; “Pintura gustosa” (2001), na Casona de Los Olivera, Buenos Aires; “Sos un sueño” (2009), na Galeria Abate, Buenos Aires; “¡Teléfono! en diálogo con Lidy Prati” (2009), no CCBorges, Buenos Aires; “Windows” (2011), na Galeria Abate, Buenos Aires; “Ni verdaderas ni falsas” (2013), no Instituto de Investigaciones Gino Germani, Buenos Aires; “Pinturas donde estoy 1998-2013”, na CCRecoleta, Buenos Aires;  “Las palabras vienen después” (2014) na Maria Casado Home Gallery, Buenos Aires e “Las cosas amantes” (2015), junto com Ariadna Pastorini, na Galeria Isla Flotante, Buenos Aires. Ainda este ano, a artista vai apresentar um projeto individual na Art Basel, em Miami (EUA).

Entre as suas experiências ligadas ao teatro, estão as séries Kamishibai, Yotiteretú e uma companhia de fantoches com Fernanda Laguna; além de seu trabalho como cenografista para os biodramas dirigidos por Vivi Tellas, no Museo de la paloma y Las personas, com os funcionários do Teatro San Martin (2014).

* A “Taller Popular Serigrafía” (TPS) funcionou em Buenos Aires entre 2002 e 2007. Foi fundada por Scafati e outros artistas em uma das muitas assembleias populares que surgiram a partir da insurreição popular de dezembro de 2001. A partir desse momento, o coletivo passou a intervir no contexto dos movimentos sociais, diretamente na rua, com o objetivo de socializar o processo de produção gráfica, produzindo todos os tipos de vestuário com imagens relacionadas ao clima político de cada evento.

** “Serigrafistas Queer” (SQ), auto-intitulado como um “não-grupo”, nasceu em 2007. O coletivo tem sediado reuniões periódicas em que são pensados e discutidos slogans e screenprints e stencils são montados em varias formatos de impressão para serem usados na Parada do Orgulho LGBT, que é realizada anualmente em diferentes cidades da Argentina. Os materiais produzidos são mantidos e re-utilizados livremente em outras acções.

 

cris_lenhardtCristiano Lenhardt nasceu em Itaara (Rio Grande do Sul) em 1975. Vive e trabalha em Recife, Pernambuco. Formado em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Santa Maria (1996-2000), participou da Orientação Artística Torreão, em Porto Alegre, de 2001 a 2003. Dentre as exposições individuais que participou, destaque para “O habitante do plano para fora” (2015) e “Litomorfose” (2014), na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo; “Matéria Superordiária Abundante” (2014) e “Planalto” (2013), na Galeria Amparo 60, em Recife; Bienal Naifs do Brasil (2016); 32ª Bienal de São Paulo (2016); “Cruzamentos”, Wexner Center for the Arts, Ohio/EUA (2014); Rumos Visuais Itaú Cultural, São Paulo (2012) e Mythologies – Cité Internationale des Arts, Paris (2011).

Recebeu diversos prêmios nacionais, dentre eles: Bolsa Iberê Camargo – Programa de Artistas Universidad Torcuato Di tella, Buenos Aires, 2011; Prêmio Projéteis da Arte Contemporânea, Funarte, Rio de Janeiro (2008); Prêmio Concurso Videoarte, Fundação Joaquim Nabuco, Recife (2007); SPA das Artes, Recife (2007 e 2004); Bolsa Prêmio do 26º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco (2006), entre outros. Também participou de residências artísticas em importantes espaços e instituições como Phosphorus, em São Paulo (2013); Gasworks, em Londres, Reino Unido (2013) e Made in Mirrors Foundation, em Guangzhou, China (2011).

Cristiano tece sua prática artística como um jogo ilusório entre o plano bidimensional e o espaço tridimensional. A partir de vídeos, performances, observações, fotografias, desenhos e gravuras, o artista busca na realidade ordinária e mundana ferramentas para construir uma obra que acontece por atração e transformação dos materiais e símbolos.

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GALERIA DE FOTOS (navegue pelas setas na horizontal)
por Denise Adams, Frederico Pellachin e Raquel Romero-Faz

ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA – ANO II (2017)

Concepção e direção do projeto
Consuelo Bassanesi

Concepção e desenvolvimento do tema
Consuelo Bassanesi e Bernardo José de Souza

Interlocução Curatorial
Bernardo José de Souza e Pablo León de la Barra

Produção, Comunicação e Documentação
Frederico Pellachin

Gestão Financeira e Jurídica
Clarice Goulart Correa

Assistente de Produção
Pablo Ferretti

Comitê de Seleção (Programa de Residências)
Consuelo Bassanesi, Bernardo José de Souza e Pablo León de la Barra

Logomarca e Design Gráfico (publicação)
Pablo Ugá

Fotos (performances e aberturas)
Denise Adams, Vinícius Nascimento e Raquel Romero-Faz.

“Os corpos são as obras” (curadores)
Guilherme Altmayer e Pablo León de la Barra

Agradecimentos
Alexandre Rodolfo de Oliveira, Alexandre Sá, Ana Matheus Abbade, Bertan Selim, Bianca Bernardo, Eduardo Montelli, Laura Lima, Marcelo Velloso, Prince Claus Fund, Raphael Fonseca.

 

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Arte e Ativismo na América Latina – ano I (2016)

Ano I - 2016

ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA é um projeto da Despina, realizado em parceria com a organização holandesa Prince Claus Fund, que se estende por três anos (2016, 2017 e 2018). A cada ano, um tema norteia uma série de ações que incluem ocupações, oficinas, conversas, projeções de filmes, exposições, encontros públicos com nomes importantes do pensamento artístico contemporâneo e um programa de residências artísticas. Nesta primeira edição (2016), o tema escolhido foi Espaço Público.

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Apresentação do tema
por Bernardo José de Souza e Consuelo Bassanesi

Os protestos “Anti-Mubarak” na Praça Tahrir, no Egito, os “Indignados” na Puerta del Sol, em Madri, o “Occupy Wall Street” no Liberty Plaza, em Nova Iorque, o “Protesto da Praça da Paz Celestial”, na Praça Tiananmen, em Pequim, as “Mães da Praça de Maio”, em Buenos Aires, o “Ocupa Cabral”, nas cercanias da casa do então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral – a importância dos espaços públicos para mobilizações políticas não é um fenômeno recente e toma diferentes formatos, mas é sempre na rua que os movimentos sociais tomam forma e ganham peso.

Para além disso, muitos dos direitos humanos, como liberdade de expressão, de reunião, de informação e de movimento, assim como o direito ao descanso e ao lazer, dependem da disponibilidade de espaço público físico. Sua ausência, assim como seu controle, são danosos e restringem as liberdades civis.

A noção de espaço público – enquanto aquele de uso comum e posse de todos – sofreu diversas construções e restrições ao longo dos séculos. A privatização e normatização dos espaços faz com que nem todo espaço “publico” seja de uso “do público”, e que estes espaços não sejam acessados de forma igualitária por todos os corpos nem por todas as pautas. Em teoria espaços comunitários e de cidadania, inclusivos e diversos; na prática os espaços públicos são cada vez mais controlados em seu uso, em nome de alguma posse, ordem, lei, códigos de conduta.

Manifestações políticas em espaços públicos não raramente no Brasil, na América Latina e internacionalmente, terminam com violência policial e criminalização dos manifestantes, vide o caso dos 23 ativistas brasileiros presos na véspera da Copa do Mundo no Brasil e posteriormente condenados por formação de quadrilha e por planejar protestos.

Nesta primeira edição, o tema do projeto Arte e Ativismo na América Latina girou em torno das diversas noções de espaço público, real ou virtual: como uma arena política onde debates, protestos e demandas emergem e ganham forma; como o ambiente onde diferentes culturas e classes sociais co-existem e colidem; como uma zona livre para lazer e expressão criativa; como o lugar onde as crenças pessoais e coletivas podem ser expressas e ouvidas pelas massas; como um espaço onde o conhecimento e a informação podem ser trocados; como um domínio onde os direitos civis e individuais são submetidos às sociedades disciplinar e de controle; ou mesmo como um território para a resistência cultural, no qual as comunidades devem ter acesso aos meios e infra-estrutura para o auto-desenvolvimento e auto-organização.

Buscamos promover um debate aprofundado sobre o tema e desenvolver uma série de ações públicas que buscassem desafiar a própria compreensão e uso do espaço público, convidando artistas e ativistas cujas práticas estão situadas nas fronteiras entre arte e política. Igualmente, nos interessamos por práticas que desafiam o papel das instituições políticas e culturais, no que tange à subversão da ideia da obra de arte como necessariamente uma construção da cultura material destinada a durar e para ser exibida em espaços de arte formais, destruindo a fronteira entre o dentro e o fora e buscando nas ruas o entendimento da relevância e das limitações dos espaços públicos.

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Os artistas selecionados para participar da residência em setembro e outubro de 2016 foram Crack Rodriguez (El Salvador), Jesus Bubu Negrón (Porto Rico) e Luciana Magno (Brasil). Durante esse período, a ideia foi trabalhar em uma variedade de modos informais de educação, como oficinas, palestras públicas, visitas a escolas / universidades e uma exposição. Além disso, uma série de eventos públicos aconteceu simultaneamente ao período da residência, com a participação de Tania Bruguera, Pablo León de la Barra, Roberto Jacoby e Suely Rolnik.

Os custos de participação dos artistas e convidados foram totalmente cobertos pelo Prince Claus Fund como parte de seu Network Partnership Programme, do qual Despina faz parte.

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PROGRAMAÇÃO

16 de setembro (20hs)
Conversa com a psicanalista e crítica cultural SUELY ROLNIK (disponível no vídeo a seguir)

29 de setembro (20hs)
Conversa com o artista argentino ROBERTO JACOBY

de 17 a 21 de outubro
Oficinas gratuitas coordenadas pelos artistas em residência

21 de outubro (18hs)
Conferência ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA na Casa França-Brasil
(em parceria com o Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ)

18 de outubro (20hs)
Videoconferência com a artista cubana TANIA BRUGUERA (mediação do curador Pablo León de la Barra)

28 de outubro (19hs)
Abertura da exposição “No Calor da Batalha!” com obras dos artistas CRACK RODRIGUEZ, LUCIANA MAGNO e JESUS BUBU NEGRÓN. Clique aqui para mais informações

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SOBRE OS ARTISTAS EM RESIDÊNCIA

Crack Rodriguez (1980) vive e trabalha em San Salvador, El Salvador. A sua prática e suas ações estão intimamente relacionadas com o contexto social e com a cultura popular, por onde ele constrói laços fortes com o público, que muitas vezes se torna elemento ativo e catalisador de suas obras no âmbito público.

É membro da “The Fire Theory”, em San Salvador. Em 2014, foi indicado ao prêmio “Emerging Artists Grant MISOL” – Fundação MISOL, Bogotá, Colômbia. Já foi membro da Summer Akademy Paul Klee (curadoria: Hassan Khan), em Berna, Suíça. Tem participado de várias exposições e projetos coletivos, entre eles: “Curating Agency” e “Agency for Spiritual Guest Work”, com curadoria de Anne Marca Galvez; “From the Tangible to the Intangible”, 4th Edition Nomadic Centro de Arte Contemporânea “Tropical Interzone” e “The Virtual Residency Programme”, em Zurique, Suíça; “Relocating SAL”, com curadoria de Claire Breukel e Lucas Arevalo, na Ernst Hilger Gallery, em Viena, Áustria; “Peripheral Spectacular”, com curadoria de Eder Castillo, na Cidade do México e “Poporopo Project”, na Cidade da Guatemala e la-embajada.org.; “Documenting Memory”, Art Center / South Florida (EUA); Performance Festival – acciones en el espacio publico, em Tegucigalpa, Honduras; “Landings 5”, Art Museum of the Americas, em Washington (EUA); “Landings 6 and 7”, Haydee Santamaria Gallery, Casa de las Americas, em Havana, Cuba; “Landings 8”, Taipei Fine Arts Museum, em Taipei, Taiwan. Exposições e projetos individuais incluem: “Circunstancias de los restos”, Lokkus Arte Contemporáneo, em Medellin, Colombia; “Neutropolitan Attack” Arts Festival Eclética, FEA, em El Salvador.

Mais informações
http://thefiretheory.org/crackrodriguez/

 

Jesus Bubu Negrón (1975) vive e trabalha em San Juan, Porto Rico. Seu trabalho é caracterizado por intervenções mínimas, pela recontextualização de objetos do cotidiano e por uma aproximação relacional com a produção artística como uma ação reveladora de proporções históricas, sociais e econômicas. Negrón vive no bairro de Puerta de Tierra, na capital de Porto Rico, San Juan, onde é parte da Brigada PDT, uma organização comunitária voltada para a preservação e bem-estar do bairro, da sua história e do seu povo.

Após a conclusão da sua primeira residência artística na M & M Proyectos em 2002, em Porto Rico, o trabalho de Negrón passou a circular em galerias e instituições ao redor do mundo,  em exposições individuais  e coletivas. Algumas de suas colaborações mais notáveis ​​incluem: Abubuya Km0 project, organizado pela Kiosko Galeria, Bolívia; The Obscenity of theJungle, em parceria com Proyectos Ultravioleta para a SWAB Barcelona, Espanha (2013); 1ª Bienal Tropical, em Puerto Rico (2011), onde foi premiado com o “Abacaxi de Ouro” – melhor artista; Interpretation of the Sonetode las estrella (curadoria: Taiyana Pimentel), na Sala de Arte Público Siqueiros, Mexico (2013); Trienal Poligráfica (curadoria: Adriano Pedrosa, Julieta González e Jens Hoffmann), em Puerto Rico (2009); Sharjah Biennial (curadoria: Mohammed Kazem, Eva Scharrer e Jonathan Watkins), em Sharjah, Emirados Árabes Unidos (2007); Whitney Biennial (curadoria: Chrissie Iles e Phillipe Vergne), em Nova York (2006);  T1 Torino Trienale (curadoria: Francesco Bonami e Carolyn Christov–Bakargiev), Itália (2005) e Tropical Abstraction (curadoria: Ross Gortzak), no Museu Steidelijk Bureau, em Amsterdam (2005).

Seu trabalho tem sido mencionado em grandes publicações como o Flash Art, New York Times, Journal des Arts, LA Times, The Art Newspaper, Art Nexus, Frieze, entre outros.

Mais informações
http://www.jesusbubunegron.com/

 

Luciana Magno (1987) vive e trabalha entre Belém e Fortaleza, Brasil. Graduada em artes visuais e tecnologia da imagem pela Universidade da Amazônia, Belém, e mestre em artes pela Universidade Federal do Pará, na mesma cidade. Trabalha com performance, frequentemente direcionada para fotografia e vídeo, objeto e website. Com uma pesquisa focada no corpo e em ações performáticas, a artista tem se dedicado a questões políticas, sociais e antropológicas, relacionadas ao impacto do desenvolvimento da região amazônica. A integração do corpo à paisagem e ao entorno é um elemento determinante e recorrente no seu trabalho. Suas obras já foram exibidas no Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza (2014); no Arte Pará, Museu de Arte do Estado do Pará, Belém (2014), onde foi artista premiada e no Museu de Arte do Rio de Janeiro (2013). Foi ganhadora da 10ª edição do Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais com o projeto “Telefone Sem Fio”, que cruzou o país do Oiapoque ao Chuí por rodovias e hidrovias, a partir do qual se constituiu um arquivo de vídeo e áudio acerca da diversidade cultural, histórica e geográfica do Brasil.

Mais informações
http://www.lucianamagno.com

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GALERIA DE FOTOS (Navegue pelas setas na horizontal)
Fotos: Frederico Pellachin, Consuelo Bassanesi e Thiago Pozes

 


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ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA – ANO I (2016)

Concepção e direção do projeto
Consuelo Bassanesi

Concepção e desenvolvimento do tema
Consuelo Bassanesi e Bernardo José de Souza

Interlocução Curatorial
Bernardo José de Souza e Pablo León de la Barra

Produção, Comunicação e Documentação
Frederico Pellachin

Assessoria de Imprensa
Rafael Millon

Gestão Financeira e Jurídica
Clarice Goulart Correa

Assistente de Produção
Pablo Ferretti

Comitê de Seleção (Programa de Residências)
Consuelo Bassanesi, Bernardo José de Souza e Pablo León de la Barra

Logomarca e Design Gráfico (publicação)
Pablo Ugá

Fotos (abertura da exposição)
Thiago Pozes

Agradecimentos
Alexandre Rodolfo de Oliveira, Alexandre Sá, Bernardo Mosqueira, Bertan Selim, Helena Celestino, Leila Lak,  Pablo León de la Barra, Prince Claus Fund.

 

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Programa de Residências Despina + Central Saint Martins, University of the Arts London

Março 2016

Durante o mês de março de 2016, o Programa de Residências Despina realizou um ciclo especial em parceria com a Central Saint Martins, University of the Arts London. Quatro artistas recém formadas foram selecionadas e comissionadas por meio de uma convocatória aberta conduzida pela instituição britânica para participar do nosso programa. Beatrice Vermeir, Carlotta Novella, Helena de Pulford e Sarah Crew ocuparam ateliês na Despina, receberam suporte curatorial e participaram de uma série de atividades, incluindo workshops, conversas e seminários, além de visitas a outros ateliês e espaços culturais.

 

beatrice

Beatrice Vermeir é uma artista, crítica e poeta que vive e trabalha em Londres. É formada em escultura pela Central Saint Martins, University of the Arts London. Em junho de 2015, Beatrice participou de uma residência no Grizedale Arts, em Cumbria, no noroeste inglês, onde desenvolveu um projeto que combinou a história da comida local com a filosofia educacional e experimental de John Ruskin. As atividades desta residência envolveram oficinas de produção de queijo e de um café comunitário de baixo custo, além do cultivo de uma horta. Em novembro do mesmo ano, Beatrice colaborou com o coletivo londrino “Houserules”, participando de um programa de passeios conduzidos por artistas na região de Peckham, em Londres (parte da programação da ArtLicks). Também atuou como diretora e figurinista na produção teatral “‘You Are Me And I Am You ”, que esteve em cartaz durante o último Festival VAULT, em Londres. A sua prática artística é mista e colaborativa e está focada na pesquisa de formas alternativas de organização social, de trabalho e educação.

 

carlota

Carlotta Novella nasceu em Veneza (Itália). Vive e trabalha em Londres (Inglaterra). É graduada em Gestão da Construção, com mestrado em Arquitetura: Cidades e Inovação pela Central Saint Martins, University of the Arts London. O trabalho de Carlotta aborda questões sócio-políticas e culturais contemporâneas através de um olhar espacial, com foco na confluência entre espaços públicos e privados. Um de seus projetos, “Bairros Industriais”, apresentou estratégias urbanas alternativas e intervenções de design para facilitar o trabalho em casa para beneficiários de programas de habitação social. Entusiasta do trabalho colaborativo, a sua prática transita por estruturas temporárias (sócio-espaciais e móveis), desenhos arquitetônicos, oficinas participativas, eventos e performances. Mais informações: http://carlottanovellaworks.com/

 

helena

Helena de Pulford vive e trabalha em Londres (Inglaterra). Graduada pela Central Saint Martins, University of the Arts London, foi contemplada com o Art Cass Prize e selecionada para o programa Acme. A sua prática artística é essencialmente escultórica, mas também incorpora performance, escrita e imagens em movimento. Seu trabalho reinterpreta a história visual europeia por meio de questões que envolvem teorias contemporâneas de gênero. Exposições recentes incluem: 3×3 Collaborations for Art Licks Weekend 12 Orpen Walk, Londres (2015); Supermarket Sweep, Nice Galley, Londres (2015); Degree Show CSM School of Art, Londres (2015); Open Studios, 1 Granary Square, Londres (2014); Talking about Pink Salmon, 1 Granary Square, Londres (2014); Copy, Elthorne Road Project Space, Londres (2014) e Para-Site, Concourse Gallery, Londres (2013).

 

sarah

Sarah Crew é um artista e escritora que vive e trabalha em Bristol (Inglaterra). É mestre em Fotografia pela Central Saint Martins, University of the Arts London. A sua prática transita pela instalação, filme, som e performance ao vivo, e envolve as relações mutáveis, as conexões e os pontos de disjunção entre o humano, o animal e a paisagem. As implicações disso são analisadas por meio da utilização da tecnologia contemporânea, que está incorporada em um ambiente cada vez mais tátil e dualista. Mais informações: www.sarahcrew.com

 

 

 

Durante a residência, as quatro artistas conceberam uma estrutura nos moldes de uma habitação provisória, que permitiu uma espécie de “co-polinização” entre as suas práticas individuais. Este projeto recebeu o nome de  “Trânsito-Rio”  e ganhou um blog – http://transito-rio.weebly.com –, que serviu como plataforma de documentação das experiências e processos vivenciados pelo grupo no Rio de Janeiro.

Também participaram do I Seminário Internacional de Escolas de Arte no Parque Lage, onde puderam compartilharam as experiências dessa residência com o público. E numa parceria entre o MAR – Museu de Arte do Rio e a Despina, a artista Sarah Crew realizou um workshop especial, em colaboração com os educadores do museu. O público presente no espaço foi convidado a construir “guarda-chuvas”, com o objetivo de explorar os cenários desafiadores do século XXI. A estrutura do guarda-chuva tornou-se um objeto para discussões visuais e explorações lúdicas. À medida em que novas paisagens foram adicionadas à estrutura, o guarda-chuva como um todo passou a refletir a curvatura da terra, ressurgindo como um campo criativo para ser investigado a partir de cima. Depois de concluídas, estas esculturas tridimensionais (que a artista nomeou de “brella-scapes”) também assumiram a forma de uma instalação, que foi construída ao longo da atividade.

Ao final da residência, uma mostra especial foi aberta ao público na Despina, apresentando os resultados dessa experiência coletiva. Confira abaixo alguns registros da passagem de Beatrice, Carlotta, Helena e Sarah pelo Rio de Janeiro. E não deixe de ler, em PDF, o texto de Bernardo José de Souza, curador que acompanhou as artistas durante a residência (página 1, página 2).

 

Galeria de Fotos (navegue pelas setas na horizontal e clique na imagem para ampliar)